Reforma ministerial à esquerda

por Francisco Celso Calmon

Cargo de livre escolha, nomeação e exoneração são ad nutum do chefe. Ministros, secretários de estados e municipais e dirigentes de empresas públicas são de livre escolha, nomeação e exoneração. Quando se aceita um cargo comissionado, sabemos que estamos sujeitos a entregá-lo quando a chefia solicitar, independentemente de o argumento ser justo ou injusto.

Entretanto, da mesma forma que o chefe, presidente, governador ou prefeito, convida uma pessoa do seu conhecimento, íntimo ou não, ele vai convidar aquele político ou técnico e, em regra, vai usar argumentos capazes de convencê-lo a aceitar aquela responsabilidade. E o faz de forma diplomática, educada, diria até que sedutora.

Quando vai solicitar o cargo de volta, ou seja, vai exonerar aquele assessor, o mínimo a fazer é ser tão educado, cortês e convincente da necessidade da troca do titular.

Quando é o comissionado que solicita a exoneração, é um ato de desconfiança, de crítica ao mandatário; eu usei duas vezes – uma na Câmara Municipal do RJ, outra na prefeitura de Vitória: exoneração a pedido.

Tantas as formas de escolhas de nomeação quanto às formas de exoneração devem primar por proteger a dignidade do quadro em questão. Não se deve transformar e usar a mídia como processo de averiguação do futuro candidato, mas, sim, ter uma função de Recursos Humanos que fique incumbido de levantar todo o histórico daquele que vai ser convidado.

Usar a mídia para receber feedbacks sobre o selecionado, em regra, acaba servindo mais para fritura do que para filtro. Isso porque a mídia não é isenta nem profissionalmente gabaritada para essa finalidade. Entretanto, é isso que vem ocorrendo na política brasileira.

No caso de uma exoneração, o cuidado e o respeito ao ocupante do cargo devem ser em dobro, pois ele perderá o cargo e, muitas vezes, vai ser atingido em sua dignidade profissional e pessoal pela mídia.

E ter esse cuidado ético para chamar o colaborador, informar que necessita do cargo e dar as razões, e, sobretudo, ser agradecido pelo que fez durante o tempo que permaneceu naquele cargo.

No caso da exoneração da ministra da Saúde, Nísia Trindade, parece que esses cuidados não foram observados. Pelo contrário, já a algum tempo que vinha sendo plantadas notícias que poderiam ser especulativas, mas, como foram confirmadas, não eram; era a fritura para a troca do comando do ministério, o mais robusto em termos orçamentários e cobiçado pelo Centrão.

A razão passada pelo presidente para a saída da ministra foi de que era necessário mudar o perfil, por um mais agressivo. Sem dúvida, Padilha é um conciliador maleável.

O Ministério da Saúde do governo Bolsonaro, que foi usado para corrupção das vacinas, para genocídio dos que morreram da COVID-19, quando poderiam ter sido evitados, e no final foi dirigido por um general obtuso (Pazuello), que nada entendia de saúde e nem de administração pública. Foi esse órgão de terra arrasada que a ex-ministra Nísia Trindade, com competência técnica e administrativa, conseguiu salvar e dar organicidade e vetores estruturantes ao ministério.

Seu currículo invejável e, sobretudo, com sua competência técnica e firmeza (não teria qualquer outro, inclusive Padilha) que possibilitariam o êxito alcançado.

Não cabia expor Nísia aos escorpiões da maldade da política de senzala. Era tratá-la com todo o cuidado e delicadeza que se trata um quadro precioso. Sabemos que muitas vezes, aparentemente, se acena para um outro cargo, até mais elevado ou mais importante, como forma de amenizar a queda. Até hoje, muitos acham que a ida do Flávio Dino para o STF foi menos uma garantia de um quadro de jurista competente para o Supremo e mais uma forma de tirá-lo de um governo no qual ele despontava como ministro mais forte pela sua própria competência e potencial para uma candidatura à presidência da República.

Lula, que continua cercado por fora, minado por dentro, parece que tem em seu entorno mentes maquiavélicas. E, nesta corte, os colaboradores que não têm expressão eleitoral são exonerados de uma maneira mais ao estilo patrão e empregado do que uma relação de companheiros.

As mulheres já foram três exoneradas, e vale lembrar que a exoneração do ex-ministro Silva Almeida foi uma fritura urdida dentro do palácio e transpôs seus muros. Entre elas estão: Nísia Trindade, Ana Moser, Daniela Carneiro, cooptadas pelos que representavam nas suas áreas de atuação, por seus méritos, e não por seus votos ou por lideranças partidárias, portanto, exoneráveis sem grandes resistências partidárias.

O ministro de defesa. Múcio, que representa a corporação militar junto ao governo e não o inverso, já deveria ter dado o lugar a um quadro capaz de levar a reforma necessária às forças armadas.

O ministério das relações exteriores, dirigido na prática pela dupla Amorim e Vieira, não está em consonância com o sentimento e a unidade latino-americana. A relação com a Venezuela foi ideológica e nos deixou mal, mormente com o veto à sua entrada nos BRICS.

O governo não empolgou nem a gregos e nem a troianos. É um governo pálido, sem sangue nas veias e sem ministros carismáticos. E esse método de expor colabores e depois exonerar, vai sendo explorado pelos adversários e pela mídia corporativa, e vai minando e crescendo o número de desaprovação do governo.

A questão causal não é de comunicação, é mais funda! A economia não vai trazer a aprovação necessária, falta política, falta fomentar o sonho do povo brasileiro.

Qual o projeto estratégico do governo que empolga mentes e corações?

Cercado historicamente pelos três êmes (mídia, mercado e militares) e pelo i de imperialismo, minado por dentro, desde bolsonaristas raiz, oportunistas convertidos, a membros do Centrão, ideologicamente contrários ao progressismo lulista, se a reforma não visar a unidade, vai minar mais ainda.

Pode tratar quem quiser com civilidade, mas não espere que deixem de ser ideologicamente e politicamente contra o governo, como o Governador de São Paulo o  é.

O Imperialismo trumpista, quer dizer neonazifascista, reativando a política de anexação, submissão aos senhores feudais da tecnologia, e destruição das democracias ocidentais, assume a principalidade de inimigo da paz.

O cenário afeta o Brasil ao ponto de pensarem em atingir um ministro da Suprema Corte brasileira usando meios judiciais dos EUA.

Um acinte, uma provocação sem lastro, senão o da prepotência ianque.

E vão descaradamente intervir na eleição de 2016, e não será de todo delírio se nos pedirem as atas.

Resistir ao império trumpista é defender o ministro Moraes, e defender o Brasil começa por reativar o sentimento patriótico e respaldar o governo em suas atitudes de enfrentamento ao trumpismo.

Se vis pacem, parabélum, não desejamos nenhum tipo de guerra, seja comercial, seja bélica, mas, se for mister, dela não fugiremos, como assertiva o nosso hino – o filho teu não foge à luta.

O governo precisa colaborar, a corte deve evitar intrigas e queimações, a nossa UNIDADE hoje é mais imprescindível do que ontem.

A reforma ministerial não começou bem, só resta torcer para que acerte o passo à esquerda, se insistir nos passos trocados do Centrão, vai sentir o veneno da traição logo ali adiante.

Havia concluído o artigo, quando a imprensa confirmou a nomeação da Presidenta do PT para o importante Ministério das Relações Institucionais.

Alvíssaras, uma mulher com peso partidário, que alia competência com coerência vai assumir o lugar de Padilha: axé, Gleisi Hoffmann!

Posse marcado para o dia 10 no mês da mulher, bem simbólico.

No ensejo carnavalesco, anistia a golpistas, não!

Carnaval 2025

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

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Last Update: 01/03/2025