Nesta quinta-feira (10), a emissora libanesa Al Mayadeen publicou entrevista com Mohammad Ali Abtahi, ex-vice-presidente do Irã durante a presidência de Mohammad Khatami. 

Na entrevista, ele reconheceu que “Israel” cometeu um “erro de cálculo grave, ou simplesmente não entenderam o Irã” durante a recente guerra, em que a entidade sionistas fracassou em seus objetivos, e da qual o regime revolucionário iraniano saiu fortalecido.

Sobre Ali Abtahi e Khatami, no âmbito do espectro político iraniano eles fazem parte do grupo dos “reformistas”, que defendem que o regime revolucionário surgido da Revolução de 1979 seja reformado para, dentre outras coisas, permitir supostas “eleições mais livres”, mais “direitos civis”, sendo críticos do órgão revolucionário Conselho de Guardiões. 

Em outras palavras, não fazem parte do setor revolucionário da política iraniana, que é liderado pelo Líder Supremo Ali Khamenei, e composto pelo Corpo de Guardas da Revolução Islâmica, pelo Conselho de Guardiões e outros órgãos.

No entanto, segundo Al Mayadeen, apesar de ele ser “crítico do status quo”, ele é “comprometido com a preservação da soberania do Irã”.

Assim, ao falar sobre o erro de cálculo de Netanyahu e “Israel”, Mohammad Ali Abtahi disse achar que “que os israelenses mantêm extensas forças de segurança e inteligência dentro do Irã há muitos anos”, mas que, apesar disto, “chegaram a uma análise muito equivocada do que estava acontecendo dentro do país”.

Ele explica que os contatos e representantes dos israelenses dentro do Irã, “assim como aqueles no exterior, talvez não tenham feito uma análise errada, mas transmitiram uma avaliação falha aos israelenses”, avaliação que misturou “queixas internas legítimas com um apetite por intervenção estrangeira”.

Ali Abtahi avalia que embora alguns iranianos estivessem insatisfeitos com os sucessivos governos e seu desempenho, isso não significa que aceitariam a interferência estrangeira, conforme parafraseando por Al Mayadeen

“A ideia de que alguém de fora viria e atacaria essa família era naturalmente inaceitável para uma nação com uma história tão longa”, declarou o ex-vice-presidente, que acrescenta que “alguns países da nossa região ainda não têm cem anos, enquanto o nosso próprio país tem uma história de vários milhares de anos e suportou muitas dificuldades; os dois são muito diferentes”, e que a incompreensão desse fato é uma das causas do erro de cálculo dos sionistas.

Ele aponta também que “o entendimento externo era de que a insatisfação do povo vinha crescendo aos poucos e que em algum momento viria à tona e mudaria o regime, mas a realidade da sociedade iraniana não era e não é essa, e qualquer um que viva no Irã sabe que essa realidade não existe”.

Abtahi ainda informou que o ataque criminoso de “Israel” e dos EUA (com participação de demais países imperialistas) fortaleceu a coesão social do Irã, afirmando que “embora durante anos tenha havido motivo para muita preocupação, muitos dos que antes protestavam contra o governo agora protestavam contra a guerra, todos em unidade nacional”.

Falando sobre os resultados da guerra, o ex-vice-presidente afirmou que, apesar dos ataques do sionismo e do imperialismo, o Irã terminou a guerra com seu sistema intacto, “razão pela qual essa vitória não pode ser subestimada”.

Quanto a possíveis futuras negociações com o “Ocidente”, isto é, com países imperialistas, Abtahi que “quando um país está negociando e outro país vem e o bombardeia no meio das negociações, não se pode pressionar esse país a voltar à mesa de negociações, porque ele já estava lá [quando começaram os bombardeios]”, afirmando que o fato de as agressões terem ocorrido deve ser levada em consideração em futuras negociações:

“Os países que atacaram o Irã precisam dizer por que atacaram e sobre o que devemos negociar agora, embora eu seja fundamentalmente a favor do diálogo; sob quaisquer condições, o diálogo é um dos principais princípios dos reformistas”.

O ex-vice-presidente também aponta a contradição na posição de Donald Trump, presidente dos EUA, que diz ter destruído o programa nuclear iraniano, mas, ao mesmo tempo, quer retomar negociações sobre o mesmo programa: “Agora, o Sr. Trump afirma que a capacidade nuclear do Irã está fora de serviço, mas não faz sentido negociar um programa nuclear que efetivamente não existe mais”, afirmou Abtahi, acrescentando que “o que resta é que o diálogo deve discutir a eliminação da presença maligna de Israel e dos Estados Unidos na região e no Irã”, bem como “suspender as sanções […] poderia ser a base para um diálogo real”.

Ele ainda denuncia que os EUA utilizaram as negociações para baixar a guarda do Irã para os ataques que foram perpetrados: “Quando um país é bombardeado no meio de negociações, certamente as negociações foram um estratagema para começar, com a intenção de destruir o governo. E esse governo não foi destruído”.

No mesmo sentido, também denuncia que “Israel não tem regras, nem estrutura diplomática. É completamente imprevisível, assim como foi em suas guerras em Gaza. É um novo Hitler — porém mais criminoso e mais sanguinário do que o antigo”.

Por fim, Abtahi expôs a importância de Ali Khamenei, Líder Supremo do Irã, para manter a coesão da sociedade iraniana no período que sucedeu à guerra. Ele afirmou que na calmaria inquietante que se seguiu aos 12 dias de guerra, os iranianos se viram famintos por orientação, até que uma presença familiar restaurou o senso de equilíbrio quando Sayyed Ali Khamenei apareceu na noite de Ashura, um dia importante no calendário muçulmano, conforme noticiado por Al Mayadeen. Veja o vídeo da ocasião:

https://www.youtube.com/watch?v=zAX83ktOOdA&list=WL&index=6

 

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Last Update: 11/07/2025