Foto: Dowglas Silva

Por Agatha Azevedo*
Da Página do MST

A resistência dos povos passa pelo resgate da memória. Por isso, é preciso contar e recontar a história de nossa luta, para que os detalhes não se percam entre os que lá estavam e sejam compreendidos pelos que se somaram na luta pela terra ao longo do caminho.

Conto, então, um pouco da história da regional Milton Freitas, território organizado pelo MST no entorno da capital mineira. Nossa primeira ocupação foi no dia 2 de julho de 1999, na cidade de Betim.

Nesse período, era importante pautar a reforma agrária nos espaços políticos que estavam em Belo Horizonte. Estar perto da capital era necessário para a luta. Então, em 1999, o MST toma a decisão de se fortalecer nesse território e realiza a primeira ocupação na região metropolitana de Minas Gerais, no município de Betim.

De lá, nasceu o assentamento 2 de julho, que hoje tem viveiro, projeto ambiental, faz parte do Programa Popular de Recuperação da Bacia do Paraopeba e é rico em produção, especialmente de citros.

Assentamento Maria da Conceição. Foto: Comunicação do MST em MG

Depois de despejos e lutas, o movimento conquistou os Assentamentos Hochiminh, em Novo União, e João Pedro Teixeira, também em Novo União. Essas áreas são referência na produção agroecológica de banana e na produção de cachaça, a partir da agroindústria da cana. Através da Cooperana, nossa cooperativa regional, são comercializadas a Bananinha, nosso doce de banana industrializado sem conservantes, e cachaças variadas, com destaque para o rótulo da Cachaça Coração, produzida da parte mais nobre da cana.

Ao longo da história, consolidaram-se também o Assentamento Resistência e o filho mais novo, Ismene Mendes, regularizado em 2015 em Pará de Minas. Nossos territórios na região sempre fizeram enfrentamento ao modelo de mineração predatória de maneira direta ou indireta e produziram hortaliças e alimentos saudáveis para a capital do estado.

Com a retomada da luta pela terra na região e a resistência ativa, ousamos desafiar novamente a mineração. Iniciamos um ciclo de ocupações em territórios minerados e territórios de proprietários corruptos, como Eike Batista.

O primeiro local que foi ocupado nesse processo de reorganização da região foi o acampamento Maria da Conceição, que está sendo regularizado enquanto Assentamento em 2025.

A ocupação foi realizada na jornada de luta das mulheres, no dia 8 de março de 2017. O nome do território homenageia a companheira assentada no Assentamento João Pedro Teixeira, em Nova União.

Seu nome foi escolhido pelas famílias, pois Maria da Conceição ajudou a construir o trabalho de base para a ocupação e infelizmente faleceu naquele ano.

Contudo, para enfrentar um inimigo do tamanho da mineração, era preciso organizar uma quantidade maior de pessoas na luta pela terra. Então, em uma organização conjunta e nacional, o MST organizou uma nova ocupação na regional, durante a Jornada de Lutas “Corruptos, devolvam nossas terras!”, que tinha como lema: reforma agrária na terra dos corruptos.

No dia 26 de julho, nasceu o acampamento Pátria Livre, que hoje, mesmo sendo atingido pelo crime da Vale, que destruiu o Rio Paraopeba com o rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, resiste. No local, o Movimento construiu a Escola Itinerante Elizabeth Teixeira, inaugurada em maio de 2018, e produz uma diversidade em hortifruti. No Acampamento Pátria Livre, também está localizada a Casa de Sementes Regional, uma iniciativa de preservação das sementes crioulas e nativas e da biodiversidade.

O território banhado pelo Rio Paraopeba, que era fruto da exploração e da degradação da terra, foi se tornando território da agroecologia. O ano de 2017 é marcado por esse salto organizativo, com novas ocupações.

Ocupação Maria da Conceição. Foto: Comunicação do MST em MG

Em julho de 2018, a Regional mais uma vez ocupa terras improdutivas e surge o Acampamento Zequinha Nunes no dia 10. O acampamento Zequinha Nunes foi nomeado em homenagem a José Nunes, um importante membro do MST em Minas Gerais, que faleceu em junho de 2018. A ocupação ocorreu em uma área que estava abandonada, e o MST transformou-a em um espaço de produção e moradia. Hoje, é neste local que está localizada a Cozinha Regional do MST.

De lá pra cá, nasceu a Cooperana (nossa cooperativa regional) e a associação regional denominada ASFAR. Nós nos articulamos em feiras, participamos de luta , recebemos Dilma, recebemos Lula, recebemos representações de diversos países. E estamos sempre em intercâmbio com outras regionais para avançar nos processos agroecológicos e na construção de Sistemas Agroflorestais.

Enfrentamos um gigante no nosso território, a Vale, que, como criminosa, matou o nosso Paraopeba. Mas nós nos reerguemos e construímos o nosso programa popular de recuperação da bacia do Paraopeba, com ações para avançar na produção, na coleta de sementes, na cooperação, no plantio de árvores e no cuidado com as nascentes. Seguimos produzindo vida e luta com o suor do nosso povo.

Nesse momento, nosso maior inimigo é a mineração. Nesse território, a gente já enfrentou invasão policial, tentativa de despejo, visita judicial. Também enfrentamos uma grande enchente que foi causada pelo excesso de chuvas nos nossos territórios que foram atingidos diretamente pelo crime da Vale em Brumadinho.

Mas nós não nos furtamos da luta e seguimos adiante na regional. Produzindo alimentos saudáveis, reflorestando, coletando sementes e construindo projetos ambientais, organizando a juventude, construindo a Escola Elizabeth Teixeira todos os dias. Construindo participação popular. E enfrentando cada vez mais os nossos inimigos, que são a mineração, o latifúndio, o agronegócio e toda e qualquer forma de opressão da classe trabalhadora.

Inauguração da Escola Elizabeth Teixeira. Foto: Agatha Azevedo

* Agatha Azevedo é militante do MST, faz parte da dirigente regional da metropolitana e militante do Setor de Comunicação e do Coletivo de Cultura do MST

**Editado por Fernanda Alcântara

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Last Update: 14/08/2025