A ascensão do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) ganhou um novo impulso com o apoio do bilionário Elon Musk, que promoveu uma live com Alice Weidel, candidata à chancelaria, em sua plataforma X (antigo Twitter). A transmissão, realizada na última quinta (9), colocou a sigla em destaque internacional e escancarou as tensões políticas na Alemanha e na Europa.
Musk, conhecido pelo apoio a figuras de extrema direita, como Donald Trump, agora enfrenta resistência tanto da população alemã quanto de líderes políticos europeus, que vêem suas ações como uma tentativa de interferir nas eleições de 23 de fevereiro.
Nas pesquisas de intenção de voto, a AfD figura como a segunda força política, com cerca de 20% de apoio, resultado de um crescimento vertiginoso ao longo da última década. Apesar de seu avanço, o partido ainda encontra barreiras para consolidar poder devido à rejeição por outros partidos e à mobilização de movimentos populares contra sua ideologia nazifascista.
A conversa, que contou com mais de 200 mil espectadores, apresentou um discurso alinhado entre Musk e Weidel. A líder da AfD reiterou promessas de campanha que incluem “remigração”, termo usado como eufemismo para deportações em massa, fechamento de fronteiras e abandono de políticas de transição energética. Musk, por sua vez, classificou as propostas como “senso comum” e afirmou que a AfD é “a última esperança para salvar a Alemanha”. Durante a live, ambos criticaram duramente o governo do chanceler Olaf Scholz, a quem Musk já chamou de “louco” e “incompetente” em postagens anteriores.
A reação da sociedade alemã foi imediata. Neste sábado (11), mais de 10 mil manifestantes tomaram as ruas de Riesa, na Saxônia, onde a AfD realizava sua convenção para confirmar Alice Weidel como candidata à chancelaria. O protesto, organizado por movimentos de esquerda e antifascistas, atrasou o início do evento em duas horas e bloqueou estradas próximas ao local.
“Não aos nazistas” e “Defendamos nossa democracia” eram os gritos que ecoavam nas ruas. Apesar da forte presença policial, que usou sprays de pimenta contra os manifestantes, a mobilização reforçou a mensagem de que a extrema direita ainda enfrenta resistência na Alemanha.
A convenção de Riesa ocorreu em meio a um cenário político polarizado. A AfD, que já lidera as intenções de voto na Saxônia, busca expandir sua base nacionalmente com um discurso anti-imigração e contra as políticas ambientais.
Durante o evento, Weidel prometeu derrubar turbinas eólicas, reativar usinas nucleares e reverter subsídios ambientais, alinhando-se à narrativa populista de que a transição energética prejudica os mais pobres. A líder também agradeceu publicamente o apoio de Musk, que definiu como “uma força global em defesa da liberdade de expressão”.
Na Europa, o comportamento de Musk gerou uma onda de críticas. O presidente francês, Emmanuel Macron, classificou o bilionário como “um aliado de movimentos reacionários que ameaçam nossas democracias”. Na Espanha, o primeiro-ministro Pedro Sánchez alertou que a “internacional ultradireitista”, liderada por figuras como Musk, está promovendo o ódio e atacando instituições democráticas. A Comissão Europeia, por sua vez, anunciou que está investigando possíveis violações das regras do Digital Services Act (DSA) pela plataforma X, que teria promovido desinformação e favorecido a AfD de forma desleal.
O impacto das ações de Musk foi além do cenário político. Mais de 60 universidades e instituições de pesquisa na Alemanha e na Áustria anunciaram que estão abandonando a plataforma X, acusando-a de fomentar discursos extremistas. Um comunicado conjunto afirmou que o algoritmo da rede social prioriza conteúdos populistas e polarizadores, incompatíveis com valores democráticos e científicos. Até mesmo clubes de futebol da Bundesliga, como o Bayern de Munique, decidiram deixar a rede social em protesto contra a interferência de Musk no debate público.
Enquanto isso, Olaf Scholz enfrenta dificuldades para conter o avanço da AfD e retomar a confiança da população. Nas pesquisas, a sigla de extrema direita aparece com cerca de 20% das intenções de voto, atrás apenas da CDU, liderada por Friedrich Merz, que desponta com 30%. A coalizão liderada por Scholz desmoronou em meio a crises econômicas e políticas, deixando um vácuo que a AfD tenta preencher com discursos que capitalizam o descontentamento popular.
Em meio a este cenário, líderes europeus defendem a manutenção de um “cordão sanitário” contra a AfD, que impede alianças do partido com outras siglas. A estratégia, mantida desde 2016, tem isolado a extrema direita no Parlamento alemão, mas agora enfrenta novos desafios com a crescente legitimação promovida por figuras como Musk. A Comissão Europeia prometeu usar “todos os meios legais disponíveis” para proteger a integridade das eleições na Alemanha e combater a desinformação.
A resistência à extrema direita não é apenas política. O protesto em Riesa e a saída em massa de instituições da plataforma X mostram que setores da sociedade ainda estão dispostos a lutar pela democracia. No entanto, a escalada de discursos populistas e o apoio de bilionários como Musk indicam que a batalha está longe de terminar. O resultado das eleições de fevereiro será um teste crucial para o futuro da democracia na Alemanha e na Europa, em um momento em que as forças autoritárias buscam avançar.