De acordo com o jornal britânico The Guardian, o governo do Reino Unido está sendo alvo de um processo judicial por se recusar a evacuar crianças palestinas gravemente doentes da Faixa de Gaza. A ação alega discriminação, apontando o contraste com políticas britânicas anteriores que facilitaram a evacuação de menores em situações de conflito na Ucrânia e na Bósnia.
O processo foi movido contra os Ministérios do Interior e das Relações Exteriores britânicos em nome de três crianças com doenças que ameaçam suas vidas, argumentando que o governo falhou ao não considerar a escassez de opções de tratamento dentro do território cercado de Gaza.
Em sua defesa, o governo britânico afirmou que apoia opções de tratamento dentro da própria Gaza e em regiões vizinhas, além de disponibilizar vistos para tratamentos financiados pelo setor privado no Reino Unido. No entanto, segundo Caroline Ott, do escritório de advocacia Leigh Day, responsável pela ação, essas medidas são “totalmente insuficientes para atender às necessidades urgentes das crianças em Gaza”.
De acordo com The Guardian, uma das crianças sofre de uma malformação arteriovenosa no rosto, que causa hemorragias diárias. Os outros dois são irmãos diagnosticados com “nefropatia cistinótica crônica”, que evoluiu para insuficiência renal; um deles já perdeu a capacidade de se locomover.
As famílias dos três pacientes enfatizaram a necessidade urgente de evacuação médica, algo indisponível na Faixa de Gaza. Elas criticaram o governo britânico por afirmar que há “serviços alternativos” na região, enquanto organizações médicas denunciam a incapacidade evidente do sistema de saúde local em lidar com esses casos.
A ação judicial destaca, segundo The Guardian, a contradição da política britânica. O Reino Unido já participou de evacuações de crianças em zonas de guerra, como na Ucrânia e na Bósnia. Contudo, até agora, não anunciou nenhuma iniciativa concreta para receber pacientes de Gaza, apesar do crescente número de crianças feridas e doentes que necessitam de tratamento no exterior.
A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 12.500 pacientes precisam de evacuação médica de Gaza, dos quais 4.984 são crianças. Até abril deste ano, apenas 7.229 pacientes foram retirados da Faixa de Gaza, sendo levados principalmente ao Egito, Emirados Árabes Unidos, Catar, Europa e Estados Unidos.
A Organização Não Governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras, que conseguiu evacuar apenas 22 pacientes, apontou que uma das maiores dificuldades é o número limitado de países dispostos a receber essas pessoas, muitos dos quais temem ter que assumir o “o ônus da permanência prolongada dos pacientes”.
Em maio deste ano, o Reino Unido autorizou a entrada de duas crianças de Gaza para tratamento, pela primeira vez — uma medida limitada a financiamento privado e sem patrocínio oficial do governo.
A expectativa é que o governo britânico responda formalmente ao processo judicial até 28 de julho, data-limite para se manifestar antes do início do trâmite jurídico.