A proximidade entre o regime do xá Mohammad Reza Pahlavi e a ditadura sionista, que hoje parece impensável frente ao antagonismo entre Irã e “Israel”, foi, na verdade, uma aliança de longa data, construída pelo imperialismo. Muito antes da Revolução Islâmica de 1979, o Irã era governado com mão de ferro por uma monarquia que não representava o povo, mas os interesses das potências imperialistas.

A amizade com o regime sionista não era uma relação de afinidade entre nações, mas uma imposição estratégica do imperialismo, sobretudo dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, que viam no Irã uma peça-chave para garantir o controle da região do Golfo Pérsico e a sobrevivência do enclave sionista. Essa relação espúria remonta ao início do século XX, quando o petróleo persa foi entregue aos britânicos por meio da Companhia Petrolífera Anglo-Persa.

Essa submissão ao capital estrangeiro moldaria todo o caráter do regime do xá Reza Pahlavi, pai de Mohammad Reza, que tomou o poder em 1925 com apoio militar e diplomático britânico, após o colapso da dinastia Qajar. A monarquia dos Pahlavi, desde sua fundação, foi um projeto imperialista e antipopular, voltado à preservação dos interesses do capital estrangeiro e da oligarquia local associada.

Com a fundação do Estado de “Israel”, em 1948, a maioria dos países muçulmanos da região manifestou repúdio à invasão da Palestina. O Irã, por sua vez, manteve-se num silêncio cúmplice até reconhecer oficialmente o regime sionista em 1950, sendo um dos primeiros países do mundo a fazê-lo, atitude que desafiava a opinião popular no País.

Essa reviravolta diplomática coincide com um momento decisivo: o golpe de 1953, patrocinado pelos serviços secretos norte-americanos e britânicos, responsável por derrubar o primeiro-ministro Mossadegh, que ousara nacionalizar o petróleo iraniano, e consolidou a ditadura do xá Mohammad Reza Pahlavi. A partir daí, o alinhamento do Irã com os interesses imperialistas e com a ditadura sionista tornou-se absoluto.

Nas décadas seguintes, essa aliança se aprofundou de forma escandalosa. O Irã de Pahlavi tornou-se um dos únicos países muçulmanos a manter relações diplomáticas e militares estreitas com o regime sionista.

Tratava-se de uma aliança entre regimes antipopulares, unidos por sua função política de contenção das forças árabes e de apoio aos projetos imperialistas. Não por acaso, o Irã foi parceiro de “Israel” e da Turquia na chamada “aliança do Tridente”, uma coalizão extraoficial que buscava isolar os países árabes nacionalistas e pró-palestinos.

O petróleo iraniano era fundamental para a economia sionista, e fluía diretamente por meio de oleodutos financiados e operados conjuntamente por Teerã e o regime sionista. Em contrapartida, “Israel” fornecia assistência militar, treinamento de tropas e até tecnologia de mísseis ao Irã, numa colaboração que atingiu seu ápice com o “Projeto Flor”, em 1977. Tratava-se de um pacto entre a monarquia iraniana e a ditadura sionista para o desenvolvimento conjunto de armamentos, num momento em que a repressão interna no Irã atingia níveis extremos e a resistência popular ganhava força.

Enquanto o povo iraniano vivia na miséria, enfrentando um governo brutal, corrupto e sustentado pela temida SAVAK — a polícia política treinada pela CIA e pelo Mossad —, a ditadura do xá estreitava seus laços com “Israel”. A repressão no Irã era tão severa quanto a ocupação da Palestina.

A Revolução Islâmica de 1979, finalmente, mudaria para sempre essa situação. Quando o povo iraniano, liderado pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, derrubou o xá e pôs fim à monarquia, não foi apenas um regime que caiu, mas todo um sistema de alianças construído para preservar a ditadura imperialista sobre a região. A ruptura com “Israel” foi imediata: a embaixada do regime sionista foi entregue à Organização para a Libertação da Palestina (OLP), e todos os acordos anteriores foram revogados.

A política de hostilidade ao regime sionista adotada pelo Irã pós-revolução não foi resultado de um “ódio religioso” ou de um “radicalismo xiita”, como gostam de repetir os porta-vozes do imperialismo, mas uma expressão da soberania recuperada. Traída pelo xá, a causa palestina passou a ser abraçada como uma questão de solidariedade entre os povos oprimidos. A resistência ao sionismo tornou-se parte integrante da identidade política do novo governo revolucionário iraniano, justamente por representar a negação da submissão anterior.

Sem deixar dúvidas, a Revolução mostrou, que a população iraniana jamais aceitou a cumplicidade com o massacre na Palestina nem a presença imperialista no próprio país. A derrocada do xá desfez uma parceria forjada na traição aos interesses nacionais, que só se sustentava pela força bruta e pelo respaldo estrangeiro.

A propaganda sionista, que insiste em apresentar a antiga aliança entre Irã e “Israel” como uma relação legítima, ignora deliberadamente a natureza ditatorial do regime que a promoveu. Não havia ali dois Estados soberanos cooperando por interesse mútuo, mas sim um regime-fantoche exercendo o papel que lhe foi atribuído pelos seus financiadores norte-americanos e britânicos.

Com a revolução, o Irã deixou de ser um peão do imperialismo e passou a atuar seguindo os interesses do povo iraniano. A ruptura com o sionismo, a nacionalização definitiva do petróleo e a rejeição ao imperialismo foram passos decisivos na construção de uma política externa baseada na autodeterminação. Desde então, o Irã tornou-se um dos poucos países do mundo a desafiar abertamente o colonialismo sionista, prestando apoio real e concreto aos movimentos de resistência palestina e libanesa.

O caso do xá Reza Pahlavi deixa claro que o apoio a “Israel” nunca foi um ato de autodeterminação por parte do Irã, mas sim uma política imposta de fora, sustentada por um regime ilegítimo e derrubado pelas massas.

A amizade entre o Irã e o sionismo morreu no mesmo momento em que o povo retomou as rédeas de seu destino. Se hoje o Irã é um dos principais opositores do regime sionista no mundo, isso não se deve a uma mudança arbitrária de postura, mas à libertação do País de um sistema que o mantinha acorrentado ao imperialismo.

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Last Update: 04/07/2025