Durante uma conversa conduzida por Luis Nassif e os demais membros da bancada do Nova Economia, a jornalista e escritora Rosa Freire d’Aguiar ofereceu reflexões profundas sobre o pensamento e o legado de seu marido, o economista Celso Furtado. Reconhecida por sua atuação como tradutora, jornalista e vencedora do Prêmio Jabuti de 2023 com o livro Sempre Paris, Rosa discutiu como a cultura foi, para Celso, uma dimensão essencial e estratégica no projeto de desenvolvimento nacional.

Viúva de Furtado desde 2004, Rosa contou que após sua morte passou a receber diversos contatos e questionamentos sobre os escritos culturais do economista. Esse interesse crescente motivou-a a mergulhar na vertente menos explorada de sua obra, afastando-se temporariamente do Celso “economista” para enfatizar o Celso “pensador interdisciplinar”. “A cultura sempre esteve presente na obra do Celso, especialmente a partir dos anos 1970. Ele atravessava fronteiras entre disciplinas com naturalidade”, destacou.

Um dos pontos altos da entrevista foi a defesa que Furtado fazia da cultura como “núcleo” — e não apenas elemento — dos projetos de desenvolvimento. Para ele, segundo Rosa, qualquer proposta nacional consistente precisava nascer de uma compreensão profunda da cultura local, evitando a simples imitação dos modelos dos países ricos. “Quanto mais a elite brasileira imitava a cultura americana, mais aumentava a concentração de renda”, sintetizou.

Rosa relembrou também episódios marcantes da trajetória de Celso, como a criação do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, em 2005, um ano após sua morte. Embora o centro tenha enfrentado dificuldades, especialmente após a perda de sua sede no BNDES durante o governo Temer, ela afirma que a iniciativa segue viva, promovendo seminários e debates com apoio de instituições como a FAPERJ e o CNPq. A biblioteca e o arquivo pessoal de Furtado foram doados recentemente ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

Sobre o panorama atual da cobertura econômica, Rosa criticou a falta de uma abordagem mais humanista e integrada. “A economia é uma ciência social, e Celso via o desenvolvimento como um projeto social e cultural, não apenas como crescimento numérico”, afirmou. Ela apontou a predominância de uma análise técnica e desconectada do contexto mais amplo nas matérias econômicas publicadas hoje.

Ao ser questionada sobre a atualidade do pensamento de Furtado, Rosa foi categórica: “Celso continua sendo estudado, especialmente em áreas como relações internacionais, ciências políticas e estudos culturais”. Ela destacou que o economista antecipou muitos debates contemporâneos ao articular economia com história e cultura, adotando um olhar sistêmico e complexo. “Era uma cabeça rara. Ele olhava para uma gilete e pensava na siderurgia por trás dela.”

A entrevista também abordou a relação de Celso com Raúl Prebisch, seu mentor e referência na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Rosa revelou que Furtado chegou à organização antes de Prebisch e teve papel central na estruturação de seu pensamento sobre desenvolvimento na América Latina.

O legado de Celso Furtado, segundo Rosa, não está apenas em suas obras clássicas, como Formação Econômica do Brasil, mas também em sua visão ampla e inovadora do papel da cultura e da identidade nacional no enfrentamento das desigualdades. Um pensamento que, mesmo após 40 anos, continua atual diante dos desafios brasileiros.

Nota da redação: Este texto, especificamente, foi desenvolvido parcialmente com auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial na transcrição e resumo das entrevistas. A equipe de jornalistas do Jornal GGN segue responsável pelas pautas, produção, apuração, entrevistas e revisão de conteúdo publicado, para garantir a curadoria, lisura e veracidade das informações.

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Last Update: 04/05/2025