Síndica Denise Rholoff na entrada do abrigo antiaéreo de 300 metros quadrados em Copacabana, no Rio de Janeiro. Foto: Alexandre Cassiano

O Rio de Janeiro guarda mais de 30 abrigos antiaéreos escondidos em prédios do Centro e da Zona Sul, construções subterrâneas que passam despercebidas em meio à rotina da cidade.

Segundo pesquisa da arquiteta Isabella Cavallero, formada pela UFRJ, pelo menos 33 edifícios erguidos por volta de 1942 abrigam esses cômodos, heranças diretas do impacto da Segunda Guerra Mundial na arquitetura carioca.

Esses abrigos foram exigidos após o Brasil romper relações diplomáticas com o Eixo — Japão, Alemanha e Itália — e sofrer ataques a embarcações. Getúlio Vargas então decretou, por meio do Decreto-Lei 4.098, que, a partir de fevereiro de 1942, todos os prédios com mais de quatro andares e área superior a 1.200 metros quadrados deveriam possuir abrigos antiaéreos.

“Na segunda fase do governo de Getúlio Vargas, foi publicado o Decreto-Lei 4.098 que determinava que, a partir de fevereiro de 1942, edifícios com mais de quatro pavimentos e com uma área superior a 1.200 metros quadrados deveriam ter abrigos antiaéreos”, explicou Isabella ao Globo.

Hoje, muitos desses espaços foram transformados em estacionamentos, depósitos ou dependências de funcionários, mas ainda preservam características originais, como estruturas robustas de concreto, saídas de ar e escadas de fuga.

Durante a pandemia, Isabella se aprofundou no tema ao se mudar para Berlim, estudando o estilo brutalista, marcado pelo uso de concreto aparente e forte apelo funcional. Intrigada, ela investigou se endereços no Rio escondiam bunkers com essas influências.

A pesquisa, que envolveu jornais antigos e arquivos históricos, resultou na identificação de 33 locais, como o subsolo da Praça dos Expedicionários, no Centro, e o da Galeria Menescal, em Copacabana.

 

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Com a criação do site Bunker Paradies, ao lado da antropóloga colombiana Ana Catalina Correa, Isabella divulgou suas descobertas e segue recebendo novos relatos. “Muitas pessoas mandaram novos endereços, mas ainda não consegui comprovar. O próximo passo é obter as plantas baixas porque às vezes a entrada para a pesquisa não é autorizada pelos síndicos”, afirmou.

Na época da guerra, a construção dos abrigos era um diferencial para imóveis no Rio, então capital federal. Imobiliárias destacavam os bunkers como garantia de segurança aos futuros moradores.

O escritor Ruy Castro, em seu livro “Trincheira tropical: a Segunda Guerra Mundial no Rio”, que será lançado em junho, relata que os abrigos eram equipados com geração própria de gás, energia, cozinhas, lavabos e dormitórios para até dez famílias.

Um dos exemplos preservados é o abrigo de 300 metros quadrados no Edifício Filadélfia, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. No local, ainda é possível ver as divisões internas, a escada de emergência e as saídas de ventilação. Atualmente, o espaço serve como bicicletário e área de apoio para porteiros.

“Neste prédio morou o médico do Getúlio Vargas. Meu marido, de 70 anos, foi da primeira leva de moradores”, contou a síndica Denise Rholoff.

Outro caso curioso é o do bunker do Edifício Guaracy, na Urca, que virou há 20 anos a casa do porteiro Djalma Lima. Ele divide o espaço de seis por três metros quadrados com a esposa e um gato. “Se acontecer alguma coisa hoje, estamos protegidos”, brincou.

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Last Update: 28/04/2025