Em um cenário no qual plataformas se aliam a movimentos de extrema-direita para evitar regulações que possam comprometer seus lucros, atualmente, “a regulação das plataformas e o enfrentamento à extrema-direita viraram sinônimos”.
Essa é a visão do sociólogo Sérgio Amadeu, que expôs, em entrevista à TV GGN [confira abaixo], os interesses dos bilionários por trás do controle das big techs, responsáveis por uma vigilância que compromete a privacidade global.
“Foi a sociedade civil, os governos, que pressionaram as plataformas para fazer checagem de fatos. Elas sempre foram contra, tinham regras e trabalhavam com essas regras que mudavam a seu bel-prazer, de acordo com os seus acionistas”.
Casos que ilustram a vigilância somada ao poder
O professor da UFABC traz à baila alguns casos que ilustram a vigilância promovida pelas grandes empresas, somada ao poder político que detêm.
Um deles é o de Edward Snowden, ex-funcionário de inteligência dos EUA, que tornou-se famoso por expor informações sigilosas do governo americano, revelando ao mundo a dimensão do sistema de espionagem. “O Eduardo Snowden, que as pessoas não lembram, dizia: ‘Olha, essas plataformas são complicadas do ponto de vista da vigilância.’”
Outro caso mencionado por Amadeu é o de John Kerry, então secretário de Estado norte-americano, que admitiu, em 2013, que os serviços de inteligência dos EUA, cujas ações impactaram o mundo, inclusive o Brasil, ‘foram longe demais’. No entanto, Kerry afirmou que essas operações continuariam sendo realizadas.
“E aí ficou tudo por isso mesmo, a coisa arrefeceu. O fato é que eles vão jogar o jogo da extrema direita política. No caso do Brasil e de outros países, as plataformas vão fazer isso, porque, para elas, é melhor“.
Para o especialista em defesa da democratização da comunicação e da soberania tecnológica, as big techs vivem da lógica de “melhor não regular”, o que coloca o Brasil em uma posição de grande dificuldade para enfrentar os controladores.
“Eles vão vir para cima, vão fazer e desfazer, e eu temo que a gente vai ter muita dificuldade, apesar de o Judiciário enfrentá-los. Aqui, eles não vão dar de bacana, mas eles têm o mercado a favor deles hoje, eles têm mobilizadores”.
Mercado e a desvantagem para a Meta
Em relação ao mercado, é nesse ponto que Mark Zuckerberg se diferencia da postura autocrática de Elon Musk, dono do X (antigo Twitter). A Meta precisa equilibrar interesses corporativos e políticos devido à presença de acionistas e negócios globais, o que pode ser uma desvantagem na busca pelo controle tecnológico global.
“Ao contrário do Elon Musk, que fechou a participação na Bolsa quando comprou o Twitter, o Zuckerberg tem negócios e tem acionistas. Então, ele pode começar a ter que enfrentar Estados nacionais que, se forem mais espertos, se articulam e fazem um tratado, um acordo internacional, e colocam uma situação complicada para o Grupo Meta. O Grupo Meta não tem só rede social”.
“E você vê, o Google, que é um dos piores aliados, digo, é um dos que atuam na maior a favor do Departamento do Estado americano, ele fica caladinho. Ele é o mais esperto deles todos”.
Confira a entrevista completa abaixo:
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