A exoneração de Washington Reis por Bacellar revela a disputa adiantada pelo poder no Rio e acirra a corrida política com vistas a 2026
A disputa entre o atual governador Cláudio Castro (PL) e Washington Reis (MDB), sobre o tema da redução do preço das passagens de trem e metrô demonstrava que a exoneração do secretário era questão de tempo. Diriam alguns, que este bate boca poderia até mesmo ter sido programado pelo experiente político fluminense, calculando suas possibilidades para 2026.
Conhecido nacionalmente por ter sido o principal apoiador da família Bolsonaro na Baixada Fluminense, ele foi cotado para compor a chapa de governador em 2022, como vice de Cláudio Castro, mas foi barrado pela Justiça Federal, devido a uma condenação por crime ambiental, que o tornou inelegível, assumindo a Secretaria de Estado de Transporte e Mobilidade Urbana do Rio de Janeiro.
Enquanto tenta driblar sua inelegibilidade, Washington Reis iniciou os seus movimentos com vistas à eleição de 2026 quando as articulações foram se intensificando na escolha do candidato do campo da direita. A indicação para o TCE – Tribunal de Contas do Estado – do então vice-governador Thiago Pampolha (MDB), deixou aberto o caminho para Rodrigo Bacellar (União Brasil), atual presidente da ALERJ – Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro -, se tornar o favorito desse campo político na disputa para o Palácio Guanabara.
Buscando espaço nesse processo de construção de chapa para 2026, Washington Reis pode ter iniciado o tensionamento com Castro para já se afastar do governo, carregando o trunfo de ter sido retirado contra sua vontade. Com a inércia de Castro, aumentou a tensão ao aparecer nas redes sociais ao lado de Eduardo Paes (PSD), já dado por muitos comentaristas de política como candidato certo ao governo do estado em oposição ao nome indicado pelo governador.
O elemento surpresa na situação da saída de Washington Reis do Governo Castro foi o fato de a exoneração ter sido assinada por Rodrigo Bacellar, por estar na condição de governador em exercício. A situação mostra uma antecipação do presidente da ALERJ na tomada de controle do governo estadual, prevista para acontecer apenas no início do ano de 2026.
A trajetória política de Washington Reis: do apoio a Dilma à aliança com Bolsonaro
Washington Reis iniciou sua carreira política em 1993 como vereador em Duque de Caxias pelo PSB, dando os primeiros passos na vida pública aos 26 anos. Sua trajetória foi marcada por uma notável capacidade de adaptação às mudanças do cenário político e inicialmente, um baixo vínculo partidário. Depois de migrar para o PSC e ser eleito deputado estadual em 1995, assumiu como vice-prefeito de Caxias pelo PSDB em 1997.
Filiado ao PMDB (atual MDB), Reis construiu sua base de poder na Baixada Fluminense através de mandatos como deputado estadual (1999-2004) e como prefeito de Duque de Caxias em três gestões (2005-2008/2017-2022). Como deputado federal (2011-2016), viveu um momento crucial durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Inicialmente alinhado com a ala carioca do MDB que se opunha ao impeachment, Reis acabou cedendo às pressões da cúpula nacional do partido e votou a favor da queda da presidenta – decisão que marcaria uma virada em seu posicionamento político.
Após as eleições de 2018, quando o MDB fluminense estava enfraquecido pelas investigações da Lava Jato, Reis percebeu a ascensão de Jair Bolsonaro e começou a se aproximar do novo presidente. Como prefeito de Caxias em seu segundo e terceiro mandatos (2017-2022), transformou-se num dos principais aliados de Bolsonaro no Rio de Janeiro.
Sua tentativa de se tornar vice-governador na chapa de Cláudio Castro (PL) em 2022 representou o ápice dessa aproximação com o bolsonarismo, embora tenha sido frustrada por uma condenação por crime ambiental que o tornou inelegível. Mesmo assim, manteve-se como peça importante no tabuleiro político fluminense, assumindo a Secretaria de Transportes no governo Castro enquanto articula seus movimentos para 2026.
Agora um novo momento se anuncia. Washington Reis apareceu em vídeo com Eduardo Paes (PSD), fortíssimo candidato de Lula (PT) ao governo do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente, a cidade do Rio de Janeiro é a principal capital dirigida por um político aliado ao governo federal.
Por Mônica Gonçalves, doutoranda em Ciências Sociais pela UFRRJ e mestra em Ciências Sociais pela UERJ e participante do GT Política Local no Lappcom (UFRJ/UFRRJ), e Tayná Paolino, cientista política (UNIRIO) e doutoranda em Ciências Sociais pela UFRRJ. Coordenadora Adjunta no Lappcom (UFRJ/UFRRJ).
