À frente do PT durante os primórdios da era Lula, entre 2003 e 2005, José Genoíno viveu o auge da conciliação institucional entre a esquerda e o centro político. Vinte anos depois, o ex-deputado critica o que chama de “acomodação” do partido no poder e defende uma inflexão radical à esquerda para evitar o avanço da extrema-direita e viabilizar a reeleição em 2026.
O termo já foi usado por ele em outras ocasiões para se referir ao que considera um erro histórico: a negligência da esquerda em mobilizar as bases populares entre 2003 e 2016, durante os governos Lula e Dilma Rousseff.
Seria necessário, defende Genoíno em entrevista a CartaCapital, uma “inflexão radical à esquerda” — ainda que isso implique derrotas no Congresso. “O governo tem que ter um pé no palácio e outro nas ruas.”
O ex-deputado denuncia a existência de um “trilho da maldade” que impediria o avanço das pautas populares no país e criaria um cerco ao governo, com o objetivo de desmontar as políticas sociais. Na sua avaliação, o terceiro mandato de Lula tem enfrentado esse cenário com “timidez”, concentrando esforços, de forma equivocada, na tentativa de estabilizar a relação ainda instável com o Congresso.
“Estão encantados com os tapetes verdes, azuis e vermelhos. Mas, se não disputarmos corações e mentes, o povo insatisfeito vai nos culpar por manter o status quo. E sabemos que a direita aposta no caos”, afirma. “Precisamos de uma concertação com os movimentos sociais. Não para trazê-los para dentro do governo, mas para dialogar com sua agenda.”
Apesar de demonstrar ceticismo em relação às pesquisas que indicam queda na popularidade de Lula, Genoíno afirma que o problema vai além da comunicação, como alegam integrantes do Planalto. “O problema é: comunicar o quê? Precisamos de uma linha política clara, que dialogue com o povo.”
Nome emblemático da esquerda brasileira, Genoíno também teve uma trajetória destacada no Congresso, onde exerceu sete mandatos. Foi eleito pela primeira vez em 1982, dois anos após a fundação do PT, da qual foi um dos principais articuladores. Antes disso, integrou o PCdoB por doze anos e participou da Guerrilha do Araguaia, movimento de resistência armada à ditadura militar.
Em 2012, foi condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha no caso do mensalão. Vinte anos depois, afirma que o episódio funcionou como “laboratório de criminalização da política”. Renunciou ao mandato em 2013. Sua pena foi extinta por um indulto natalino concedido em 2015.