Remoção forçada de Glauber Braga expõe dois pesos e duas medidas na Câmara

O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) foi retirado à força da cadeira da presidência da Câmara dos Deputados após ocupar o espaço em protesto contra o processo que pode cassar seu mandato.

Policiais legislativos o mobilizaram, esvaziaram o plenário, expulsaram assessores e interromperam a transmissão oficial da TV Câmara, o que levantou uma nova frente de questionamento sobre a atuação da Polícia Legislativa e a coerência institucional da Casa.

A cena, de forte impacto político, contrasta com episódios similares protagonizados por parlamentares bolsonaristas — que, ao ocuparem a Mesa Diretora para impedir votações ou pressionar adversários, não foram tocados pela Polícia Legislativa.

Quando bolsonaristas ocuparam a Mesa — e nada aconteceu

Em novembro de 2023, deputados do PL, entre eles Carla Zambelli, Bia Kicis, André Fernandes e Nikolas Ferreira, ocuparam a Mesa Diretora em protesto contra a agenda de votações.

Naquele dia, os parlamentares permaneceram sentados na cadeira da presidência, discursaram ao microfone, fizeram transmissões ao vivo e chegaram a impedir fisicamente o andamento da sessão.

Nenhum deles foi retirado.

Em fevereiro de 2024, a cena se repetiu. Deputados bolsonaristas voltaram a ocupar a Mesa para obstruir a pauta da Câmara — novamente sem qualquer intervenção da Polícia Legislativa. Na ocasião, a Presidência optou por suspender a sessão e negociar, sem autorizar ação física.

Esses episódios ficaram marcados pela tolerância institucional e pela ausência de medidas coercitivas, mesmo diante de protestos que também feriam o regimento interno da Casa.

Por que neste caso foi diferente?

A remoção de Glauber foi imediata e contundente — um contraste que acendeu o alerta sobre seletividade política dentro da Câmara. O episódio ocorre justamente no dia em que o presidente Hugo Motta anunciou que o Plenário decidirá sobre o mandato do deputado, após recomendação do Conselho de Ética por quebra de decoro.

Braga reagiu ao anúncio classificando o processo como “perseguição política” e denunciando que a Casa estaria atuando “a serviço de interesses externos”, em referência à pressão da base conservadora para consolidar sua cassação.

Sua ocupação da Mesa foi uma forma de protesto — similar às ações já normalizadas por deputados bolsonaristas. A resposta, porém, não foi.

Esvaziamento do plenário e corte da TV Câmara aprofundam suspeitas

Além da remoção física, o episódio ganhou contornos ainda mais graves:

  • O plenário foi esvaziado às pressas.
  • Assessores e jornalistas foram retirados.
  • A TV Câmara interrompeu a transmissão da sessão, eliminando o registro ao vivo do momento.

Somado ao uso da força, o conjunto das medidas levantou questionamentos sobre transparência, abuso de autoridade e manipulação institucional para controlar o ambiente político durante a tramitação da cassação.

Artigo Anterior

Vitória dupla impulsiona Petra Costa na disputa do Oscar com novo documentário

Próximo Artigo

Líder do PT diz no plenário que Motta perdeu as condições de presidir a Câmara

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!