O presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, afirmou que a vitória de José Antonio Kast no segundo turno presidencial do Chile é “uma catástrofe anunciada” e deve ser compreendida, antes de tudo, como resultado da política adotada pela esquerda no continente. A avaliação foi feita no programa Análise Internacional, exibido no YouTube do Diário Causa Operária, no dia 18 de dezembro.
Ao tratar do pleito chileno, Pimenta sustentou que o resultado não pode ser explicado como “mérito” da direita, mas como “fracasso da esquerda”. “Não é tanto uma vitória da direita como um fracasso da esquerda. (…) não é que a direita fez por merecer. A esquerda está entregando o jogo”, declarou. Para ele, o Chile expressa um processo que aparece, em diferentes formas, em vários países latino-americanos: direções que buscam conciliar com setores da burguesia e do imperialismo e acabam abrindo caminho para a reação.
No caso chileno, Pimenta apontou que a candidatura derrotada, vinculada ao Partido Comunista, foi sustentada por uma frente com participação de partidos tradicionais do regime. “Veja que a candidata da esquerda do Partido Comunista foi candidata de uma frente onde participava o Partido Socialista e a Democracia Cristã. Ela era a candidata da burguesia pró-imperialista chilena”, disse. Ele também sublinhou o caráter do presidente eleito: “o Kast é um pinochetista”, afirmando que a derrota é ainda mais grave porque o novo governo tende a intensificar a repressão e implementar uma política econômica “neoliberal duríssima”.
Pimenta relacionou o quadro chileno à crise política generalizada no continente. Citou a Bolívia, onde, segundo ele, o governo de Luis Arce teria impedido a candidatura de Evo Morales e, com isso, “propiciou essa vitória da direita”. Comentando a prisão do ex-presidente boliviano após a vitória direitista, disse ser necessário observar o desenrolar dos acontecimentos: “precisa ver se isso daí é uma repressão verdadeira ou é mais jogo de cena”.
Ainda sobre a América Latina, mencionou os ataques do governo Javier Milei na Argentina e afirmou que a etapa atual do neoliberalismo já não busca sequer se apresentar como uma política de “racionalidade econômica”. “A política neoliberal foi apresentada (…) como sendo uma racionalidade econômica total”, lembrou, para concluir que a experiência histórica demonstrou o contrário: “a política neoliberal é totalmente irracional, ela não tem racionalidade nenhuma”. Na mesma linha, afirmou que, na conjuntura atual, o objetivo seria “destruir o que tem de economia, o que tem de direitos dos trabalhadores” e levar o país “à miséria”, numa ofensiva social cujo resultado tende a provocar resistência.
Pimenta também comentou a instabilidade política na África Ocidental, a partir de uma tentativa de golpe no Benim e das prisões de militares. Para ele, esse tipo de movimento tem “caráter progressista” por se voltar contra governos subordinados ao imperialismo. Ao mesmo tempo, avaliou que, em países com organização política frágil, o Exército aparece como uma das principais forças com capacidade de ação, o que explica a recorrência de quarteladas. Também destacou o papel da Nigéria como “pilar de sustentação do imperialismo na região”, sustentado, segundo ele, pela riqueza do petróleo.
O programa abordou ainda a situação no Reino Unido, com a repressão contra militantes vinculados ao grupo Palestine Action, incluindo grevistas de fome. Pimenta classificou as prisões como ilegais por se basearem na declaração de ilegalidade da organização pelo governo. Segundo ele, o caso revela o grau de endurecimento do regime britânico, inclusive sob um governo trabalhista. Questionado se o Partido Trabalhista ainda pode ser tratado como esquerda, respondeu que se trata de “a ala esquerda do regime imperialista”, isto é, “um partido imperialista com um discurso esquerdista”.
A ofensiva norte-americana contra a Venezuela também foi tema do programa. Pimenta considerou que a ameaça de bloqueio e apreensão de navios é “um aprofundamento da agressão” por “aproximações sucessivas”. Destacou, ainda, a necessidade de resposta política no Brasil: “o que está faltando aqui no Brasil é um ato público em defesa da Venezuela (…) logo no começo de janeiro”, afirmou.
Ao comentar Donald Trump, Pimenta disse que o presidente busca apoio popular para enfrentar adversários internos poderosos, recorrendo a uma demagogia dirigida a setores operários. Para ele, esse tipo de apelo, embora reacionário por partir de um país imperialista, expressa contradições no interior do próprio imperialismo. Pimenta sustentou que há conflito entre o trumpismo e o “aparato imperialista norte-americano e mundial” e afirmou: “nós somos o único partido do planeta que vê que o Trump não é a mesma coisa que o imperialismo”.
Na guerra na Ucrânia, Pimenta comentou declarações de Zelensqui sobre as dificuldades de ingresso na OTAN e rechaçou a hipótese de “tropas europeias” como garantia após cessar-fogo, avaliando que Moscou dificilmente aceitaria. Também defendeu que a Rússia não deveria recuar de territórios ocupados. Ao tratar da posição do PSTU sobre a Venezuela, atacou a fórmula “nem Trump, nem Maduro”, afirmando que “não há como ser neutro” diante da agressão do “país mais poderoso do mundo contra um país oprimido”.