Brasília, 6 de agosto de 2025. Em mais uma tentativa de golpe, e quando o Congresso Nacional se preparava para reiniciar as atividades pós-recesso, parlamentares da extrema-direita fascista tomaram de assalto e sequestraram o Parlamento. A deputada federal Julia Zanatta (PL-SC) invadiu a Casa levando no colo a filha, uma bebê de apenas quatro meses. Em meio ao tumulto, abriu passagem sob as luzes de flashes e celulares que espocavam nos olhos da criança, e ocupou ilegalmente a cadeira da presidência da Câmara Federal. Exibiu o ato em suas redes sociais.

O ato da invasão e ocupação da Mesa, em si, fere o Regulamento da Câmara e a Constituição Federal. Mas a deputada foi além. Ela colocou em risco a própria filha com a deliberada e confessa intenção de usar a criança como escudo humano. Reafirmou o objetivo, e se vangloriou dele em suas redes sociais – “Os que estão atacando minha bebê não estão preocupados com a integridade da criança (nenhum abortista jamais esteve) eles querem é inviabilizar o exercício profissional de uma mulher usando sim uma criança como escudo”.

Certamente, estava orgulhosa de atender ao chamado do Partido Liberal, ao qual pertence, como comprovou mensagem vazada do celular do também deputado do PL Zé Trovão, que expôs o conteúdo para lacrar nas redes. Dizia a mensagem: “Gente, esse escudo humano tem que ser com as deputadas na frente”.

Não era amamentação e nem uma visita ao se ambiente de trabalho em um dia normal, como tentou alegar depois. Ela levou a criança para participar de um sequestro inédito na história da República brasileira.

O Parlamento brasileiro estava ilegalmente invadido e tomado por extremistas que ameaçavam fechar a casa, que se diziam dispostos a resistir a qualquer tentativa de desocupação, que ameaçavam todas e todos que discordassem deles, que agrediram verbal e mesmo fisicamente parlamentares e jornalistas adversários durante as 30 horas que durou o motim.

A deputada tinha consciência do ambiente hostil a que expunha a criança. Tanto sabia que, em determinado momento, ao deixar o plenário para um lanche, perguntou aos seus seguidores virtuais: “devo voltar (para o Plenário) ou proteger o meu bebê? O que vocês acham?”. Ela voltou.

Denunciei a deputada ao Conselho Tutelar de Brasília. Denunciaria novamente. Esse é um dever que tenho como cidadão, como militante dos direitos humanos e como presidente da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara, a CDHMIR.  Mas, por isso, recebi ofensas e ameaças graves, já denunciadas.

A deputada, ao perceber o erro brutal, tentou contradizer as próprias que produziu. Buscou amparo em apoios como o de Michelle Bolsonaro, esposa do inelegível, que reforça o falso discurso e diz que “resolvi bancar o protetor das crianças”.

É lamentável a cegueira moral de alguns diante de um risco óbvio à integridade de uma bebê, para defender o indefensável. E, com certeza, a senhora Michelle não me conhece.

O compromisso com a defesa das crianças e adolescentes é parte indissociável da minha militância política e por direitos humanos. Não é episódica, de momento, efêmera. Integra a minha luta e abrange todo o universo infanto-juvenil, incluindo os direitos à vida, bem estar social, moradia, alimentação saudável, educação, cultura, saúde, lazer, água, liberdade religiosa e civil, respeito, proteção, assistência plena.

Tenho e honro uma história solidamente construída em meus 63 anos de vida, a maior parte deles dedicados à luta em favor dos direitos de meninos e meninas de todas as classes, etnias e origens, desde os mais abastados aos mais vulneráveis, como adolescentes autores de ato infracional e crianças e jovens empobrecidos e em situação de rua. Sem qualquer exclusão ou distinção.

Milito junto com os Conselhos Tutelares desde que entrei na política… e lá se vão muitos anos. Fui autor da lei que criaria o OCA/ Orçamento de Criança e do Adolescente, que reuniria e ajudaria a fiscalizar todos os investimentos públicos destinados aos menores de idade e, infelizmente, jamais foi cumprida. Um dia antes da invasão do Congresso, por meio da CDHMIR, realizei o seminário “Promoção de direitos e enfrentamento a violência de crianças e adolescentes na Internet”.

Os exemplos são muitos e não cabe cabem aqui, neste artigo.

Cuidar das crianças e adolescentes é dever da família, da sociedade e do Estado, conforme estabelecido na Constituição e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Essa é a minha luta e não cederei a pressões ou ameaças.

 

Deputado Reimont (PT-RJ) é presidente da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial

Artigo publicado originalmente no site do Brasil 247

 

 

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 11/08/2025