Conversas em um grupo de WhatsApp obtidas pela Polícia Federal (PF) revelaram que militares demonstraram pouca preocupação com possíveis punições por uma tentativa de golpe para tirar o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) do poder. As informações foram incluídas nos anexos do inquérito sobre a trama golpista divulgados nesta semana.
Em uma mensagem de 4 de janeiro de 2023, um dos integrantes do grupo “Dossss!!!”, administrado, entre outros, pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, afirmou que o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), não iria “mexer nesse vespeiro” e que uma eventual “caça às bruxas” dentro do Exército seria como “apagar fogo com gasolina”.
“Se alguem tiver lido nossas mensagens, vai preferir fingir que não leu. Primeiro que além desse grupo existem milhares outros. Vão mandar prender ou punir todo mundo? Na bucha eles preferem fingir que está tudo bem, que as FA não são golpistas. (…) Mas na prática ninguém quer mais instabilidade ainda. Imagina o AM (Alexandre de Moraes) mexendo nesse vespeiro! Imagina dentro da própria Força essa eventual caça às bruxas!!! = apagar fogo com gasolina”, diz a mensagem enviada no grupo.
A PF começou a investigar o grupo de bate-papo após um dos participantes compartilhar uma carta para pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes, a apoiar o plano golpista no final de 2022. “E aí, agora todos colocaremos o nome nessa rela aí. Ou seremos leões de Zap”, escreveu um militar, incentivando adesões ao documento.
As mensagens de teor golpista levaram a PF a intimar alguns integrantes do grupo para depoimentos. Um deles explicou que o nome “Dossss!!!” fazia referência à última sílaba de “Comandos” e que o grupo era composto por cerca de 90 militares que passaram pelos batalhões das Forças Especiais, conhecidos como “kids pretos”.
Em uma outra mensagem, um membro questionou: “Vai ter careca sendo arrastado por blindado em Brasília?”, em clara ameaça ao ministro do STF. Pelo menos seis “kids pretos” foram mobilizados para executar um plano que incluía matar o presidente Luís Inácio Lula da Silva, seu vice Geraldo Alckmin, e Moraes.