No dia 25 de fevereiro, o jornal A Verdade, pertencente ao partido Unidade Popular (UP), publicou uma entrevista com o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah. A matéria trata de temas como o genocídio na Faixa de Gaza e em toda a Palestina, além daquilo que o presidente da entidade acredita ser o rumo para a luta contra o sionismo.
A Fepal, no entanto, é uma organização que representa oficialmente a Autoridade Palestina (AP) no Brasil, o que faz com que Rabah acabe por expressar uma política de defesa dessa organização que, dentre outras denúncias, atua em aliança com a “Israel” no genocídio na Paestina, participando, inclusive, em assassinatos e prisões contra os palestinos na Cisjordânia, onde governa junto dos sionistas.
A Autoridade Palestina foi criada em 1994, como resultado dos Acordos de Oslo entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Desde sua formação, tem sido dominada pelo Fatah, o principal partido dentro da OLP. Seu primeiro líder foi Iasser Arafat, e, após sua morte, Mahmoud Abbas assumiu o controle. A AP exerce governo limitado sobre partes da Cisjordânia, mas sua popularidade é cada vez mais posta à prova pela população, que apoia a Resistência.
A matéria tem início com várias denúncias contra o sionismo, além da descrição por parte de Ualid Rabah sobre a vida do povo palestino sob a ocupação israelense, o regime de apartheid e o bloqueio que aflige Gaza e impede a entrada de alimentos, remédios e outros bens necessários para a vida da população. No entanto, nos deteremos neste artigo na parte final da entrevista.
Quando perguntado “Quais os próximos passos da luta palestina, tanto no território, a partir de suas organizações, quanto desse trabalho que a Fepal e outras organizações têm feito? Qual o papel da solidariedade internacional?”, Rabah responde:
“Bom, primeiro de tudo, os palestinos foram capazes de mostrar para o mundo, mesmo sob extermínio, o que é Israel. Isso não é pouca coisa.
Então, esse é um dado fundamental, é importante. Como é que o povo palestino resiste? Primeiro, ficando lá, construindo estruturas, construindo negócios, construindo casas, mantendo sua presença, mesmo sob ocupação, como entidade política, a OLP e a Autoridade Palestina, mantendo suas presenças na ONU, nas organizações internacionais, porque a resistência é um conjunto de elementos. Quando se considera a Palestina um país apto a estar no Tribunal Penal Internacional e, graças a isso, a Palestina pode peticionar no TPI e, com isso, obter um mandado de prisão contra os sionistas, isso é um ganho.”
Ou seja, segundo o presidente da Fepal, a forma de resistir por parte dos Palestinos é buscar a aceitação e o reconhecimento de organizações como a ONU, justamente a organização que criou o Estado de “Israel” e que serviu como o meio para a costura de vários acordos desfavoráveis aos palestinos, como os acordos de Oslo.
Já o TPI sempre se mostrou uma entidade feita para perseguir os inimigos do imperialismo e, se houve algum tipo de postura contra os sionistas, essa foi muito mais fraca do que o que o tribunal fez contra Vladimir Putin, por exemplo, por conta da guerra da Ucrânia, que não chegou perto do número de civis mortos na Palestina com poucos meses do genocídio, além de não ter como foco os civis. Além disso, o TPI não apenas emitiu mandados de prisão para os genocidas Netaniahu e Gallant, mas também contra o líder do Hamas, Mohammed Deif. Seria o mesmo de tentar prender Adolf Hitler e as lideranças dos partisanos que lutaram contra os nazistas.
A resposta de Ualid Rabah continua:
“Quando você tem embaixadas no mundo todo, quando você tem 151 países que te reconhecem, ou seja, política, diplomacia, resistência armada, manutenção da vida no terreno, tudo isso é resistência. Mas, se nós chegarmos ao fim disso, sem alcançar aquilo que conquistamos em Pequim, sob mediação chinesa, a reconciliação palestina de todas as forças e a construção de um governo de unidade, inclusive neste momento emergencial, que some o Fatah e o Hamas, todas as demais forças da Palestina, historicamente falando da OLP, todos eles estarem na OLP, chamando eleições em todos os níveis, porque nós não temos eleições para presidente na Palestina desde 2005, desde a morte de Arafat, e não temos em Gaza desde 2006.”
Segundo a argumentação de Ualid Rabah, a população resiste “ficando lá, construindo estruturas, construindo negócios, construindo casas, mantendo sua presença”, o que se soma a “política, diplomacia, resistência armada, manutenção da vida no terreno, tudo isso é resistência”.
A permanência da população palestina em suas terras, assim como o desenvolvimento precário do local, com pequenos comércios e algumas construções, realmente mostram a determinação do povo palestino. No entanto, o único meio de se acabar com a ocupação e, consequentemente, conseguir a independência da Palestina, é através da luta armada.
São vários os exemplos que comprovam que somente pela força é que a independência é possível. Por exemplo, no Afeganistão, a população em sua maioria permaneceu em suas terras durante a ocupação norte-americana. No entanto, apesar disso poder ter contribuído para a luta, o que realmente conquistou o país de volta para os afegãos foi a luta armada promovida pelo Talibã.
Rabah também comenta sobre a falta de eleições da Autoridade Palestina, mas não comenta o fato de que não há eleições desde 2005 pois seria certa a vitória do Hamas, o que “Israel” não aceitaria. Em 2006, as últimas eleições realizadas na Palestina, o Hamas venceu e, posteriormente, a AP não aceitou que houvesse nenhum outro pleito.
O Hamas é justamente a principal organização de luta da população palestina. As demonstrações de apoio após o início da primeira fase do cessar-fogo demonstram isso, já que o povo saiu às ruas junto dos militantes do Hamas e, ao contrário do que dizem as propagandas imperialistas, os agradecia.
Há pouco tempo, vimos no Brasil uma polêmica parecida com essa de como deveria ser a resistência do povo. Era ainda o governo de Bolsonaro e, durante muito tempo, a esquerda se recusava a levantar a palavra de ordem de “Fora Bolsonaro” e em seu lugar chamava a população a uma política de “resistência”. Longe de propor a luta armada, a “resistência” na época significava algo parecido com o apontado por Ualid Rabah. Era a ideia de que a população deveria aguentar calada os quatro anos de governo Bolsonaro, sem sair às ruas, mas tentando levar uma vida normal.
A resistência real, no entanto, pode nem sempre ter a ver com a luta armada imediata, mas sempre diz respeito a uma luta real, combatendo o inimigo por todos os meios necessários, não apenas esperando que a vida melhore por si só.