A indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central, anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gerou uma mistura de otimismo cauteloso e preocupações entre especialistas e líderes sociais. Galípolo, que atualmente ocupa a Diretoria de Política Monetária do BC, foi descrito por alguns como um nome que pode significar uma mudança de postura na instituição, enquanto outros expressaram incertezas sobre o futuro de sua gestão.
O Portal Vermelho consultou seis analistas de orientação econômica heterodoxa para observar como foi recebida a notícia. Enquanto alguns veem sua nomeação como uma oportunidade para modernizar e alinhar o BC às políticas econômicas do governo, outros expressam dúvidas sobre sua capacidade de enfrentar os desafios impostos pela economia brasileira e as pressões do mercado financeiro.
A nomeação de Galípolo abre um novo capítulo na política monetária brasileira. Com uma formação crítica e uma visão que equilibra a responsabilidade fiscal com as demandas sociais, Galípolo enfrenta o desafio de modernizar o Banco Central, promover uma comunicação mais eficiente e transparente, e, eventualmente, ajustar a política de juros em um cenário global em transformação.
Sua gestão será acompanhada de perto por analistas, economistas e pela sociedade em geral, que esperam ver como ele vai navegar pelas complexas águas da economia brasileira. A sabatina no Senado será o próximo passo para definir o futuro de Galípolo à frente da política monetária do país.
Expectativas do movimento sindical
Adilson Araújo, presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), expressou uma expectativa clara de que Galípolo, caso aprovado, se alinhe aos interesses da população ao invés de ceder às pressões do mercado financeiro.
“Espero que ele seja sensível aos anseios do povo brasileiro e trabalhe pela redução da taxa básica de juros, em vez de fazer a vontade do mercado financeiro e encher as burras dos rentistas.”, afirmou Araújo.
Araújo ressaltou a necessidade de uma redução da taxa básica de juros, a Selic, destacando que o Brasil não pode continuar a ser o “campeão mundial dos juros reais”. Segundo ele, a manutenção de juros elevados tem sacrificado investimentos e o consumo, impedindo o crescimento econômico e o desenvolvimento do país.
Controle da política monetária?
Para Wellington Duarte, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a indicação de Galípolo reflete o “haddadismo” na condução das políticas econômicas, mas com uma ressalva importante: ainda não está claro se o governo terá, de fato, mais controle sobre a política monetária.
“Galípolo é o ‘haddadismo’, mas, pelo menos, parece que o governo terá mais controle da política monetária… o termo ‘parece’ diz tudo, né?” disse Duarte, sugerindo que, embora a indicação possa trazer um alinhamento maior entre o BC e o governo, ainda há incertezas sobre o real impacto dessa mudança.
Modernização e independência na política monetária
Diogo Santos, economista formado pela UFMG, avaliou que a indicação de Galípolo era esperada, dadas suas credenciais e a proximidade com Lula. No entanto, Santos sublinhou que a atuação do economista à frente do BC será acompanhada com grande expectativa.
“É um economista de formação crítica, portanto cresce a expectativa sobre sua atuação. Para além da taxa de juros, ele deveria levar à frente uma agenda de modernização do BC, como colocar os objetivos de controle da inflação e busca do pleno emprego no mesmo nível hierárquico”, sugeriu Santos.
Desafios econômicos e reações de mercado
Marcos Antonio Costa, economista pela UFF, viu a indicação como um movimento carregado de simbolismo e uma potencial ruptura com a ortodoxia econômica vigente.
“Muito bom. Simbolismo grande. Indicado pelo presidente Lula. Não comunga com a teoria ortodoxa vulgar. Seguidor da boa economia na tradição de Marx e Keynes”, disse Fernandes, sugerindo que a indicação pode sinalizar uma mudança de direção na política monetária do país.
Atenção aos desafios e ao controle do mercado financeiro
Paulo Kliass, economista especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, adotou uma postura mais cautelosa, lembrando que a indicação de Galípolo ocorre em um contexto político complexo.
“A nomeação veio da parte do Lula na tentativa de agradar ao setor financeiro, mas tenho receio que ele continue atendendo aos interesses dos grandes conglomerados financeiros”, alertou Kliass, enfatizando a importância de o novo presidente do BC atuar com firmeza para controlar os spreads bancários e democratizar o acesso ao sistema financeiro.