Reino Unido e a privatização do saneamento: Um modelo em colapso

 
Ilustração: Marta Kochanek

O Reino Unido, que já foi o símbolo das privatizações, enfrenta agora as consequências devastadoras da entrega de seu sistema de abastecimento de água e saneamento à iniciativa privada. De acordo com publicação do The Gardian,país, que há décadas defendeu a ideia de que a gestão privada traria eficiência e investimentos ao setor, agora lida com tarifas abusivas, colapso financeiro das empresas e uma crise ambiental sem precedentes.

Diante desse cenário, foi criada a “People’s Commission on the Future of the Water Industry”, uma comissão independente formada por acadêmicos, ambientalistas e ativistas, que percorrerá a Inglaterra e o País de Gales para coletar depoimentos da população e investigar o impacto da privatização no saneamento. 

A iniciativa surge como contraponto à comissão oficial do governo britânico, presidida por Sir Jon Cunliffe, ex-vice-governador do Banco da Inglaterra. Enquanto Cunliffe se recusa a discutir alternativas à privatização e se concentra apenas em ajustes regulatórios, a People’s Commission busca soluções estruturais e considera até modelos de reestatização.

As consequências da privatização da água no Reino Unido

Os impactos da privatização são visíveis em diversas frentes:

  • Crise Financeira – A Thames Water, maior empresa do setor, acumula £17 bilhões em dívidas e precisou de um resgate de £3 bilhões aprovado pela Alta Corte para evitar sua falência. O problema? O custo do empréstimo será repassado aos consumidores, que já pagam tarifas elevadas.
  • Aumento de Tarifas – Para cobrir um investimento de £100 bilhões nos próximos cinco anos, empresas de saneamento estão aumentando as contas de água. Apenas em 2024, os consumidores britânicos pagarão, em média, £123 a mais em suas faturas anuais.
  • Crise Ambiental – A poluição por esgoto atingiu níveis recordes. Empresas privadas despejam esgoto bruto em rios e mares do Reino Unido, impactando a biodiversidade e colocando em risco a saúde pública. O despejo de resíduos sem tratamento virou algo “normalizado”, segundo especialistas.
  • Lucros para Investidores, Contas para a População – Mais de 70% das empresas de água na Inglaterra são controladas por fundos de investimento estrangeiros, private equity e empresas em paraísos fiscais. Enquanto os acionistas seguem lucrando com dividendos, os consumidores pagam a conta do caos no setor.

Lições para o mundo: O fim do mito da privatização efetiva

O caso britânico demonstra que a privatização do saneamento não trouxe eficiência nem qualidade aos serviços. Pelo contrário, criou um sistema onde o interesse dos acionistas vem antes do interesse público, resultando em endividamento, degradação ambiental e aumento da desigualdade no acesso à água.

A People’s Commission pretende explorar modelos internacionais para sugerir soluções alternativas, incluindo modelos públicos e cooperativos. No mundo todo, cresce o debate sobre a reestatização do saneamento – algo que o próprio Reino Unido pode precisar considerar caso o colapso do setor continue.

Para países como o Brasil, onde o debate sobre privatizações ainda está em curso, o exemplo britânico serve como um alerta poderoso: entregar serviços essenciais à lógica do mercado pode ser um erro irreversível.

Com informações do The Gardian

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