Neste momento em que Bolsonaro enfrenta um julgamento que pode levá-lo à prisão, é oportuno relembrar todas as denúncias que existem contra o ex-presidente. A trajetória de Jair Bolsonaro é marcada por uma série de atos e omissões que, para muitos, configuram um padrão de conduta criminosa e irresponsável, com graves consequências para o Brasil e seu povo.

Em 18 de outubro de 2021, a nação ouviu o desabafo dilacerante de Márcio Antonio do Nascimento Silva, pai de Hugo Dutra, durante a CPI da Pandemia: “Eu daria a minha vida para meu filho ter a chance de ser vacinado. Não tinha vacina, não tinha máscara.” Essa declaração, proferida em meio às investigações sobre a catastrófica gestão da pandemia no Brasil, ressoa como um grito de dor e uma acusação direta àqueles que falharam em proteger a vida dos cidadãos.

A gestão criminosa da pandemia e a tentativa de golpe

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia não hesitou em apontar nove crimes atribuídos diretamente a Jair Bolsonaro. O relatório final da CPI detalhou acusações gravíssimas, incluindo prevaricação, charlatanismo, epidemia com resultado morte, infração a medidas sanitárias preventivas, emprego irregular de verba pública, incitação ao crime, falsificação de documentos particulares, crime de responsabilidade e crimes contra a humanidade. A gestão federal foi duramente criticada por sua omissão deliberada e por uma atuação desprovida de qualquer base técnica, promovendo um “gabinete paralelo” que defendia a imunização natural, tratamentos sem comprovação científica e o desestímulo a medidas preventivas, culminando em um atraso criminoso na aquisição de vacinas. Para uma análise aprofundada, o relatório oficial da CPI é um documento essencial.

As denúncias contra Bolsonaro não se limitam à pandemia. A Polícia Federal (PF) desvendou um esquema de falsificação de certificados de vacinação contra a COVID-19, orquestrado pelo ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro César Cid. Este esquema criminoso forneceu certidões fraudadas a pelo menos nove pessoas, incluindo o próprio Jair Bolsonaro e sua filha Laura, com o objetivo de burlar as exigências de entrada nos Estados Unidos. Bolsonaro, Cid e outros 15 indivíduos foram indiciados pela PF por crimes relacionados a essa fraude. Detalhes sobre a fraude do cartão de vacina de Bolsonaro revelam a extensão da ilegalidade.

A sombra de um golpe de Estado paira sobre o ex-presidente. Bolsonaro e outros 33 indivíduos foram formalmente acusados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de uma suposta tentativa de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022. As acusações são de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Segundo a PGR, o plano golpista, gestado a partir de 2021, visava descredibilizar o sistema eleitoral e contava com o apoio das Forças Armadas. Os atos de 8 de janeiro de 2023, que resultaram na depredação de prédios públicos em Brasília, teriam sido fomentados e facilitados por essa organização criminosa, e o plano só não obteve sucesso devido à falta de adesão dos generais do Exército. A BBC News Brasil detalha como o ex-presidente teria liderado a tentativa de golpe.

Ataques à democracia, gafes e a equipe desqualificada

O governo Bolsonaro foi marcado por um ataque sistemático à imprensa e à liberdade de expressão. Em 2022, foram registrados 376 casos de agressão a jornalistas e veículos de comunicação, quase um por dia. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) identificou Jair Bolsonaro como o principal agressor, responsável por 104 casos, que incluíram a descredibilização da imprensa e agressões diretas a profissionais. A CUT apresenta dados sobre os casos de agressão a jornalistas.

A postura beligerante de Bolsonaro se estendeu a figuras políticas nacionais, como o então governador de São Paulo, João Doria. A rivalidade entre ambos, acentuada durante a pandemia por divergências sobre medidas de isolamento social e a aquisição de vacinas, expôs a polarização e a falta de coordenação no cenário político nacional.

No âmbito internacional, a política externa de Bolsonaro foi um desastre. O alinhamento automático e acrítico com os Estados Unidos e Israel gerou críticas e preocupações sobre o isolamento do Brasil no cenário global. Essa postura rompeu com uma tradição diplomática brasileira de equidistância e autonomia, prejudicando as relações com diversas nações. A BBC News Brasil aborda o alinhamento do Brasil com os EUA e Israel.

As relações com a China, o maior parceiro comercial do Brasil, foram abaladas por declarações e atitudes hostis de Bolsonaro e membros de seu governo. Ataques xenofóbicos e acusações infundadas sobre a origem da pandemia e a tecnologia 5G geraram atritos diplomáticos e preocupações sobre o impacto nas relações comerciais. A Folha de S.Paulo relembra os ataques de Bolsonaro à China.

As gafes internacionais de Bolsonaro foram inúmeras e constrangedoras. Desde confundir o nome de John Kerry com Jim Carrey até a agressão verbal à primeira-dama francesa, Brigitte Macron, com comentários machistas que provocaram repúdio global. O UOL documenta as gafes e polêmicas de Bolsonaro em viagens internacionais.

A escolha de ministros e outros membros da equipe de governo foi frequentemente criticada pela nomeação de indivíduos incompetentes ou com histórico de declarações preconceituosas. Essa prática, baseada em critérios ideológicos em detrimento da qualificação técnica, gerou instabilidade e ineficiência em diversas áreas da administração pública. A presença de figuras com discursos alinhados a pautas conservadoras e discriminatórias reforçou a percepção de um governo com viés ideológico forte e pouca abertura ao diálogo, comprometendo a governabilidade e a imagem do país.

O desastre econômico e social

A gestão de Jair Bolsonaro deixou um rastro de destruição na economia e na sociedade brasileira. Indicadores revelam uma piora acentuada em diversas áreas, especialmente entre 2020 e 2021, período que combinou os efeitos da pandemia de COVID-19 com decisões políticas desastrosas. Embora uma recuperação pífia tenha sido observada em 2022, ela não foi suficiente para reverter completamente as perdas acumuladas. A DW apresenta a trajetória de indicadores econômicos sob Bolsonaro.

O Produto Interno Bruto (PIB), termômetro da riqueza produzida pelo país, apresentou um desempenho fraco já no primeiro ano do governo Bolsonaro (2019), indicando uma tendência de queda antes mesmo da chegada da pandemia. Em 2020, com a eclosão da crise sanitária, o PIB registrou uma retração acentuada de 3,9%. A recuperação em 2021 foi impulsionada principalmente pelo setor de serviços, mas a desaceleração já era perceptível em 2022, demonstrando a fragilidade da retomada econômica.

Nos dois primeiros anos do governo (2019-2020), a inflação manteve-se sob controle. No entanto, a partir de 2021, os preços dispararam, culminando em uma inflação anual de 10,06%, muito acima da meta estabelecida pelo Banco Central. A escalada dos preços se intensificou em 2022, influenciada pela guerra na Ucrânia, que elevou o custo dos combustíveis. Medidas governamentais, como o limite no ICMS sobre combustíveis, contribuíram para um recuo da inflação no segundo trimestre de 2022, mas o impacto devastador no poder de compra da população já era inegável.

A taxa de desemprego, que se manteve relativamente estável em 2019 (na faixa de 12%), foi severamente impactada pela pandemia. Em março de 2021, atingiu o pico de 14,9%. Embora tenha havido uma recuperação posterior, chegando a 8,9% em agosto de 2022, essa melhora foi marcada pela criação de vagas de menor qualidade e remuneração, predominantemente no setor de serviços, indicando uma precarização alarmante do mercado de trabalho.

O rendimento médio real da população registrou uma queda consistente nos três primeiros anos do governo Bolsonaro. Em 2021, o valor atingiu R$ 2.265, o menor da série histórica iniciada em 2012. Essa piora foi agravada por mudanças na concessão do auxílio emergencial e pela alta inflação. A queda no rendimento foi mais acentuada nas camadas mais pobres da população, contribuindo para um aumento preocupante da desigualdade de renda. A maior queda relativa do rendimento (33,9%) entre 2020 e 2021 ocorreu nos 5% da população com menor renda, que também perderam 48% de rendimento em comparação com 2012.

O gráfico a seguir ilustra a trajetória do rendimento médio mensal real domiciliar per capita no Brasil durante o período de 2019 a 2022, evidenciando a queda e a lenta recuperação:

Gráfico de Rendimento Médio Mensal Real Domiciliar Per Capita no Brasil (2019-2022)

Conclusão: um legado de crimes e retrocessos

As denúncias da CPI da Pandemia, as acusações de tentativa de golpe de Estado, as controvérsias em relações internacionais, as agressões à imprensa e a análise dos indicadores econômicos e sociais durante o governo Bolsonaro revelam um período de profundas transformações e desafios para o Brasil. As informações apresentadas, baseadas em fontes verificáveis, buscam oferecer uma visão objetiva dos fatos, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada dos eventos que marcaram a gestão do ex-presidente e seu legado para o país.

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Last Update: 11/06/2025