A Polícia Federal (PF) e a Advocacia-Geral da União (AGU) foram citadas em investigações sobre o plano golpista para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder após as eleições de 2022. De acordo com as apurações, auxiliares do ex-presidente buscaram utilizar esses órgãos para questionar a credibilidade das urnas eletrônicas e desobedecer decisões judiciais.
Interceptações telefônicas identificaram diálogos entre os generais Mario Fernandes e Roberto Criscuoli. Em uma dessas conversas, dois dias após o segundo turno, foi discutida a ida de um hacker à Superintendência da PF no Distrito Federal para denunciar supostas falhas no sistema eleitoral. A intenção seria abrir um inquérito para lançar dúvidas sobre o processo.
O então superintendente da PF no DF, Victor Cesar dos Santos, descartou o prosseguimento da denúncia por falta de elementos que justificassem uma investigação. Segundo ele, o procedimento foi conduzido de forma regular, e o caso foi arquivado após a análise dos peritos indicar ausência de crime.
“Eles falaram comigo. O cara seria um hacker que faria uma denúncia. A gente designou dois peritos para acompanhar a oitiva. Procedimento normal: eles tomaram a declaração e, no final, me ligaram: ‘Chefe, não vimos crime nenhum, o cara não falou nada com nada’. Como não tinha crime, mandei para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), porque falava sobre sistema. Para mim, foi uma ocorrência normal”, disse o delegado em entrevista ao Globo. “Se eu instauro inquérito, faria um barulho muito grande. Não sou irresponsável”.
O general Mario Fernandes, atualmente preso preventivamente, também teria mencionado que Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, foi acionado para intervir no caso. Em mensagens obtidas, Fernandes afirma que a denúncia fazia parte de uma estratégia para questionar o resultado das urnas, sem envolver diretamente o ex-presidente.
Anotações manuscritas atribuídas ao general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, indicam orientações para desobedecer ordens judiciais. Entre as propostas, Heleno sugeria o uso da AGU para impedir a PF de executar mandados que fossem considerados “ilegais” e até a prisão de delegados que cumprissem tais ações.
“Tal intento, visava obstar a Polícia Federal de exercer seus deveres constitucionais, no cumprimento de determinações judiciais contra seu grupo político e apoiadores. O caminho seria através do Ministério da Justiça acionar a AGU”, anotaram os investigadores.
Documentos encontrados com o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) reforçam as evidências. Ramagem propôs ao ex-presidente medidas para enfraquecer a autonomia de delegados federais e aumentar o controle do diretor-geral da PF sobre investigações estratégicas, além de recomendar pareceres da AGU para justificar o descumprimento de ordens judiciais.
As investigações também apontam o envolvimento de membros das Forças Armadas e agentes da Abin e da Polícia Rodoviária Federal na trama. Cada grupo teria funções específicas nos planos, discutidos em reuniões nos palácios do Planalto e da Alvorada durante o governo Bolsonaro.
O relatório da PF, entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), já resultou no indiciamento de três servidores. Entre eles está Wladimir Matos Soares, que, segundo as investigações, forneceu informações confidenciais sobre a equipe de segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a transição de governo.
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