Na edição mais recente do programa Análise Internacional, transmitido semanalmente pela Causa Operária TV, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, realizou uma profunda análise sobre o colapso do regime representativo em escala mundial, denunciando o avanço dos mecanismos antidemocráticos impulsionados pelo imperialismo, como os golpes de Estado, o controle judiciário e a manipulação das eleições.
Sobre a guerra na Ucrânia, Rui foi enfático ao identificar a responsabilidade central do imperialismo norte-americano na continuidade do conflito: “para acabar com a guerra da Ucrânia, é só os EUA pararem de apoiar a Ucrânia. Os europeus não vão conseguir sustentar”. Ele lembrou que Donald Trump, mesmo sendo uma figura que se elegeu prometendo encerrar os conflitos no exterior, foi impedido de realizar essa promessa. “Trump tinha como uma das suas principais bandeiras acabar com a guerra — e as guerras não acabam. Qual a conclusão? O imperialismo, os interesses das grandes corporações, serviços de inteligência, etc., são mais poderosos que o Trump”, afirmou.
A crítica de Pimenta se estendeu à estrutura política interna das principais potências imperialistas, como os Estados Unidos e o Brasil. Segundo ele, “existe um governo paralelo — no Brasil, nos EUA. Toda vez que um representante do imperialismo perde a eleição, aparece alguém pra governar”. No caso norte-americano, trata-se de uma “pressão enorme dentro do próprio campo trumpista pra que eles não coloquem em prática nenhum plano que vá contra o imperialismo”. Já no Brasil, o governo paralelo tem nome: “No caso brasileiro, é o STF. Até os lulistas mais fanáticos já perceberam que Lula não controla nada. Não controla a política econômica, a Polícia Federal, nada.”
Para o presidente do PCO, essa realidade expõe o esgotamento da democracia como fachada para o domínio imperialista. “Chegamos a um ponto em que os países ditos democráticos — quando você tem um regime que é ‘democrático’, Brasil, por exemplo — estamos falando em um regime dominado pelo imperialismo. Se não for assim, na imprensa será chamado de ditadura”. Ele explicou que essa chamada “democracia” é utilizada como um amortecedor da luta popular: “Esse ‘regime democrático’ é um recurso que o imperialismo tem pra impor em diversos países uma política criminosa sem ter resistência popular. A democracia é uma espécie de amortecedor da resistência popular”.
Contudo, o próprio funcionamento desse sistema está entrando em colapso. Pimenta declarou que “esse esquema está numa fase de completa agonia porque o imperialismo não consegue governar por meios democráticos”. A consequência é o avanço aberto de regimes de exceção: “Nós estamos assistindo aos estertores do período dito democrático, e isso só pode evoluir com o estabelecimento de regimes profundamente antidemocráticos. A burguesia vai ter que governar subtraindo o regime do controle popular — por menor que esse controle seja”.
A tendência, segundo ele, é o agravamento da ofensiva imperialista, com ataques à democracia formal por toda parte: “não dá pra gente acreditar que o mundo vá para um acordo, multilateralismo ou algo assim. Nós vamos pra um filme de horror: vai ser golpe de Estado em tudo que é lugar do mundo, guerra, ameaças e por aí vai.”
A crise do regime representativo ficou evidente, na avaliação de Rui, no segundo turno das eleições presidenciais no Equador, vencidas por Daniel Noboa, candidato de extrema-direita. Apesar da candidata da esquerda, Luiza González, ter obtido 44% dos votos no primeiro turno, ela cresceu apenas 0,3 ponto percentual no segundo, mesmo com a suposta incorporação de candidaturas também classificadas como “de esquerda”. A esquerda equatoriana agora pede recontagem dos votos. “O caso do Equador escancara a realidade que estamos vivendo: a época da decadência do regime representativo, da pseudodemocracia e dos golpes de Estado. Acabou a farra, é isso que a esquerda brasileira não entende bem. Aquele negócio de que você vai sobreviver elegendo deputados, fazendo discursos, acabou”, declarou Rui.
Ele denunciou que Noboa “não é um candidato do Trump, mas sim do imperialismo”. E criticou a conivência da esquerda brasileira com esse tipo de fraude política: “no Brasil o pessoal acha que está na maior luta contra a democracia se aliando com as pessoas que dão esse golpe de Estado no Equador”.
Rui também ironizou a hipocrisia do governo Lula em sua política externa: “o governo brasileiro pediu as atas das eleições pra reconhecer o governo da Venezuela. Vai pedir pro Equador? Sejamos coerentes, não reconheça o governo, Lula”. Ele destacou que, enquanto no Equador a oposição realiza manifestações públicas contra a fraude eleitoral, no Brasil sequer se pode falar de fraude: “aqui, não é que você não pode falar — falar que houve possibilidade de fraude é crime. Se isso acontecesse aqui no Brasil, não poderia protestar politicamente dizendo que a eleição foi fraudada”.