Na recente entrevista à TV247, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO) Rui Costa Pimenta, ampliou sua análise sobre a conjuntura política brasileira e internacional, abordando desde o exílio de Carla Zambelli até as crescentes tensões políticas e o cenário dos monopólios de tecnologia, as chamadas big techs. Para Pimenta, os eventos recentes sublinham um aprofundamento da repressão política e a contínua submissão do governo aos interesses do capital financeiro.

O exílio de Zambelli e a crítica ao STF

O presidente do PCO defendeu o exílio de Carla Zambelli como uma atitude natural diante do que classificou como “perseguição política”. Segundo Pimenta, qualquer pessoa confrontada com um julgamento que considera imparcial deveria considerar a opção de não se submeter, citando a decisão de Lula em permanecer no Brasil. Ele reforçou que, no Brasil, fugir da prisão não é crime, o que, para ele, “pressupõe que o desejo de liberdade é uma coisa muito importante, fundamental para o ser humano”.

Contudo, a principal preocupação de Pimenta não reside na ação de Zambelli, mas sim no impacto que ela tem sobre o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele argumentou que o exílio “desmoraliza o STF e os julgamentos que estão acontecendo”, citando a repercussão negativa de casos como o de Léo Lins e MC Poze. Para Pimenta, há uma “rejeição a essa censura, à perseguição judicial que está crescendo a cada dia”. Ele também criticou a direção do PT e do governo por não perceberem que a situação é um “Titanic” em rota de colisão.

Sobre as acusações contra Zambelli, Pimenta considerou o hackeamento como crime, mas questionou a condenação por porte ilegal de arma, já que ela possuía o porte, descrevendo-a como uma “criatividade da justiça”. Para ele, nenhuma das ações de Zambelli justificaria uma pena de 10 anos de prisão em um “regime judicial normal”.

O governo Lula: refém do capital e sem mobilização

A análise do governo Lula do presidente do PCO é contundente. Ele afirmou que o governo está “pego numa armadilha política” e “não tem força para sobreviver”, estando “obrigado a fazer favores” ao mercado financeiro. A orientação política do governo, segundo Pimenta, mostra-se “inviável” e representa o “fracasso de toda uma orientação política”.

Apesar de defender a saída de Fernando Haddad do governo, Pimenta enfatizou que a questão não é pessoal, mas a necessidade de uma mudança de política que, para ele, não acontecerá. A esquerda, em sua visão, não tem força para escapar da situação criada, e a “desmobilização popular” promovida pelo próprio governo é um fator crucial. “Nenhum trabalhador vai sair de casa para apoiar um tribunal arbitrário. Nenhum trabalhador vai sair de casa para apoiar censura”, disse.

Pimenta destacou a ausência de programas sociais relevantes e a percepção de que a economia está “indo de mal a pior”, gerando “insatisfação generalizada”. Ele citou um exemplo de um eleitor decepcionado que viu a base do PT na periferia se dividir, com muitos se tornando bolsonaristas.

As pesquisas de desaprovação de Lula, somadas à “fritura” da imprensa, indicam que a burguesia busca reduzir sua popularidade. Para Pimenta, o governo vive em uma “ilusão” e está “indo cegamente para o naufrágio”.

O avanço da direita e a crise do capitalismo global

A direita, embora com divisões internas, está se fortalecendo, especialmente o bolsonarismo, que, segundo Pimenta, tem Jair Bolsonaro como seu único líder popular. As políticas do governo, como a economia de Haddad e a censura, “jogam água no moinho do bolsonarismo”.

Pimenta reiterou que a condenação de Bolsonaro não resolverá o problema e traçou um paralelo com o crescimento da extrema direita na Europa, citando exemplos como o Chega em Portugal, Marine Le Pen na França e a AfD na Alemanha. Ele criticou a esquerda por recorrer à “perseguição judicial” ou a alianças com partidos “falidos”.

A aliança de Lula com Emmanuel Macron em Paris também foi alvo de críticas. Pimenta descreveu Macron como “queimado” e sem popularidade, e viu a aproximação como um “caminho para o desastre”, questionando o que Lula espera de um líder tão impopular.

Perigo da censura nos monopólios digitais

Pimenta alertou que o governo Lula “não ganha nada com o autoritarismo do STF, mas pode perder muito apoiando esse autoritarismo”. Ele enfatizou que a perseguição não é contra as empresas de tecnologia, mas contra os usuários. As leis propostas, em sua visão, darão às big techs “o poder de silenciar os usuários sem passar pela justiça do país”, criando um “tribunal extraterritorial”. Ele comparou essa situação aos tribunais coloniais na China e alertou para a autocensura e a dificuldade de trabalho que isso imporia.

“Piada não pode ser crime”, defendeu Pimenta, criticando a ideia de que o mau gosto ou a “apologia ao crime” deveriam ser punidos. Ele citou o caso do comediante Lenny Bruce nos EUA para ilustrar os perigos da perseguição a artistas e à liberdade de expressão.

Tensões globais: Ucrânia, Rússia e a luta contra o imperialismo

A análise internacional do dirigente marxista se concentrou no conflito entre Ucrânia e Rússia. Para ele, o recente ataque da Ucrânia à Rússia foi orquestrado por potências imperialistas, não pelas forças ucranianas, o que ele vê como um perigoso avanço em direção a uma “guerra geral contra a Rússia”. Ele descreveu a guerra na Ucrânia como uma “guerra irregular” com “atentados terroristas”, indicando o “nível de desespero” do imperialismo.

Pimenta comparou a situação russa à da União Soviética no Afeganistão, mas ressaltou que a Rússia atual está mais consciente do problema. Ele também apontou que a OTAN está construindo uma “economia de guerra na Europa”, e que o “povo europeu já está pagando caro pela política do imperialismo”, com economias estagnadas e crises crescentes. Os russos, por sua vez, buscam evitar ao máximo uma guerra total com o imperialismo, sabendo que seria “altamente destrutiva”.

A contraditória briga entre Musk e Trump

Sobre a polêmica entre Elon Musk e Donald Trump, Pimenta minimizou o impacto da “briga”, classificando Musk como uma “novidade” no cenário político de Trump, mas não como uma figura central do grande empresariado. Ele interpretou a ruptura como um resultado da política econômica de Trump e um passo em direção a uma “radicalização do trumpismo mais tradicional”.

Embora a briga tenha um “caráter folclórico”, para Pimenta, ela mostra que Musk “está fora da jogada”. Ele também comparou a dificuldade de Trump em governar com a de Lula, afirmando que o “imperialismo não deixa ele governar”.

Previsões sombrias para o governo Lula

Rui Costa Pimenta concluiu sua análise sobre o governo Lula com uma previsão sombria. Ele enfatizou que o governo não tem “margem de manobra” para, por exemplo, cortar impostos sobre a gasolina, pois está “acuado pelo mercado financeiro”. Para ele, a falta de força institucional e de mobilização popular torna o governo dependente do STF, mas essa aliança o torna “sócio de uma política do STF que é uma política impopular”.

Finalizando, Pimenta afirmou que o “governo Lula foi reduzido a uma situação de total impotência” e que, seja qual for o desfecho da “crise do IOF”, ele tem “certeza absoluta” de que “não vai ser bom para o governo”.

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Last Update: 07/06/2025