Velho Cético (1978) é uma música conhecida nas rodas de samba, que Roberto Riberti fez com Eduardo Gudin. Além de sambas, Riberti trafegou pela MPB, com músicas como Passageiro, trilha da novela Os Gigantes (1979), e pela Vanguarda Paulista, com canções em parceria com Arrigo Barnabé, incluindo Mística e Cidade Oculta.
“Eu tenho uma história no samba, mas ela ficou diluída nos vinis (LPs) que lancei”, diz Riberti a CartaCapital. “O primeiro (de 1977) tem mais samba. No segundo (de 1979), aparece somente um. O terceiro, de 82, tem o Velho Cético. No quarto vinil (de 1986) não existe nenhum samba.”
“Queria agora dar ênfase ao samba porque não sei se as pessoas estavam prestando atenção ao que eu fiz nesse campo.”
Assim, saiu o álbum Estrela É o Samba (distribuição Tratore), já disponível nas plataformas digitais, que levou mais de dez anos para ficar pronto e começa com a inédita Túmulo do Samba, Roberto Riberti. O autor do disco canta com Germano Mathias, que faleceu no ano passado.
“Ele teve resistência para gravar, até que um dia topou fazer”, lembra Riberti. “Tinha pensando nesse samba sincopado, ironizando a frase do Vinícius (‘São Paulo é túmulo do samba’), embora eu o venere.”
O compositor calcula que Germano tenha feito a gravação há seis anos.
Em seguida, aparece outra inédita no disco: Todo Mundo Me Diz, de Riberti com Paulo Vanzolini, com a participação do MPB4 e arranjos de Magro Waghabi, que integrava o grupo vocal e morreu em 2012.
Riberti conta que fez a melodia em cima de uma letra de Vanzolini da década de 1940. “A música enaltece a boemia. É uma letra que remete à época. Ninguém faria uma letra enaltecendo a boemia desse jeito hoje.”
Pobre Amor, a terceira faixa, é também inédita e feita com o carioca Elton Medeiros. A gravação é um duo de Riberti com Elton, falecido em 2019.
O disco conta com mais duas canções de autoria de Elton Medeiros. A também inédita Imensidade e a clássica Estrela, que tem na parceria Eduardo Gudin – a gravação da canção no álbum é um duo também de Riberti e Elton Medeiros.
Tanto Pobre Amor quanto Imensidade foram feitas a partir de dois encontros que Riberti teve com Elton Medeiros em São Paulo.
“Já em Estrela, eu fiz a letra. Queria dar minha versão à música, mas decidi chamar o Elton para gravar. Além de ser um dos maiores melodistas da música brasileira, para mim, ele cantava com alma do samba.”
A quarta faixa, Euforia, é de Riberti com Nelson Cavaquinho e Eduardo Gudin. Além do autor, a gravação da música tem no coro o projeto Kolombolo Diá Piratininga e membros de velha guarda das escolas de samba de São Paulo.
“A gente venerava o Nelson. Ele gostava do Velho Cético. Em um de nossos encontros, ele começou a mostrar uma primeira parte. Gudin emendou e fez a segunda. Aí falei: a letra é minha”, conta, sobre o surgimento da composição Euforia. “Não só as músicas eram maravilhosas, mas o jeito que Nelson cantava, tocava, que nunca ninguém fazia. Ele criou um estilo.”
O disco conta ainda com cinco músicas de Roberto Riberti, duas delas inéditas. Em três, o autor canta com Dona Inah (falecida em 2022), Adriana Moreira e Ana Bernardo.
Frequentador do bar do Alemão, em São Paulo, nas décadas de 1970 e 80, era lá que Roberto Riberti encontrava a nata da música brasileira, como os parceiros de música, além de Beth Carvalho, Clara Nunes, Paulo César Pinheiro e os integrantes do MPB4.
“Era um ambiente de resistência política. A música não era fato isolado. Hoje não tem isso.”
Roberto Riberti começou a fazer música muito cedo. O pai tinha uma loja na qual vendia discos de vinil e consertava rádios. Ele até tentou trabalhar só com música, mas não deu.
“Acabei tendo de voltar a trabalhar na firma de meu pai. Pintava uma coisa aqui e outra ali de música, mas tive de trabalhar mesmo com comércio”, relembra. “Depois, passei a vender componentes eletrônicos para pequenas indústrias.”