Na última sexta-feira (08), a emissora libanesa Al Mayadeen, um dos mais importantes órgãos favoráveis ao Eixo da Resistência, publicou artigo de opinião em que denuncia que o plano de reconhecer um Estado Palestino que está sendo anunciado por países imperialistas europeus, como Reino Unido, França, Alemanha Espanha, Portugal, Noruega, Finlândia, bem como pelo Canada, Austrália, Brasil, Turquia e outros, é um plano que serve a “Israel”, uma armadilha para o povo palestino.
Logo no começo do artigo, Al Mayadeen expõe a natureza contrarrevolucionária do plano, informando que “Macron, em carta a Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, pediu um ‘cessar-fogo imediato, a libertação de todos os reféns, ajuda humanitária maciça ao povo de Gaza… a desmilitarização do Hamas’ e um chamado Estado Palestino que reconheça plenamente ‘Israel’“, acrescentando que o cachorro do imperialismo e do sionismo, Abbas, “respondeu da mesma forma, insistindo, antes de mais nada, que um futuro estado palestino deve ser desarmado”.
Al Mayadeen afirma que um isto “não faz sentido, considerando que estados desarmados nem sequer existem”.
O referido plano foi formalizado recentemente através da Declaração de Nova Iorque, publicada durante a Conferência de julho de 2025 sobre a implementação da solução de dois Estados, evento organizado pela França e pela Arábia Saudita, realizado na Sede da ONU, em Nova Iorque. Como pontos fundamentais da declaração, apoiada pelo imperialismo de conjunto, está o desarmamento do Hamas (e toda a Resistência), um Estado Palestino desmilitarizado e a exclusão de todas as forças políticas palestinas que não reconheçam “Israel”.
A emissora também expõe que essa ofensiva contrarrevolucionária do imperialismo e do sionismo precisa acabar com o Hamas, o partido mais popular da Palestina e que lidera a resistência: “da mesma forma, Starmer [primeiro-ministro do Reino Unido], em sua própria declaração, também pediu ‘a remoção da liderança do Hamas’, e o primeiro-ministro canadense Carney pediu que a Autoridade Palestina, em sua visão ocidental de ‘paz’, realizasse eleições que excluíssem o Hamas”, informa Al Mayadeen, acrescentando que “isso ocorre sob o comando dos EUA e da Europa”.
Al Mayadeen informa que este plano para desmamar o Hamas e toda a Resistência Palestina, bem como pelo reconhecimento de um Estado Palestino desmilitarizado, é apoiado por países árabes lacaios do imperialismo: “aliados regionais intensificam o apelo pelo desarmamento da Resistência Palestina. Catar, Egito e (sem surpresa) Arábia Saudita se juntam ao apelo traiçoeiro pela desmilitarização de Gaza”.
A fome como arma contrarrevolucionária
A emissora também expõe a política de “Israel” e do imperialismo de matar os palestinos de fome com a arma contrarrevolucionária contra o Hamas e demais organizações da Resistência: “a fome de Gaza por ‘Israel’ é uma alavanca para os americanos e europeus, por mais díspares que sejam suas ações, pressionarem Gaza a aceitar um administração castrada no estilo da Autoridade Palestina, onde os objetivos da entidade sionista se alinham com os dos estados da UE, com os olhos marejados de crocodilos: o desarmamento do Hamas”.
Tentativa de desarmar Hesbolá faz parte do plano do imperialismo para desarmar Hamas e demais organizações da Resistência Palestina
No artigo, a emissora expõe igualmente que o plano do imperialismo e do sionismo também se estende ao desarmamento da resistência libanesa, isto é, do Hesbolá. O partido revolucionário xiita foi a organização do Eixo da Resistência (para além das organizações palestinas) que mais realizou operações contra “Israel” entre outubro de 2023 e novembro de 2024, dando contribuição fundamental à luta do povo palestino e à crise sem precedentes de “Israel”
“Ao mesmo tempo, aumenta a pressão no Líbano para desarmar a Resistência Libanesa, um objetivo dos EUA há pelo menos três décadas. Isso confirma o segredo aberto, desde a época do chamado ‘cessar-fogo’, de que a ocupação ‘israelense’ de uma ambiciosa ‘zona-tampão’ no sul do Líbano é reforçada pela pressão americana”, denuncia Al Mayadeen, acrescentando que “desde 18 de fevereiro, a entidade sionista começou a construir uma zona-tampão, dividida em cinco pontos-chave no sul”.
A emissora detalha esta questão da zona tampão, expondo-a não apenas como um plano de “Israel”, mas também dos Estados Unidos: “as aspirações de ‘Israel’ de retomar uma zona-tampão de 1978 no Líbano, bem como seus ataques ilegais ao país e os assassinatos rotineiros de cidadãos libaneses, funcionam como uma alavanca conveniente para os EUA estabelecerem seu consenso sobre a configuração do Líbano no ‘Novo Oriente Médio’”, avalia Al Mayadeen, destacando que “as mais de 4.000 violações do cessar-fogo são o ‘bastão’ e o trunfo dos EUA para pressionar o país à submissão; com o ‘alívio econômico’ condicional (ou seja, para desarmar a resistência), a proverbial isca”.
A emissora denuncia igualmente que, após recente visita de Thomas Barrack, enviado dos EUA, ao Líbano, ocasião em que ele declarou que os Estados Unidos “não podem mais” pedir concessões a “Israel”, ficou claro que “os EUA agora deixarão ‘Israel’ à solta e retornarão a ataques em larga escala contra a Resistência.
A Al Mayadeen expõe que a guerra contra o Hesbolá já está sendo preparada, com fontes locais relatando “distribuição de equipamentos de socorro” por todo o país, acrescentando que já está sendo feita uma campanha para atiçar conflitos internos. Nesse sentido, Al Mayadeen informa que “existe a possibilidade de que grupos militantes sectários sunitas sejam mobilizados como agentes para combater a resistência libanesa, atendendo às exigências dos EUA para que al-Jolani [presidente da Síria pós-golpe imperialista] atue como contra-insurgente contra o Hesbolá e o Irã”.
Ataques contra Irã fazem parte da ofensiva contra Palestina e Hesbolá
A emissora também expõe como a tentativa do imperialismo e do sionismo de desarmar o Hesbolá e o Hamas (e toda a Resistência Palestina) está vinculada aos recentes ataques contra o Irã, sejam os ataques militares, seja a campanha farsa contra o programa nuclear iraniano:
“Ao abrir a porta à agressão contra o Irã, o Ocidente coletivo sinaliza sua busca urgente por atacar coletivamente o único Estado e a única tábua de salvação da resistência regional – as únicas forças em todo o mundo que se levantam e respondem material e significativamente à campanha genocida de “Israel” contra os palestinos”, informa Al Mayadeen, acrescentando que as campanhas contra a Resistência Palestina e o Hesbolá “são parte integrante do esforço coletivo do Ocidente e de ‘Israel’ para eliminar a resistência e qualquer senso de Estado palestino significativo de uma vez por todas”.
“As potências ocidentais impõem aos libaneses e palestinos um ultimato que os obriga a se tornarem súditos de Estados vassalos israelenses”, destaca a Al Mayadeen , acrescentando, citando Naim Qassem, líder do Hesbolá, que “qualquer pessoa que hoje peça o desarmamento da resistência está essencialmente pedindo a entrega de armas a Israel”.
A Al Mayadeen frisa que o desarmamento “é veementemente rejeitado pelo Hesbolá, a única força que resta entre o Líbano e a normalização; pelo Hamas, o grupo da Resistência com alguma autoridade governamental na Palestina; pelo Ansar Alá [Iêmen], a Resistência Islâmica Iraquiana; e pelo Irã, o único Estado soberano na região”.
Concluindo sobre o plano dos países imperialistas europeus de reconhecerem um Estado Palestino, a Al Mayadeen avalia que esta manobra enganosa “confirma os sucessos da Resistência contra ‘Israel’”, frisando que “devemos, honestamente, avaliar tais ações […] como campanhas ativas de contrainsurgência projetadas apenas para salvar ‘Israel’ de si mesmo”.
A avaliação de Al Mayadeen, uma emissora ligada ao Hesbolá, coincide com a avaliação feita pelo Diário Causa Operária.
Em editorial publicado nesta terça-feira (12), é destacado que “a Declaração de Nova Iorque, emitida após uma reunião de cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU), está entre os documentos mais abjetos e cínicos já produzidos pelo imperialismo”, sendo “um apelo aberto a um golpe de Estado na Palestina”.