Durante a audiência de instrução da Ação Penal que apura o núcleo 2 da trama golpista articulada no entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), dois ex-assessores próximos ao então mandatário negaram nesta quinta-feira (24) qualquer envolvimento direto com os crimes apontados pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Os interrogatórios foram conduzidos por videoconferência, com transmissão ao vivo pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e fazem parte da reta final do processo criminal.

Entre os réus, o coronel Marcelo Câmara, que foi assessor direto de Bolsonaro no Planalto, rechaçou a acusação de ter monitorado ilegalmente o ministro Alexandre de Moraes. O militar está preso preventivamente e responde, entre outros crimes, por tentativa de golpe de Estado e organização criminosa.

Segundo Câmara, as mensagens trocadas com Mauro Cid, delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, referiam-se a tentativas de “aproximação” entre o então presidente e o ministro Moraes, alegando um suposto “ajuste de agenda” institucional. Câmara também afirmou que os apelidos utilizados nas conversas – como o termo “professora” para se referir ao ministro do STF – eram apenas “brincadeiras” e que não havia tentativa de ocultar intenções.

A denúncia da PGR, no entanto, sustenta que o grupo ao qual Câmara pertence teria monitorado os deslocamentos do magistrado com o intuito de alimentar planos golpistas, incluindo a preparação de ações violentas.

Outro depoimento que chamou atenção foi o de Filipe Martins, ex-assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência. Acusado de redigir uma minuta de decreto para anular o resultado das eleições e permitir a continuidade do governo Bolsonaro, Martins afirmou ter sido transformado em “bode expiatório” pela delação de Mauro Cid.

Ele contestou a credibilidade do delator, alegando que tanto a Polícia Federal quanto a própria PGR chegaram a levantar dúvidas sobre a veracidade de parte das declarações de Cid, inclusive apontando que ele poderia estar “protegendo” figuras mais centrais no enredo golpista.

Martins, que ficou preso por mais de seis meses, afirmou que sua inclusão no processo se deu unicamente por uma interpretação forçada de um registro de entrada no Palácio da Alvorada, no mesmo dia em que teria ocorrido uma reunião com a cúpula das Forças Armadas. Ele nega ter participado do encontro e apresentou documentos obtidos na Controladoria-Geral da União que indicariam inconsistências na acusação.

A denúncia da PGR, dividida em quatro núcleos, atribui a esse grupo a responsabilidade por ações operacionais e de articulação do plano golpista. Os seis réus do núcleo 2 respondem por cinco crimes: organização criminosa armada, golpe de Estado, tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Segundo a narrativa apresentada pelo Ministério Público, além da suposta minuta golpista, o grupo teria também articulado o uso da Polícia Rodoviária Federal para obstruir o transporte de eleitores durante o segundo turno das eleições, em 2022, além de alimentar rumores de uma ruptura institucional.

O julgamento do núcleo 2 está previsto para ocorrer ainda neste ano. Já o núcleo 1, que envolve Bolsonaro e seus assessores mais próximos, está na fase de alegações finais e deve ser julgado a partir de setembro.

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Last Update: 24/07/2025