Medida pode afetar avanço de modelos de IA e intensifica movimento por autossuficiência em chips na China
As novas restrições impostas pelos Estados Unidos às exportações dos chips H20 da Nvidia para a China devem impactar diretamente os planos de grandes empresas chinesas de tecnologia no setor de inteligência artificial.
A medida, anunciada na terça-feira, 15, exige licença prévia do governo norte-americano para que a Nvidia exporte os modelos ao mercado chinês, o que, segundo a própria empresa, poderá representar uma perda de até US$ 5,5 bilhões em receita.
O chip H20 foi desenvolvido especificamente para o mercado chinês após os Estados Unidos implementarem controles de exportação anteriores que atingiram modelos avançados da empresa, como A100, H100, A800 e H800.
Segundo especialistas, mesmo com os bloqueios, empresas chinesas continuavam a depender significativamente do H20 para o desenvolvimento e execução de modelos de linguagem de grande porte (LLMs).
Brian Colello, analista da Morningstar, afirmou que a receita da Nvidia com a China deve “cair para quase zero”. No ano passado, o mercado chinês respondeu por cerca de 10% do faturamento total da empresa. “Não prevemos uma reviravolta tão cedo”, declarou Colello em nota de análise publicada na quarta-feira (16).
A utilização do chip H20 por empresas como ByteDance e Tencent vinha sendo estratégica. Ambas utilizaram o modelo em seus projetos de inteligência artificial e, segundo dados da empresa de pesquisa Omdia, citados pelo Financial Times, cada uma encomendou cerca de 230 mil chips da série Hopper da Nvidia no ano passado, ficando atrás apenas da Microsoft, que adquiriu aproximadamente 485 mil unidades.
Para Gao Chengfei, diretor da consultoria Tiaoyuan, sediada em Guangzhou, o H20 se consolidou como peça central no desenvolvimento de IA.
“Com seu poderoso poder de computação e vantagens de eficiência energética, o chip H20 se tornou um hardware essencial para o treinamento de LLM”, afirmou.
Com a restrição, analistas avaliam que empresas chinesas terão dificuldades para acessar capacidade computacional suficiente no curto prazo, o que pode comprometer o ritmo de desenvolvimento dos modelos de linguagem e a velocidade de atualização de produtos.
A procura por chips H20 cresceu em 2025, especialmente após a adoção de modelos de IA desenvolvidos pela startup chinesa DeepSeek, com sede em Hangzhou.
Os modelos da empresa, de código aberto, ganharam ampla utilização, o que intensificou a demanda por soluções computacionais de alta performance. ]
Segundo informações publicadas pela Reuters em fevereiro, ByteDance, Tencent e Alibaba aumentaram significativamente os pedidos de chips após a popularização dos modelos da DeepSeek.
Diante da nova restrição, o governo chinês deve intensificar os esforços para reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros e fortalecer sua indústria local de semicondutores.
O movimento, que já vinha sendo implementado nos últimos anos, visa ampliar a autossuficiência tecnológica em setores considerados estratégicos.
Entre os fabricantes apontados como potenciais substitutos da Nvidia estão Huawei Technologies, Cambricon Technologies e Hygon Information Technology.
Os chips da série Ascend, produzidos pela Huawei, são citados por analistas como alternativas com bom desempenho e suporte técnico no ecossistema de IA. Já os produtos da Cambricon se destacam pela eficiência energética.
As empresas de tecnologia da China também têm investido em novos modelos e estruturas computacionais para contornar a limitação de acesso aos chips da Nvidia.
A Alibaba, por exemplo, deve apresentar ainda neste mês o AIStack, uma máquina voltada à computação de IA empresarial, com foco em leveza, baixo custo e integração. O lançamento será feito durante um encontro digital promovido em Fuzhou, no sudeste do país.
Outras soluções da Alibaba Cloud e da unidade de design de chips T-Head também serão apresentadas no evento. O objetivo é ampliar o portfólio de ferramentas que utilizem tecnologia nacional para treinamento de modelos de linguagem e outras aplicações baseadas em IA.
O Ant Group, afiliado do Alibaba voltado para serviços financeiros, já iniciou o uso de GPUs produzidas localmente em seus processos de treinamento de LLMs.
Segundo informações de um artigo publicado recentemente e reportagens da mídia chinesa, a empresa utiliza hardware da Huawei e do próprio Alibaba, com redução de custos operacionais em cerca de 20%.
A restrição aos chips H20 é mais um capítulo na disputa tecnológica entre Estados Unidos e China, que se estende a setores como telecomunicações, computação quântica e inteligência artificial.
O impacto imediato nas operações de grandes empresas chinesas deve ser acompanhado por uma resposta que inclui investimentos em pesquisa, substituição tecnológica e fortalecimento da cadeia produtiva nacional.