Resistência Bolivariana Tenaz Contra a Obstinada Agressão dos EUA
por Francisco Dominguez
Fonte original: https://orinocotribune.com/tenacious-bolivarian-resistance-against-obstinate-us-aggression/
Na véspera das eleições presidenciais da Venezuela, em 29 de julho de 2024, os correspondentes do The Guardian Tiago Rogero (sediado no Rio de Janeiro) e Sam Jones (sediado em Madrid) previram que a votação “poderia encerrar 25 anos de governo socialista” [1]. Mas não encerrou. No dia seguinte, 30 de julho, outro grupo de correspondentes do Guardian deu destaque à política venezuelana de extrema-direita Maria Corina Machado, citando sua afirmação de que “a saída de Maduro era inevitável”. No entanto, Nicolás Maduro foi empossado como presidente reeleito para o mandato de 2025-2031 em 10 de janeiro de 2025.
Após as eleições presidenciais de julho de 2024, ocorreram as eleições para deputados da Assembleia Nacional e todos os 24 governadores da estrutura federal da Venezuela em 25 de maio de 2025. A oposição de extrema-direita venezuelana, financiada pelos EUA e liderada por Machado, boicotou a votação. Meios de comunicação corporativos — incluindo The New York Times, The Washington Post, Le Monde, El País, a BBC e outros — moldaram sua cobertura rotulando a eleição como “divisiva” e citando amplamente a alegação de Machado de que “85% do eleitorado não obedeceu ao regime e disse não”. Na realidade, ela retratou falsamente o boicote da oposição como uma vitória política, sugerindo uma rejeição generalizada dos eleitores.
Diferentemente das eleições presidenciais de julho de 2024 — quando facções de extrema-direita incitaram violência nas ruas, resultando em 27 mortes pelas mãos de bandidos armados, incluindo dois ataques ao palácio presidencial —, as eleições legislativas e para governador de 25 de maio de 2025 (o 32º processo eleitoral da Venezuela) transcorreram de forma calma e pacífica. No entanto, o boicote da extrema-direita nunca foi apenas um protesto pacífico contra uma eleição organizada por um governo que eles se recusam a reconhecer. Suas ações foram muito além disso.
Em 28 de maio, o ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, informou a prisão de mais de 70 indivíduos de várias nacionalidades (venezuelanos, colombianos, americanos, argentinos, espanhóis, equatorianos, sérvios, albaneses e outros). Várias “ONGs” financiadas por estrangeiros pareciam estar envolvidas no plano. As autoridades apreenderam explosivos, fuzis de assalto e outros equipamentos militares destinados a ataques contra embaixadas estrangeiras, hospitais, serviços de emergência, subestações de energia, delegacias e figuras políticas de alto perfil — especialmente as da oposição que participaram das eleições. Os suspeitos haviam entrado na Venezuela pela Colômbia. Cabello também revelou que as Forças Armadas da Venezuela frustraram quase 60 ataques a instalações petrolíferas nos dez dias anteriores. As evidências indicavam que o grupo terrorista era liderado por líderes da extrema-direita venezuelana.
Esta não foi a primeira tentativa. O governo também relatou a prisão de mercenários vindos de Trinidad e Tobago, com ligações a uma rede mais ampla treinada no Equador – país que hoje é apontado como um centro de exportação de cocaína. Uma rápida olhada no mapa revela o cerco à Venezuela por forças hostis alinhadas aos EUA: Guiana, Equador, narcotraficantes colombianos e o Comando Sul (SOUTHCOM) ao norte e além.
A estratégia de boicote de Machado saiu pela culatra, fragmentando ainda mais sua coalizão já dividida, quando vários ex-boicoteadores decidiram se candidatar e pediram a seus apoiadores que votassem. O resultado? O chavismo conquistou 253 das 285 cadeiras da Assembleia Nacional e 23 dos 24 governos estaduais, incluindo a eleição de um governador para a Guiana Esequiba – território reivindicado pela Venezuela. O único governo não vencido pelo chavismo, Cojedes, ficou com Alberto Galíndez, um político de oposição que reconhece a legitimidade de Maduro e aceitou os resultados gerais. Além disso, o chavismo obteve 1,3 milhão de votos a mais que nas eleições de 2021, demonstrando apoio crescente. Com essa vitória, o presidente Maduro e a Revolução Bolivariana não apenas mantêm a presidência até 2031, mas também maiorias esmagadoras na Assembleia Nacional e entre os governadores.
Os resultados das eleições de maio de 2025 marcaram um triunfo retumbante para o governo bolivariano e uma derrota humilhante para a administração Trump – especialmente com a eleição do chavista Almirante Neil Villamizar como governador da Guiana Esequiba. Em 23 de maio, The Guardian citou o presidente da Guiana, Irfaan Ali, que denunciou a eleição nesse estado como um “ataque à soberania e integridade territorial da Guiana”. No entanto, a reportagem convenientemente omitiu qualquer menção ao Acordo de Genebra de 1966, que fundamenta a reivindicação venezuelana [2].
Em conluio com a Guiana, os EUA transformaram o país em um enclave militar, usando-o como base para provocações militares regulares contra a Venezuela desde 2021. Curiosamente, apenas um dia após a eleição, em 26 de maio de 2025, The Guardian publicou uma reportagem minuciosamente pesquisada, com fotos impressionantes – não sobre a eleição na Venezuela, mas sobre… o crocodilo-do-Orinoco.
Além de seu abstencionismo autodestrutivo, Machado e a extrema-direita minaram ainda mais sua credibilidade ao apoiar entusiasticamente as sanções dos EUA – defendendo, na prática, o estrangulamento econômico da Venezuela – e aplaudindo as políticas brutais de deportação de Trump contra latino-americanos, especialmente venezuelanos, a quem ele falsamente rotula como “criminosos controlados pelo governo“.
Quando questionada se apoiava a política extremamente impopular de Trump de deportar migrantes latinos e venezuelanos para a prisão CECOT em El Salvador – um local notório por torturas –, Machado respondeu: “Absolutamente!”, ecoando servilmente as alegações infundadas de Trump.
O histórico da oposição de extrema-direita venezuelana é simplesmente aterrorizante. Não apenas estiveram profundamente envolvidos com narcotraficantes colombianos para realizar atentados terroristas contra seu próprio país, mas seu líder, Juan Guaidó, chegou a se autoproclamar “presidente interino” em uma rua de Caracas em 2019. Pior ainda: essa alegação foi reconhecida pelo Ocidente coletivo liderado pelos EUA. Eles conspiraram com potências ocidentais para facilitar o confisco de ativos venezuelanos – incluindo ouro, contas bancárias e propriedades – em ações que não são nada menos que alta traição.
Com o apoio do Ocidente Coletivo, prolongaram a farsa da legitimidade da Assembleia Nacional de 2015 – onde já tiveram maioria – muito depois do término de seu mandato em 2020. Na verdade, ainda em 2025, cinco anos após o fim de seu mandato constitucional, continuam a alegar falsa legitimidade enquanto pagam mensalmente “proventos” em dólares americanos a seus legisladores obsoletos.
Sob o pretexto de uma ação humanitária para levar alimentos à força pela fronteira colombiana, chegaram a tentar uma incursão militar com paramilitares colombianos, com o objetivo de tomar o controle de uma cidade venezuelana e instalar um “governo provisório” a ser reconhecido pelos EUA e pelo Ocidente Coletivo.
As ações da oposição venezuelana são indefensáveis. Estiveram ligadas a múltiplas tentativas de assassinato contra o presidente Maduro, incluindo planos para decapitar a liderança política e militar da Venezuela usando explosivos. Organizaram uma invasão mercenária com o objetivo explícito de derrubar violentamente o governo bolivariano, assassinando Maduro e o maior número possível de líderes chavistas. Apoiaram com entusiasmo o bloqueio econômico dos EUA – que permanece em vigor – enquanto sabotavam todas as eleições desde 2013 por meio de distúrbios violentos.
Repetidamente, incitaram as Forças Armadas à revolta, pedindo a derrubada dos governos democraticamente eleitos da Venezuela (tanto sob Chávez quanto Maduro). Suas táticas incluem sabotagem sistemática de infraestrutura, sempre coincidindo com períodos eleitorais. Agravaram as sanções estadunidenses promovendo o acúmulo de produtos, inflacionando preços artificialmente e orquestrando escassez de bens básicos – causando deliberadamente sofrimento extremo à população. Pior ainda: manipularam a crise cambial venezuelana através do DolarToday, plataforma que publicava taxas de câmbio inflacionadas diariamente para alimentar a hiperinflação.
As transgressões da oposição vão ainda mais longe. Em várias ocasiões, contrataram o mercenário Erik Prince, chegando a lançar uma vaquinha online (Ya Casi Venezuela) para financiar sua proposta de derrubada violenta do governo Maduro. Atualmente, estão sob investigação do FBI por corrupção em larga escala, acusados de desviar quase US$ 1 bilhão em ajuda humanitária destinada a venezuelanos no exterior – sendo que apenas 2% foram efetivamente aplicados. Mais grave ainda: geriram fraudulentamente mais de US$ 40 bilhões em ativos venezuelanos por meio de contratos obscuros com empresas de Miami, trocando recursos nacionais por subornos pessoais. Sua tentativa de replicar o esquema do DolarToday foi rapidamente esmagada pelo governo, que agiu com decisão para encerrá-lo.
Essa subversão descarada se alinha aos objetivos mais amplos do imperialismo estadunidense. Em uma reafirmação flagrante da Doutrina Monroe, o almirante Alvin Holsey, comandante do SOUTHCOM, declarou ao Comitê de Serviços Armados do Senado (13 de fevereiro de 2025) que os EUA devem vencer a “competição estratégica com a China no Hemisfério Ocidental” e conter a “agenda maligna da Rússia” – citando Cuba, Venezuela e Nicarágua como seus “condutos”. Assim, Washington agora enquadra abertamente seu ataque à Revolução Bolivariana como parte de sua disputa geopolítica com China e Rússia. O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, reforçou essa posição em 6 de junho de 2025, declarando sem rodeios: “Estamos nos preparando para a guerra com a China.”
No entanto, apesar de 12 anos de agressão implacável desde a morte do Comandante Chávez, o povo venezuelano demonstrou uma resiliência extraordinária, desafiando as previsões de um colapso inevitável. E a resposta do governo? Aprofundar a democracia. Às vésperas das próximas eleições municipais e para prefeitos (27 de julho de 2025), a Venezuela está intensificando seu modelo de democracia participativa, fortalecendo as comunas – conselhos autogeridos de base, onde as comunidades decidem e implementam diretamente projetos para melhorar suas condições de vida: democracia direta em ação.
O presidente Maduro anunciou a “criação do Fundo de Portfólio Comunal do orçamento nacional”, que destinará recursos diretamente a projetos desenvolvidos pelas comunidades locais. Esses fundos serão administrados por circuitos comunais, com prioridades de gastos decididas democraticamente pelos próprios habitantes das comunas.
Em uma entrevista reveladora (7 de junho de 2025), Jesús Faría, vice-ministro da Economia Produtiva do PSUV, destacou a urgência de acelerar a expansão da democracia direta comunal e consolidar o poder popular. Faría fez uma observação crucial: o PSUV deve liderar o avanço do sistema de comunas. Com dezenas de milhares de organizações de base em toda a Venezuela, o PSUV mantém uma hegemonia gramsciana – não por imposição, mas por articular organicamente esse ecossistema social vibrante em uma força coesa pelo socialismo. Seus laços estruturais com as comunas permitem harmonizar e mobilizar esse rico universo social para a construção socialista.
Assim, mesmo enquanto o imperialismo estadunidense intensifica sua cruzada fanática para destruir a Revolução Bolivariana, a Venezuela está fortalecendo suas bases socialistas. Ao empoderar as comunas, aprofundar a democracia participativa e reforçar o papel de vanguarda do PSUV, a revolução está construindo uma resiliência inabalável – provando que o poder popular, e não a agressão imperial, moldará o futuro da Venezuela.
[1] Se considerarmos dezembro de 1999 como o início, a Revolução Bolivariana completa 25 anos; a Campanha de Solidariedade à Venezuela foi fundada em 25 de maio de 2005, completando agora 20 anos. Prestamos homenagem ao processo bolivariano por manter vivo e realizar o sonho da humanidade por um mundo melhor. [2] Para detalhes sobre a disputa Venezuela-Guiana, consulte Francisco Dominguez: https://en.aterraeredonda.com.br/a-disputa-guiana-venezuela/Francisco Dominguez, um ex-refugiado chileno no Reino Unido, é o Chefe do Centro de Estudos Brasileiros e Latino-Americanos na Universidade de Middlesex, em Londres, Reino Unido.
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