A pressão internacional contra Israel aumentou com o anúncio do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, nesta terça-feira (29), de que o Reino Unido poderá reconhecer formalmente o Estado da Palestina em setembro caso o governo israelense não cumpra um cessar-fogo e adote medidas concretas para permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza. 

A declaração, feita em meio a crise humanitária classificada pela ONU como a pior deste século, foi criticada por partidos britânicos que defendem o reconhecimento imediato, sem condicionantes.

“Sempre disse que reconheceríamos um Estado palestino como uma contribuição para um processo de paz adequado, no momento de maior impacto para a solução de dois Estados. Com essa solução agora sob ameaça, este é o momento de agir”, disse Starmer em pronunciamento.

O primeiro-ministro britânico deve estabelecer, pela primeira vez, um cronograma claro para o reconhecimento da Palestina pelo Reino Unido, após quase dois anos de guerra em Gaza e mais de 60 mil mortos, quase metade deles mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde do território. 

A proposta prevê ainda que Israel se comprometa a não anexar novas áreas da Cisjordânia e que permita o acesso irrestrito de organizações internacionais ao território palestino.

Poucas horas depois do anúncio, Starmer reuniu-se na Escócia com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. 

Embora o encontro não tivesse a questão palestina como pauta principal, o tema dominou parte da conversa. Trump reconheceu pela primeira vez que há “fome real” em Gaza e pediu que Israel permita a entrada de “cada grama de comida” no enclave, rompendo a narrativa do premiê Benjamin Netanyahu de que a escassez de alimentos no território é uma “mentira descarada”.

Trump afirmou ainda que os Estados Unidos trabalharão com aliados europeus para criar “centros de distribuição de alimentos sem barreiras” em Gaza, mas não detalhou como o plano seria executado. 

Ele também responsabilizou o Hamas pela não libertação de reféns e pela instabilidade no território, mas admitiu que Israel tem “muita responsabilidade” pela falta de alimentos.

As declarações de Trump e o anúncio de Starmer ocorreram no mesmo dia em que duas organizações de direitos humanos de Israel, a B’Tselem e os Médicos pelos Direitos Humanos-Israel, publicaram relatórios acusando o Estado israelense de cometer genocídio em Gaza. 

Os documentos descrevem a destruição do sistema de saúde palestino, o uso da fome como arma de guerra e a morte de milhares de civis em ataques militares.

Starmer anuncia prazo para reconhecer Estado palestino e aumenta pressão sobre Israel

O anúncio do primeiro-ministro britânico ocorreu nesta terça-feira (29)  após uma reunião de emergência com os seus ministros e marca uma inflexão na política externa britânica em relação ao conflito no Oriente Médio. 

Pela primeira vez, o Reino Unido estabeleceu um cronograma e condições objetivas para reconhecer o Estado palestino, rompendo com a posição histórica de aguardar um acordo de paz consolidado. 

Starmer afirmou que a decisão será tomada até setembro, durante a Assembleia Geral da ONU, caso Israel não aceite um cessar-fogo e não permita a entrada em massa de ajuda humanitária em Gaza.

Starmer explicou que a medida está diretamente relacionada ao agravamento da situação humanitária no território palestino. 

“Agora em Gaza, por causa de uma falha catastrófica na ajuda, vemos bebês famintos, crianças fracas demais para ficar de pé, imagens que vão ficar conosco para o resto da vida. O sofrimento precisa acabar”, disse, acrescentando que a perspectiva de uma solução de dois Estados “está sob pressão como nunca antes”.

O plano britânico foi desenhado em conjunto com França e Alemanha e prevê oito pontos, incluindo o compromisso de Israel de não anexar novas áreas da Cisjordânia e de permitir a entrada irrestrita de equipes da ONU para a entrega de alimentos e medicamentos. 

“Sempre disse que reconheceríamos um Estado palestino como uma contribuição para um processo de paz adequado, no momento de maior impacto. Com essa solução agora sob ameaça, este é o momento de agir”, afirmou o primeiro-ministro.

“É por isso que isso faz parte de um plano de paz no qual temos trabalhado há algum tempo, um plano de oito pontos, sobre o qual já falei com a Alemanha e a França e muitos outros países”, completou Starmer.

A decisão de condicionar, no entanto, foi criticada pelos Liberal-Democratas e pelos Verdes, que defendem o reconhecimento imediato da Palestina.

No Parlamento britânico Starmer conta com o apoio de mais de 250 deputados – incluindo um terço da bancada trabalhista – que pedem ações mais duras diante da escalada de mortes em Gaza. 

Pesquisas também mostram que 49% dos britânicos são favoráveis ao reconhecimento, contra apenas 13% contrários. Em Tel Aviv, o governo israelense reagiu classificando a posição britânica como uma “recompensa ao terrorismo do Hamas”.

Trump reconhece fome em Gaza e rompe discurso de Netanyahu

O encontro entre Donald Trump e Keir Starmer, na Escócia, terminou com declarações tardiamente inéditas do presidente norte-americano sobre a crise humanitária em Gaza. 

Pela primeira vez desde o início da ofensiva israelense, Trump admitiu publicamente que há “fome real” no território e pediu que o governo de Benjamin Netanyahu permita a entrada de “cada grama de comida” no enclave palestino. 

A fala representou um rompimento com a narrativa adotada por Netanyahu, que havia classificado como uma “mentira descarada” as denúncias de que Israel bloqueia a chegada de ajuda humanitária.

“Isso é fome real; eu vejo isso e você não pode fingir isso. Então vamos nos envolver ainda mais”, disse Trump ao comentar as imagens de crianças famintas em Gaza. 

Ele afirmou que os Estados Unidos trabalharão com países europeus para criar “centros de distribuição de alimentos sem barreiras” no território, mas não apresentou detalhes sobre como o plano seria executado.

Trump também responsabilizou Israel pela falta de alimentos no enclave, embora tenha reiterado críticas ao Hamas. 

“Quero que Netanyahu garanta que eles recebam a comida. Quero ter certeza de que eles recebam a comida, cada grama de comida”, afirmou, acrescentando que é “muito difícil lidar com o Hamas”, que ainda mantém reféns israelenses sequestrados em 7 de outubro.

Para o público britânico, disse Starmer, “aquelas imagens de crianças famintas, em particular, são revoltantes”. Embora os dois líderes tenham reiterado a defesa de um cessar-fogo sustentável, as falas de Trump expõem um isolamento crescente do governo israelense, que enfrenta críticas cada vez mais duras até de seus aliados mais próximos.

ONGs israelenses denunciam genocídio em Gaza

Na mesma semana em que Starmer e Trump fizeram declarações públicas sobre a crise humanitária, duas das principais organizações de direitos humanos de Israel divulgaram relatórios que classificam a ofensiva contra Gaza como um genocídio. 

A B’Tselem e os Médicos pelos Direitos Humanos-Israel (PHR-Israel) afirmam que a política adotada pelo governo de Benjamin Netanyahu busca “destruir intencionalmente a sociedade palestina na Faixa de Gaza” e pedem ação imediata da comunidade internacional.

Os documentos descrevem um cenário de fome extrema, destruição do sistema de saúde e mortes em massa. 

Segundo as ONGs, mais de 60 mil palestinos foram mortos desde outubro de 2023, quase um terço deles crianças, e pelo menos 147 pessoas morreram de inanição – metade só no mês de julho. 

“Todos os dias morrem dezenas de pessoas por desnutrição”, alerta a PHR-Israel, acrescentando que 92% das crianças de seis meses a dois anos não recebem comida suficiente.

O relatório da B’Tselem, de 88 páginas, também acusa Israel de usar a fome como arma de guerra e destaca que 33 dos 36 hospitais de Gaza foram destruídos ou ficaram fora de serviço. 

“Um exame da política de Israel na Faixa de Gaza e suas terríveis consequências […] leva à conclusão inequívoca de que Israel está levando a cabo uma ação coordenada para destruir intencionalmente a sociedade palestina”, afirma a organização.

As ONGs acusam ainda a comunidade internacional de cumplicidade por não adotar medidas efetivas para conter a ofensiva. 

“Muitos líderes de Estado, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, não apenas se abstiveram de tomar medidas efetivas para deter a aniquilação e a violência, mas permitiram que continuassem”, diz o texto da B’Tselem. 

As entidades pedem que todos os mecanismos disponíveis no direito internacional sejam usados para interromper a ofensiva israelense, que já deslocou nove em cada dez habitantes de Gaza e destruiu 92% das residências do enclave.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 30/07/2025