Regras de Bolso para Enriquecimento

por Fernando Nogueira da Costa

Em curso de Finanças Comportamentais para Planejamento da Vida Financeira, em uma aula, ensino aos estudantes universitários, geralmente, no último ano da graduação pelo IE-UNICAMP, usar Regras Práticas de Finanças Pessoais. É também uma forma de praticarem o uso de calculadora financeira para conferir.

São diretrizes simples e fáceis de lembrar. Elas ajudam a organizar o orçamento, poupar, investir e planejar o futuro financeiro. Embora sejam generalizações, são úteis como ponto de partida, inclusive por serem facilmente memorizadas.

Por exemplo, a Regra 50-30-20 ajuda a organizar o orçamento mensal em três categorias de despesas.

50% Necessidades: gastos essenciais, como moradia, transporte, alimentação e contas básicas – ideal para quem consegue manter um estilo de vida mais simples (frugal ou sóbrio como foi o do presidente Mujica) sem exibicionismo de falso status social pelo consumismo.

30% Poupança e Investimentos: dinheiro destinado a construir patrimônio, quitar dívidas ou planejar o futuro.

20% Desejos: entretenimento, lazer, hobbies e compras não essenciais.

Primeiro, separe os 30% para investimentos financeiros como fossem “débito automático”. Depois, adeque seu padrão de consumo ao restante.

Para o planejamento da vida financeira, sugiro seguir o algoritmo 1-3-6-9-12.

  • até os 35 anos (juventude) acumular em reservas financeiras um salário anual, considerando o vigente;
  • até os 45 anos (meia-idade) três salários anuais;
  • até os 55 anos (maturidade) seis salários anuais;
  • até os 65 anos (pré-aposentadoria) nove salários anuais;
  • até os 75 anos (senilidade) doze salários anuais.

Com esse valor acumulado, é possível um saque mensal por cerca de vinte anos (240 meses) no mesmo valor presente da receita total líquida  ou salário atual na maioria dos casos individuais. Esses cálculos consideram juros de 0,5% a.m. (menor custo de oportunidade em depósitos de poupança) para capitalizar a sobra.

Essa regra é uma estimativa de quanto tem de acumular para manter na aposentadoria o padrão de vida alcançado na fase profissional ativa. Exemplos numéricos podem deixá-la mais inteligível.

Quem tem 35 anos, precisa ter acumulado uma reserva de um salário anual,
por exemplo, se ganha cinco salários-mínimos (R$ 7.500 / mês), necessitará ter de reservas financeiras no mínimo R$ 90.000,00.

Aos 45 anos, três salários anuais, por exemplo, quem recebe dez salários-mínimos R$ 15.000 / mês (R$ 180.000 ao ano), necessitará de saldo de R$ 540.000,00.

Aos 55 anos, seis salários anuais, por exemplo, quem recebe quinze salários-mínimos R$ 22.500 / mês (R$ 270.000 ao ano), necessitará de saldo de R$ 1.620.000,00, ou seja, já ser milionário em reais.

Aos 65 anos, nove salários anuais, por exemplo, quem recebe vinte salários-mínimos R$ 30.000 / mês (R$ 360.000 ao ano), necessitará de saldo de R$ 3.240.000,00.

Aos 75 anos, doze salários anuais, por exemplo, quem recebe trinta salários-mínimos R$ 45.000 / mês (R$ 540.000 ao ano), terá meta de R$ 6.480.000,00. Depois, durante 20 anos, poderá sacar R$ 46.434, mensalmente, até esgotar essa reserva financeira. Se investir R$ 1.720, durante 600 meses, com juro mensal de 0,5% a alcançará, ou seja, indexe seu investimento mínimo mensal a um salário-mínimo (corrigido anualmente) – e seja persistente ou disciplinado por 50 anos.

Há duas outras regras alternativas. A primeira é Regra de Idade x Salário Anual
(Acúmulo de Patrimônio Necessário): estima quanto patrimônio líquido (excluindo a casa própria) o trabalhador deve acumular em relação à sua idade e ao salário anual: Meta de Patrimônio = (Salário Anual X Idade) ÷ 10

Exemplo: com 35 anos, se o trabalhador ganhar cinco salários-mínimos (R$ 7.500 / mês), terá como meta no mínimo R$ 90.000,00 X 35 = R$ 3.150.000 / 10 = R$ 315.000 de reservas financeiras. Essa meta ajuda a planejar a aposentadoria e avaliar se está poupando o necessário: cerca de R$ 2.000 / mês durante 120 meses com juro mensal de 0,5%.

A segunda é Regra de Idade x Salário Anual (Acúmulo de Patrimônio Suficiente): Essa regra estima quanto patrimônio líquido (excluindo a casa própria) o trabalhador deve acumular em relação à sua idade e ao salário anual: Meta de Patrimônio = (Salário Anual X Idade) ÷ 5

Exemplo: com 75 anos, se o trabalhador ganhar trinta salários-mínimos (R$ 45.000 / mês), terá com meta no mínimo (R$ 540.000,00 X 75) / 5 = R$ 40.500.000 / 5 = R$ 8.100.000 de reservas financeiras. Essa meta ajuda a planejar a aposentadoria e avaliar se está se sacrificando acima do suficiente: cerca de R$ 2.139 / mês durante 600 meses com juro mensal de 0,5%.

Há também a Regra dos 4% (Retirada na Aposentadoria). Ajuda a calcular quanto do seu patrimônio acumulado pode ser retirado anualmente, sem risco de esgotá-lo durante a aposentadoria: Patrimônio Necessário = Despesas Anuais ÷ 0,04

Exemplo: se precisar de R$ 180.000 por ano (R$ 15.000 por mês) para viver um padrão de classe média em renda, deve ter de Patrimônio: R$ 180.000  ÷ 0,04 = R$ 4.500.000. Se investir R$ 1.200 (abaixo de um salário-mínimo) durante 600 meses (ou 50 anos dos 25 aos 75) com juro mensal de 0,5% o alcançará.

A Regra dos 72 permite verificar a “magia” do enriquecimento em renda fixa com juros compostos. Estima quanto tempo é necessário para dobrar seu investimento com base na taxa de retorno anual: Tempo (anos) = 72 ÷ Taxa de Retorno Anual (%)

Exemplo: com uma taxa de retorno de 6% ao ano (ou 0,5% ao mês), seu capital dobrará em: 72 ÷ 6 = 12 anos. Com juros “brasileiros” em quase 1% ao mês (72 ÷ 12) em 6 anos dobrará. Se mantiver a Selic em 15% aa: 72 ÷ 15 = 4,8 anos!

Para demonstrar a concentração de riqueza, propiciada pela fixação da taxa de juro disparatada pelo Banco Central do Brasil, apresento uma estimativa de enriquecimento com Selic a 14,75% aa, equivalente a 1,1531% am.

Em março de 2025, o Varejo Tradicional tinha saldo de R$ 2,566 trilhões. O saldo per capita por número de contas (157.195.191) era R$ 16.326. Caso permaneça este patamar de juros, todo o dinheiro aplicado em 100% do CDI, após um ano, será R$ 18.735 , ou seja, cada conta receberá em média mais R$ 2.408.

Em março de 2025, o Varejo de Alta Renda tinha saldo de R$ 2,739 trilhões. O saldo per capita por número de contas (19.856.685) era R$ 137.939. Caso permaneça este patamar de juros, todo o dinheiro aplicado em 100% do CDI, após um ano, será R$ 158.284, ou seja, cada conta receberá em média mais R$ 20.345.

Em março de 2025, o Private Banking tinha saldo de R$ 2,380 trilhões. O saldo per capita por número de contas (754.594) era R$ 3.153.553 e por número de clientes exclusivos (158.382) era R$ 15.024.767. Caso permaneça este patamar de juros, se todo o dinheiro for aplicado em 100% do CDI, após um ano, será R$ 3.618.682 e R$ 17.240.828, respectivamente, mais R$ 465.129 e mais R$ 2.216.061.

Estes investidores ricaços ganham, só no primeiro mês, a média de R$ 173.250. Em “conta-de-padeiro”(sem considerar os juros compostos), R$ 173.250 x 12 = R$ 2.079.000. Com juros sobre juros, acumula mais R$ 137.061.

Essas regras não substituem o planejamento detalhado, mas oferecem diretrizes valiosas para a gestão de suas finanças pessoais de forma prática.  Adapte-as à sua realidade e busque sempre revisitar suas estratégias conforme sua situação financeira evolui.

Por exemplo, se deixar de comprometer cerca de 30% da sua renda mensal com despesas de moradia (prestações de financiamento imobiliário), conseguindo amortizá-lo em 10 anos ou menos, este valor em seu orçamento poderá ser direcionado aos investimentos financeiros. E os valores citados serão alcançados.


Fernando Nogueira da Costa – Professor Titular do IE-UNICAMP. Baixe seus livros digitais em “Obras (Quase) Completas”: http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/ E-mail: [email protected]

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Last Update: 03/06/2025