Reitoria da UFBA deu água com fezes a estudantes

Na última terça-feira (8), a direção da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, interditou os bebedouros da unidade, no bairro da Federação, após a confirmação de que a água consumida por alunos e servidores estava contaminada por fezes humanas ou animais. A denúncia, revelada por testes realizados no semestre passado, durante a disciplina Qualidade da Água, apontou a presença de Coliformes totais e Escherichia coli em amostras coletadas nos bebedouros dos 4º e 7º andares, indicando um grave risco à saúde pública.

A contaminação foi descoberta por alunos sob a orientação da professora Gemima Santos Arcanjo, vice-coordenadora do Laboratório de Físico-Químico (Labdea) da UFBA. Segundo a docente, a direção da Politécnica foi informada do problema há dois meses, mas nenhuma medida foi tomada até esta semana, quando Arcanjo enviou um e-mail geral alertando a comunidade acadêmica.

“Quero deixar claro que o objetivo desta mensagem não é criar alarde, mas informar a todos sobre a situação, uma vez que não houve divulgação e isto é do interesse de todos até mesmo por se tratar de uma questão de saúde pública”, escreveu a professora. Ela também afirmou: “Eu informei que era uma medida urgente identificar a fonte de contaminação. Pedi apoio da universidade para a compra de reagentes para que realizássemos mais análises. Fiz o orçamento e recebi o retorno de que a direção iria arcar com os custos”.

A professora apontou duas possíveis causas para o problema: a proximidade dos bebedouros com banheiros ou a contaminação do reservatório de água da unidade. Apesar da gravidade, a direção da Politécnica só interditou os bebedouros após a pressão pública.

Arcanjo criticou a negligência, declarando: “precisávamos de uma investigação da entrada do reservatório e dos bebedouros para saber o que causa o problema. A diretoria tem como obrigação preservar a infraestrutura da Politécnica e difundir a informação, o que não foi feito”. A docente ainda relatou que foi silenciada durante uma audiência aberta na última quinta-feira (10), quando tentou abordar o tema, considerando o episódio um “assédio moral”.

A estudante Amanda Bastos destacou a falta de transparência: “A água em si está com aparência normal atualmente, tanto que os alunos não estavam sabendo de nada dessa situação até que a professora responsável pela análise divulgou a informação”. Outra aluna, Amanda Barros, reforçou: “A análise foi feita no semestre passado, e os alunos só ficaram sabendo porque a professora não viu outra alternativa e divulgou. Aí começaram os movimentos internos de cobrança a cada colegiado e departamento”.

A reitoria da UFBA e a direção da Politécnica emitiram uma nota conjunta, afirmando: “A Reitoria da UFBA e a Direção da sua Escola Politécnica informam que, em função da suspeita de contaminação da água de um ou mais bebedouros desta unidade, a direção adotou, imediatamente após a recomendação da SUMAI, a medida de descontinuar o consumo humano desta água, já tendo anteriormente encaminhado a realização de investigação com empresa credenciada para os testes necessários. Estamos também providenciando a lavagem dos reservatórios, o mais breve possível”.

A assessoria da diretoria comunicou, por e-mail, que “orientamos que os usuários tragam sua própria água para consumo. Estamos trabalhando para resolver o problema com brevidade”. Em entrevista ao portal da Globo g1, o engenheiro Jonatas Sodré, mestre em Saneamento, alertou que a presença de Escherichia coli na água pode causar doenças gastrointestinais, como diarreia e infecções graves, sendo inaceitável em água potável.

Ele recomendou a limpeza dos reservatórios a cada seis meses, prática que, segundo o órgão, não é seguida regularmente em diversas instituições públicas baianas. Atualmente, os bebedouros da Politécnica estão interditados com sacos plásticos, e os alunos precisam trazer água de casa ou comprar.

A condução da direção da Politécnica e da reitoria da UFBA diante da contaminação da água é criminosa, expondo a comunidade acadêmica a riscos graves por meses sem qualquer transparência ou ação efetiva. A burocracia universitária, que silencia vozes como a da professora Arcanjo, demonstra sua incapacidade de gerir a instituição em prol dos interesses coletivos.

O caso demonstra a urgência para se mudar a forma de governar as instituições de ensino superior. A adoção de um sistema tripartite de gestão, com peso majoritário para os estudantes, é a única forma de garantir que a universidade atenda às necessidades de sua comunidade e evite negligências criminosas como esta.

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