A história do Brasil, marcada pelas sombras de regimes autoritários, nos convoca a manter vigilância constante contra qualquer tentativa de subverter as conquistas democráticas. Não podemos permitir que as feridas do passado se reabram diante de práticas políticas que desrespeitam nossa memória histórica.
Recentes declarações de figuras públicas que minimizam atentados à democracia – inclusive ao banalizar denúncias de tentativas de golpe – evidenciam um preocupante descompromisso com os princípios do Estado de Direito e fragiliza as bases que sustentam a liberdade e a justiça social. A relativização dos fatos e a morosidade na resposta institucional não são estratégias inocentes, mas sim mecanismos que alimentam o retrocesso e possibilitam que o autoritarismo encontre terreno fértil em nosso país.
É imprescindível que a sociedade civil, a academia e os movimentos sociais se unam para denunciar e combater quaisquer tentativas de subverter o Estado Democrático e reafirmar a importância da celeridade e rigor na apuração dos atos antidemocráticos. No cenário global, diversos países do Ocidente e do Sul Global enfrentam desafios sem precedentes, que expõem a fragilidade de uma centro-esquerda que, ao adotar práticas neoliberais excludentes, perdeu o contato com as demandas reais da população.
O pano de fundo desses movimentos é a crise da globalização neoliberal, agravada pelo quase-colapso dos sistemas financeiros em 2008–2009, que evidenciou a mobilização de recursos para socorrer bancos em detrimento do cidadão endividado e fomentou um profundo mal-estar social.
Nas últimas décadas, a dissociação crescente entre as elites e o restante da população reforçou a percepção de que vivemos sob uma plutocracia – ou, pior, uma caquistocracia –, em que a concentração de renda e riqueza privilegia os interesses dos poucos, em desfavor da maioria. O declínio das lideranças tradicionais no Ocidente, marcado por práticas de rentismo e capitalismo predatório, levou à substituição da produção e da geração de empregos decentes por privatizações e manobras financeiras, o que aprofundou as desigualdades e corroeu a confiança nas instituições.
No Brasil, as elites locais imitam os piores aspectos do modelo neoliberal, perpetuam um sistema que marginaliza os mais vulneráveis e mantêm viva a sombra de um passado autoritário, cujas cicatrizes da ditadura jamais podem ser esquecidas. Já no cenário recente, o ex-presidente Jair Bolsonaro se defende em entrevistas, nega qualquer envolvimento em tentativas de golpe e classifica as denúncias da Procuradoria-Geral da República como “fantasiosas”. Essa retórica, ao desviar a atenção dos reais desafios democráticos, reforça a normalização de discursos autoritários e fragiliza as instituições.
Paralelamente, a postura de Mauro Cid, marcada pela defesa de pautas autoritárias e pela minimização de ameaças ao Estado Democrático, evidencia uma confluência perigosa entre discursos populistas e a erosão dos valores democráticos. Suas recentes declarações, amplamente veiculadas na mídia, intensificam a polarização e agravam a insegurança institucional.
No campo político-partidário, tanto os partidos tradicionais de direita quanto a centro-esquerda foram prejudicados por alianças que os inserem em um mesmo sistema excludente, incapaz de promover mudanças reais que beneficiem a maioria, enquanto a extrema-direita capitaliza o ressentimento popular e aprofunda a divisão social. Diante desse contexto, torna-se urgente repensar estratégias e fortalecer a defesa dos direitos humanos e da justiça social, alinhando demandas identitárias a propostas econômicas que atendam às necessidades dos trabalhadores e dos setores mais vulneráveis da sociedade.
A construção de um futuro mais justo depende da mobilização coletiva em defesa da democracia, do resgate da memória histórica e da punição exemplar dos atentados antidemocráticos, para que as sombras do retrocesso nunca mais encontrem espaço para se reinstalar.
Chegou o momento de transformar a indignação em ação, erradicar de vez as sombras do autoritarismo e garantir que a memória histórica fortaleça a luta por um Brasil onde democracia, dignidade e justiça social sejam inegociáveis.