Rios de oportunidades: transformação hidroviária na Amazônia

por Augusto Cesar Barreto Rocha

A Amazônia é gigante em seus rios e a bacia hidrográfica é a maior do mundo, com área semelhante a soma da segunda com a terceira, que são, respectivamente, a Bacia do Congo e do Mississipi. Temos uma ocupação territorial de baixa densidade nestas bacias, mas com importante economia regional. Em Manaus, há um dos principais portos do Brasil, com grande movimento de contêineres para a cidade, tanto para o comércio quanto para a indústria.

Para caracterizar uma hidrovia é frequente a presença de alguns atributos: profundidade adequada, largura e geometria do canal compatível com a passagem de embarcações de porte, um regime hidrológico favorável, infraestrutura de apoio, como portos, sinalizações e balizamento, baixa interferência de obstáculos naturais e interligação com outros modais.

Por um conjunto de deficiências, costumo dizer que temos na conexão de Manaus com o mundo, uma “hidrovia”, ao invés de uma hidrovia. Nossas deficiências podem ser superadas e deveríamos ter um plano nacional para transformar nossos rios em hidrovias. Deveria ter muito mais do que a operação de contêineres em Manaus, incluindo uma ampliação para o interior e para a Panamazônia, integrando-nos pela multimodalidade com todos os países vizinhos. Isso significará mais portos, mais retroportos, rodovias e aeroportos com voos.

O desafio é grande e é necessário um plano que contemple este desafio. No momento, um dos maiores desafios é a garantia de calado até Manaus para as embarcações com contêineres, tanto no longo curso, quanto na cabotagem. As hidrovias são uma alternativa eficiente para o transporte de cargas, mas elas precisam, como em outras atividades, muita competitividade para serem efetivas em custos. Atualmente, não há grande competição e vemos condições desafiantes para os operadores da região e custos exorbitantes para os embarcadores. Uma situação na qual muito dinheiro vira desperdício.

As hidrovias da Amazônia podem promover o desenvolvimento econômico regional para além do que existe e facilitar o acesso aos recursos naturais e um potencial de exploração sustentável. Para a Cop30 na Amazônia precisaremos apresentar como fazer infraestrutura sustentável e isso implicará em soluções mais criativas do que temos tido atualmente e num passado remoto. As rodovias são necessárias, para regular preços da hidrovia, ao mesmo tempo em que devem ajudar na proteção da biodiversidade.

A transformação de rios em hidrovias é uma estratégia promissora para melhorar a infraestrutura de transporte e promover o desenvolvimento sustentável. Isso poderá gerar um resultado muito mais promissor para a Amazônia, além de ser destruída aos poucos ou ser uma reserva para o futuro. Espera-se minimamente uma perspectiva onde especialistas regionais em colaboração com a Secretaria Nacional Hidrovias e Navegação elaborem um plano nesta direção. Precisamos assumir a gestão da Amazônia e prescrever a transformação de seus rios em hidrovias, realizando o que ainda não fizemos para poder tirar as aspas das nossas hidrovias.

Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.

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Last Update: 03/02/2025