No Entrelinhas Vermelhas, programa semanal do Portal Vermelho, Ana Rocha*, jornalista e militante histórica da causa feminista, é a convidada às vésperas do 8 de Março, o Dia Internacional de Luta das Mulheres. Durante a entrevista, ela aponta as pautas em debate no governo, mas alerta para a resistência conservadora aos avanços para mulheres, legado do ambiente bolsonarista.
Assista a íntegra da entrevista:
Durante cerca de uma hora, a ex-assessora do Ministério das Mulheres destaca a recriação da pasta como símbolo da retomada de políticas públicas após o desmonte do governo Bolsonaro. “O ministério é um avanço, mas ainda enfrenta orçamento limitado”, afirma. Entre as iniciativas, ela cita:
- Combate à violência: meta de construir 40 Casas da Mulher Brasileira até 2026;
- Igualdade salarial: decreto para reduzir disparidade (mulheres ainda ganham 20% menos que homens);
- Política de cuidados: creches, lavanderias coletivas e outros serviços para reduzir a sobrecarga doméstica, que atinge principalmente mães solo (40% dos lares brasileiros).
Ana Rocha critica o desmonte de estruturas sob Bolsonaro: “Fecharam equipamentos e cortaram verbas, o que retrocedeu décadas de luta”.
Violência política de gênero: “A caça às bruxas da modernidade”
A especialista compara assassinatos como os de Marielle Franco e Margarida Alves à perseguição histórica a mulheres que desafiam o poder. “Quando uma líder se destaca, a reação conservadora é brutal”, diz. Ela defende a criação de um sistema de proteção similar à Lei Maria da Penha para vítimas de violência política, já que parlamentares e ativistas hoje arcam com custos de segurança e defesa jurídica.
Autonomia econômica X precarização: o nó do trabalho feminino
Ana Rocha ressalta que a entrada massiva de mulheres no mercado de trabalho não se traduziu em emancipação. “Engels dizia que a libertação viria com a redução do trabalho doméstico, mas ele só aumentou”, observa. Ana critica a uberização e a ideologia do empreendedorismo: “Isso isola as mulheres. A saída está em cooperativas e projetos coletivos”.
Feminismo emancipacionista: “Classe, raça e gênero são pilares indivisíveis”
Questionada sobre as correntes feministas, Rocha defende o viés marxista adotado pelo PCdoB: “Não existe mulher genérica. A opressão é vivida de formas distintas por negras, indígenas e pobres”. Ela critica visões fragmentadas: “Judith Butler reflete uma realidade específica, mas o neoliberalismo incentiva divisões. Precisamos de uma luta unificada”.
Exemplos de avanço citados:
- Cotas raciais e de gênero na Argentina e Bolívia, onde mulheres ocupam 40% dos parlamentos;
- Projetos como o Manifesto dos 99%, que integra pautas anticapitalistas ao feminismo.
“Mais mulheres na política para frear o retrocesso”
Para Ana Rocha, a saída está na ocupação de espaços de poder: “Precisamos de creches, mas também de vereadoras, deputadas e ministras”. Ela encerra com um chamado para o 8M: “Este 8 de Março deve ser de luta contra a fome, por emprego digno e pelo direito de existir fora da esfera privada”.
O programa completo está disponível no YouTube e Spotify do Portal Vermelho.
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*Ana Rocha é jornalista, psicóloga, mestra em serviço social no tema trabalho pela UERJ.
Pós-graduada em Políticas Públicas e Governo pela UFRJ.
Fundadora da Revista Presença da Mulher e primeira vice presidenta nacional da UBM( União Brasileira de Mulheres)
Publicou o livro Trabalhadoras da Faet, condições de trabalho e sobrecarga doméstica.
Foi do Conselho Editorial da revista Princípios, escrevendo vários artigos, dentre eles: Evolução da ótica de gênero no mundo do trabalho.
Presidente do PCdoB no estado do Rio de Janeiro de 1995 a 2013.
Coordenou o curso de extensão em Política na UNIRIO.
Secretaria de Políticas para as Mulheres da Prefeitura do Rio entre 2013 e 2016.
Assessora de gênero do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro de 2016 a 2023
Da Coordenação Nacional do Fórum sobre Emancipação das Mulheres do PCdoB, também integra o Comitê Central do Partido.
É Coordenadora nacional do Centro de Estudos e Pesquisa da UBM.
Escreveu o Dossiê sobre Emancipação das Mulheres para os estudos estratégicos do PCdoB,
Foi Secretaria Estadual da Mulher do PCdoB/RJ.
Foi Assessora no Ministério das Mulheres até dezembro 2024.
É chefe de gabinete da Deputada Federal Enfermeira Rejane.