Não há nenhum motivo para celebrar a obscura ascensão de Keir Starmer ao poder. Uma trajetória política construída por fraudes, difamações virulentas e estrategicamente calculadas, expurgação e perseguição implacável das forças progressistas dentro do Partido Trabalhista, alianças com o capital corporativo, e, o que é mais grave, a partir de uma aliança ideológica incondicional com o sionismo e com apoio financeiro das elites sionistas.
O Grande Paradoxo dos Resultados Eleitorais
Keir Starmer, apesar de ter 57% de reprovação do eleitorado, paradoxalmente consegue uma vitória acachapante para o Partido Trabalhista, com 412 assentos até agora, ou quase 2/3 do parlamento.
O Partido Trabalhista ganhou apenas 33,9% do voto popular, mas controlará 65% do parlamento. O Partido Conservador, com 23,6% do voto popular, terá 119 assentos no parlamento. Os Liberais Democratas terão 71 assentos com apenas 12,1% dos votos populares, enquanto o partido de extrema direita (Reform UK), com 14,3% dos votos populares, terá apenas 4 cadeiras.
A campanha do Partido Trabalhista parece ter sabido explorar essa característica do sistema eleitoral com grande estratégia, no entanto, nem sempre com métodos legítimos, senão por vezes criminosos. Por exemplo, atacando e difamando candidatos específicos, vistos como ameaça, como no caso de George Galloway no distrito de Rochdale.
Essa tática de Keir Starmer é, na realidade, a continuação de uma estratégia muito bem-sucedida que o levou a ascender a líder do Partido Trabalhista através de um golpe interno, que expurgou Jeremy Corbyn e a ala progressista do partido, acusando-os de antissemitas.
Tal como revelou o renomado jornalismo investigativo do Declassified UK, 2/5 do gabinete de Keir Starmer tiveram sua ascensão financiada pesadamente por lobbies pró-Israel. Não apenas isso, Starmer e membros de seu gabinete receberam milhares de libras em “presentes”, geralmente a porta de entrada de lobbies para ter acesso a candidatos e depois selar acordos mais lucrativos.
David Lammy é apenas um exemplo do gabinete de Starmer que apoia explicitamente, o que no consenso jurídico configura no mínimo um crime de guerra.
Outro fator que explica a catapultante vitória do Partido Trabalhista é a imensa rejeição que o Partido Conservador acumulou em 14 anos de vandalismo legislativo, desregulamentação, marginalização de acordos internacionais, políticas de austeridade, e políticas ferozes de criminalização da imigração viabilizadas por uma implementação talibanesca do Brexit.
Ministros como Suella Braverman e Priti Patel, duas filhas de imigrantes asiáticos, fizeram campanhas para a revogação dos Direitos Humanos (Human Rights Act) da legislação britânica e introduziram legislação criminalizando jornalistas e ativistas em padrões a ser invejados pelo ditador El Sisi do Egito, infame pela sua perseguição a jornalistas.
Suella Braverman fala que era “seu sonho e obsessão enviar requerentes de asilo político num avião à Ruanda”, mas a Corte Europeia de Direitos Humanos e ativistas intervieram quando o voo, carregando vítimas de guerra do Afeganistão e outros países, estava prestes a decolar no aeroporto de Heathrow.
A ala da ultradireita do Partido Conservador, os talibãs do Brexit e da supremacia britânica no mundo, acabou por se tornar um fator contraproducente ao gerar dois outros fenômenos; o eleitor mais moderado do conservadorismo migrou para os Liberais Democratas e partidos independentes, e a linha dura por eles criada encontrou um novo lar: o partido de extrema-direita Reform UK, que fragmentou de forma decisiva o voto conservador, e que usou alegações sem provas de intervenção russa na campanha para ganhar votos.
Partir do princípio de que o resultado eleitoral é expressão de eleições livres no Reino Unido é o pressuposto equivocado para a análise dos resultados. A cooptação do processo eleitoral britânico pelos financiamentos sem transparência, associado à máquina de desinformação, extermínio de candidaturas, é o ponto de partida para entender os resultados. Esses fatores determinam, para não dizer cooptam, o processo eleitoral britânico e um eleitorado atingido pelas consequências econômicas do Brexit, das sanções à Rússia e de um estado militarizado. £12 mil por minuto são gastos no Reino Unido para financiamento da indústria bélica, enquanto os estrangeiros precisam ser deportados.