O senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do PT no Senado Federal, concedeu entrevista ao UOL News nesta quarta-feira (19/3) e analisou as principais atualizações do cenário político nacional. Durante a conversa com os jornalistas Leonardo Sakamoto, Diego Sarza e Carla Araújo, o parlamentar fez duras críticas à postura de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no exterior, defendeu a taxação dos super-ricos e comentou os desafios da governabilidade no Congresso Nacional.

Na oportunidades, Carvalho afirmou que Eduardo Bolsonaro tem adotado uma estratégia deliberada de difamação do Brasil no exterior, tentando consolidar uma narrativa de perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Temos visto essa postura de Eduardo Bolsonaro como uma estratégia para difamar o país, passando a ideia de que vivemos em um regime totalitário. Ele tenta reforçar a narrativa de que o Judiciário brasileiro está perseguindo Bolsonaro e que eles são vítimas de perseguição. Ou seja, tentam construir a imagem de um Brasil que não vive plenamente o Estado Democrático de Direito”, disse.

Para o líder do PT no Senado, essa movimentação não se trata de uma tentativa de fuga, mas sim de uma tática bem pensada para deslegitimar as instituições democráticas brasileiras. Ele também alertou sobre a receptividade desse discurso entre setores ultraconservadores nos Estados Unidos.

“No cenário internacional, há uma propensão de alguns atores políticos – especialmente entre parlamentares ultraconservadores nos Estados Unidos – de apoiar essa agenda autoritária. Eduardo provavelmente encontrará respaldo por lá. No Brasil, porém, esse discurso não deve crescer para além da bolha bolsonarista. Mas nos EUA, ele pode alimentar a retórica de Elon Musk contra o Judiciário e as instituições brasileiras”, pontuou.

Taxação dos super-ricos
Outro tema abordado pelo senador foi a taxação dos super-ricos, proposta do governo federal para equilibrar a carga tributária no país. Rogério Carvalho reconheceu que a medida pode enfrentar resistência, mas acredita que será aprovada com ajustes que garantam uma compensação para os setores mais influentes da economia.

“O desafio será definir o mecanismo de compensação. Afinal, estamos mexendo com quem controla os meios de produção e influencia parte da política brasileira: uma elite muito rica e poderosa, que, em parte, está representada no Congresso”, explicou.

Entre as possibilidades de ajuste, ele citou a redução da alíquota de 10% para 5%, a ampliação da faixa de isenção para valores acima de um milhão de reais e a revisão das isenções tributárias, que atualmente beneficiam grandes fortunas.

“O Brasil tem um dos maiores programas de transferência de renda para os mais pobres, mas também para os mais ricos. Portanto, essas questões devem caminhar juntas. No final, creio que a taxação será aprovada, com medidas que compensem as eventuais perdas fiscais”, acrescentou.

Ataques à democracia e 08 de janeiro
O senador também fez uma reflexão sobre os atos golpistas de 08 de janeiro de 2023, questionando como os envolvidos seriam tratados caso o episódio tivesse ocorrido durante a ditadura militar.

“Hoje, essas pessoas estão presas, mas têm direito ao devido processo legal, estão em contato com suas famílias e possuem defesa. Na década de 1970, opositores do regime simplesmente desapareciam, eram assassinados ou mantidos incomunicáveis. Esse é um debate que precisamos trazer à tona, principalmente diante de quem questiona a Justiça atual”, afirmou.

Carvalho ainda abordou a situação do senador Marcos do Val (Podemos/ES), que tem feito declarações polêmicas e enfrentado críticas dentro do próprio Senado. Segundo o parlamentar, há um movimento nos bastidores para que Do Val se afaste do cargo, evitando um processo no Conselho de Ética.

“Na última reunião de líderes, Davi Alcolumbre demonstrou forte irritação com a situação. Alguns senadores tentaram ponderar, sugerindo que ele pode estar enfrentando problemas de saúde. Mas a paciência está no limite”, revelou.

Além disso, ele indicou que levará à próxima reunião de líderes, nesta quinta-feira (20), o caso do senador Plínio Valério (PSDB/AM), que tem feito declarações consideradas agressivas.

“Um parlamentar não pode se sentir autorizado a falar o que quiser, da forma que quiser, sem responsabilidade. É um limite que precisa ser discutido”, ressaltou Rogério Carvalho.

Cenário político e governabilidade
Por fim, o senador analisou a relação do governo com o Congresso Nacional e destacou que algumas pautas econômicas devem avançar no Senado, mas enfrentarão maior resistência na Câmara dos Deputados.

“No Senado, essa pauta não deve prosperar. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre, entende que esse não é um tema prioritário para melhorar a vida dos brasileiros. Já na Câmara, a situação é diferente. O presidente da CCJ, Hugo Motta, pode estar sob maior pressão, mas não acredito que pautará essa discussão no atual cenário”, concluiu.

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Last Update: 19/03/2025