Brasil assume liderança do bloco em meio a tensões globais e expansão histórica.

O Rio de Janeiro sedia, entre 6 e 7 de julho de 2025, o 17º encontro dos BRICS, evento histórico que reúne pela primeira vez os onze países membros após a maior expansão da organização desde sua criação. Sob a presidência brasileira e o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança Mais Inclusiva e Sustentável”, o encontro consolida o bloco como força global de primeira grandeza.

Os números impressionam: o BRICS expandido representa 48,5% da população mundial, 39% do PIB global em paridade de poder de compra, 24% do comércio internacional e 36% do território terrestre do planeta. Mais de 4.000 participantes de 37 países são esperados na cidade carioca.

Expansão estratégica e controle de recursos

Com a adição de seis novos membros em 2024 – Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia, Indonésia e Irã – o BRICS ampliou drasticamente seu controle sobre recursos estratégicos globais. O bloco agora detém 72% das reservas mundiais de minerais de terras raras, 43,6% da produção global de petróleo, 36% da produção mundial de gás natural e impressionantes 78,2% da produção global de carvão mineral.

A categoria de países parceiros inclui dez nações: Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã. Em 2024, todos os países BRICS apresentaram crescimento econômico positivo, com taxas entre 1,1% e 6,1%.

Agenda brasileira e poder econômico

A presidência brasileira estabeleceu duas prioridades centrais: Cooperação do Sul Global e Parcerias BRICS para Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental. O programa abrange cooperação em saúde, comércio e finanças, mudanças climáticas, governança da inteligência artificial, arquitetura multilateral de paz e desenvolvimento institucional.

Os dados econômicos revelam a magnitude crescente da influência do bloco. Em 2024, o comércio bilateral do Brasil com os demais países totalizou US$ 210 bilhões, representando 35% do comércio exterior brasileiro. O BRICS foi destino de US$ 121 bilhões em exportações brasileiras, representando 36% do total exportado pelo Brasil, enquanto foi origem de US$ 88 bilhões em importações brasileiras, correspondendo a 34% do total importado pelo país.

No cenário global, os países BRICS respondem por 24% das trocas comerciais internacionais. A performance econômica coletiva foi notável em 2024, com crescimento de 4% do PIB, enquanto o crescimento mundial ficou em 3,3%.

Desafios geopolíticos e liderança

O encontro ocorre em momento de complexidade geopolítica, com conflitos no Oriente Médio, guerra na Ucrânia e práticas protecionistas comerciais. A reunião de ministros das Relações Exteriores em abril evidenciou tensões internas – não conseguiram emitir declaração conjunta, embora tenham expressado preocupações sobre o protecionismo da administração Trump.

O conflito no Oriente Médio representa desafio diplomático central. Em junho, o BRICS emitiu declaração sobre a escalada regional, expressando “grave preocupação com os ataques militares contra a República Islâmica do Irã”.

A ausência do presidente russo Vladimir Putin ilustra as complexidades enfrentadas. Putin será representado pelo ministro Sergei Lavrov, decisão atribuída a preocupações com possível prisão devido ao mandado internacional do Tribunal Penal Internacional.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva exercerá a presidência, buscando consolidar o papel brasileiro como mediador. A China será representada pelo premier Li Qiang, que também visitará o Egito. A porta-voz chinesa Mao Ning destacou que “o mecanismo de cooperação BRICS serve como a plataforma mais importante para solidariedade e cooperação entre mercados emergentes e países em desenvolvimento”.

A Índia participará com o primeiro-ministro Narendra Modi, presença significativa dado seu papel como ponte entre blocos geopolíticos.

Alternativas ao sistema financeiro global

O encontro é crucial para discussões sobre alternativas ao sistema dominado pelo dólar americano. A agenda brasileira enfatiza reformas na governança financeira, promoção de moedas locais e instrumentos de pagamento alternativos. O processo de desdolarização, ou seja, de emancipação do mundo da ditadura do dólar, segue curso através de acordos de swap e sistemas bilaterais.

O Novo Banco de Desenvolvimento, criado em 2014 com capital de US$ 100 bilhões, serve como modelo para iniciativas de autonomia financeira.

Perspectivas futuras

O 17º encontro marca momento de inflexão, testando a capacidade de manter coesão em cenário geopolítico complexo. A expansão para onze membros e dez países parceiros representa oportunidade de ampliar influência global.

Com números que impressionam – 48,5% da população mundial, 39% do PIB global e controle sobre recursos estratégicos – o BRICS consolidou-se como força que não pode ser ignorada no cenário internacional. O encontro simboliza a busca do Sul Global por maior protagonismo na ordem internacional, com implicações que transcendem os países membros e influenciam o futuro da governança global multipolar.

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Last Update: 02/07/2025