Famoso pela exuberância de seu litoral, com praias de águas mornas e paisagens paradisíacas, além da riqueza cultural e do artesanato único, o Nordeste consolidou-se como destino preferido entre os turistas brasileiros e, agora, quer alçar voos internacionais. Dados da Associação Brasileira de Operadoras Turísticas confirmam que, em 2024, Maceió, em Alagoas, Porto Seguro, na Bahia, Porto de Galinhas e Recife, em Pernambuco, estavam entre os cinco roteiros mais procurados do ­País, perdendo apenas para São Paulo, líder do ranking impulsionado pelo turismo de negócios e eventos.

Para expandir essa vocação nacional e conquistar visitantes de outros países, o Consórcio Nordeste, em parceria com o Sebrae, a Embratur e o Ministério do Turismo, investe em um projeto para “vender” a região como um produto integrado, a envolver seus nove estados. A ideia surge no momento em que o turismo internacional dá sinais de crescimento exponencial na região. Segundo a Embratur, entre janeiro e março deste ano, houve incremento de 65,3% na chegada de turistas estrangeiros nos aeroportos nordestinos, em relação ao mesmo período do ano passado.

Essa tendência já vinha se revelando desde 2024, quando, em comparação com 2023, o fluxo de passageiros aumentou 14,2% em Maceió, 12,2% em João Pessoa e 7% em Salvador. Bárbara Braga, coordenadora da Câmara de Turismo do Consórcio Nordeste e secretária responsável pela área no governo de Alagoas, comemora essa evolução e explica sobre o novo projeto. “O Nordeste foi responsável por mais de 4,5 bilhões de reais dos negócios das operadoras de turismo no ano passado, quase 40% do faturamento total no País, e, por isso, consolidou-se como a região mais “vendida”. Agora, a gente quer que os estados com maior proximidade geográfica sejam oferecidos de forma integrada, de modo a alavancar o desenvolvimento econômico da região”, diz, acrescentando que o Brasil já atingiu mais de 60% da meta estimada para 2025, que tem a previsão de atrair 6,9 milhões de turistas internacionais até o fim do ano. “O turismo é fundamental para o desenvolvimento da nossa região, pois representa 10% do PIB.”

O desembarque de estrangeiros nos aeroportos nordestinos cresceu 65,3% no primeiro trimestre

Atualmente, o Nordeste conta com alguns roteiros integrados, como os ­Cânions do Rio São Francisco, que cruzam os estados de Alagoas e Sergipe, e ainda agregam Pernambuco e Bahia, e a Rota das Emoções, que envolve os Lençóis Maranhenses – considerado Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco –, o Delta do Parnaíba, no Piauí, e as paradisíacas praias de ­Jericoacoara e Canoa Quebrada, no Ceará. O Consórcio pretende fortalecer e expandir essa conectividade. “Nossa intenção é ter produtos não petrificados. Entre Alagoas e Rio Grande do Norte, pegando praias como Maragogi, Carneiros, Porto de Galinhas, João Pessoa e Natal, temos uma extensão litorânea belíssima e a ideia é fazer uma “venda” casada desse roteiro, para que o turista passe, por exemplo, alguns dias em Alagoas, outros em Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte”, explica Braga.

A secretária lembra que é no Nordeste que está a maior concentração de resorts do País, 53% do total, e destaca a infraestrutura que os estados nordestinos vêm recebendo como mais um componente a ajudar nesse desenvolvimento. Ela cita o exemplo da ponte que está sendo erguida entre a histórica e bucólica cidade de Penedo, no interior de Alagoas, e Neópolis, em Sergipe, como mais uma rota a ser integrada. “Outra proposta que vamos colocar na prateleira é o turismo afro, contando com o potencial de Alagoas, Maranhão e Bahia, um roteiro com uma demanda enorme no mercado internacional. Hoje, o turista não quer somente belezas naturais, ele também quer viver experiências a partir da vida comunitária daquela localidade que visita.” Ela cita o exemplo da alagoana Serra da Barriga, onde está localizado o Quilombo dos Palmares, considerado o maior quilombo das Américas.

“Esta é uma das regiões mais dinâmicas do turismo brasileiro e nossa parceria com o Consórcio Nordeste é estratégica para o seu posicionamento no mercado internacional”, avalia Marcelo Freixo, presidente da Embratur, que coordenou a comitiva dos estados nordestinos na Roadshow Visit Nordeste 2025, que aconteceu em Londres e Milão no início de abril. “Essa união dos estados é essencial. Cada um tem suas particularidades, mas o que nos une é uma vocação natural para o turismo e uma grande oportunidade de crescimento integrado, em um bloco forte, nacional e internacionalmente”, destaca Rafael ­Fonteles, presidente do Consórcio Nordeste e governador do Piauí.

O projeto prevê investimentos em qualificação profissional, que ficará a cargo do Sebrae, e no estímulo a novos empreendimentos turísticos na região. “O que estamos colocando na prateleira é um produto que foi trabalhado assertivamente desde o planejamento estratégico, qualificação de mão de obra, captação de novos negócios e infraestrutura. Quando o Nordeste recebe uma bandeira hoteleira internacional, quando conquista um voo internacional, toda a região comemora, o estado vizinho se beneficia daquela malha aérea que o colega do lado recebeu”, explica Braga, salientando que, até o fim de junho, a marca Nordeste será apresentada no cenário nacional e, no início do segundo semestre, vai levar o produto para um novo roadshow para ser ofertado ao mercado internacional. Está prevista também a apresentação do projeto na COP30, que acontece em novembro no Pará. •

Publicado na edição n° 1365 de CartaCapital, em 11 de junho de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Rotas integradas’

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Last Update: 05/06/2025