Na última sexta-feira (23), a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) realizou uma audiência pública para discutir a precariedade dos entregadores por aplicativo, convocada pela deputada Marina do MST. Um estudo da ONG Ação da Cidadania revelou que 30% desses trabalhadores no Rio e em São Paulo passam fome diariamente, destacando as condições desumanas enfrentadas por essa categoria.
A pesquisa, conduzida pela Ação da Cidadania com o Instituto Vox Populi, entrevistou 1.700 entregadores e mostrou que 91,5% têm o serviço de entregas como ocupação principal, 56,7% trabalham todos os dias, e 88,8% usam veículo próprio. No Rio, 48,7% utilizam bicicletas mecânicas, enquanto em São Paulo, 87,1% usam motocicletas. A insegurança alimentar grave atinge 36,6% dos trabalhadores com renda familiar abaixo de dois salários mínimos. Marina do MST afirmou: “a plataformização tem se expandido e gerado mudanças profundas no mundo do trabalho. temos milhares de entregadores que não conseguem garantir a própria alimentação, enquanto as empresas de delivery lucram bilhões”.
As plataformas iFood, Uber, Rappi e 99 foram convidadas, mas apenas o iFood respondeu, recusando participação “por motivos de força maior”. Um “breque dos apps” em 31 de março e 1º de abril mobilizou entregadores em 70 cidades, mas o iFood ofereceu apenas R$0,50 a mais para ciclistas e R$1 para motociclistas, considerado insuficiente. A audiência propôs regulamentações estaduais para garantir equipamentos de segurança, seguro de saúde e manutenção de veículos.
Segundo o Dieese, 1,5 milhão de trabalhadores atuam em plataformas de entrega no Brasil, sem direitos trabalhistas ou proteção social. O fenômeno reflete a crise econômica, que empurra 39,8% da força de trabalho na informalidade, conforme o IBGE. A audiência reuniu representantes do Ministério Público do Trabalho e da Secretaria de Trabalho do Rio, buscando políticas públicas para a categoria.