Muito além de um projeto de poder, que está elegendo líderes da extrema-direita a partir de mentiras, a exemplo da teoria da terra plana, criadores de teorias da conspiração encontraram nas redes sociais (e na falta de regulamentação delas) uma maneira de impulsionar lucros altíssimos a partir de produtos milagrosos, porém sem qualquer embasamento científico.

É o que mostra o artigo de Ergon Cugler, mestre em Administração Pública e Governo, e pesquisador para a estratégia nacional contra a desinformação, Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), publicado no site The Conversation.

Um mapeamento inédito promovido no Telegram constatou duas mil comunidades abertas e públicas com quase cinco milhões de usuários latino-americanos e caribenhos, em que, a partir de informações falsas, criminosos vendem produtos que prometem a cura da rinite, alergias, autismo, câncer e AIDS.

Entre maio de 2016 e janeiro de 2025, mais de 55 milhões de mensagens foram trocadas, com destaque para duas comunidades: Medicamentos Off Label e Antivacinas, em que as mais de 15 milhões de publicações tiveram mais de 21 bilhões de visualizações.

Tanto engajamento (e convicção dos membros) torna a comércio de remédios falsos um negócio promissor e lucrativo. Um deles, produzido a partir do dióxido de cloro (ClO₂), promete um “detox vacinal” para remover os nanorobôs que as vacinas inserem no nosso organismo.

Cabe ressaltar que o dióxido de cloro (ClO₂) é utilizado na produção industrial de desinfetantes e branqueadores de papel.

Durante o período pesquisado, quase 345 mil mensagens promoveram o ClO₂, a partir de e-books e até cursos on-line.

Já os frascos de MMS (Mineral Miracle Solution), compostos por compostos por clorito de sódio a 28% e um ativador, em geral ácido clorídrico, teria como proposta a cura de rinites, câncers, autismo e HIV.

De acordo com as publicações, diversos pais expõem recém-nascidos à substância, a fim de fortalecer a imunidade dos bebês e prevenir o autismo.

Parasitas

Outro tema popular entre os conspiracionistas são os parasitas, aos quais são atribuídos diversos malefícios à saúde. A diabetes seria um deles. Nos últimos nove anos, foram mais de 185 mil menções associando a doença crônica a um parasita.

O modus operandi dos conspiracionistas para vender é sempre o mesmo: criam um cenário alarmante, em que os parasitas se destacam como uma ameaça invisível. Em seguida, oferecem protocolos de desparasitação e desintoxicação, em que o comprador pode limpar o organismo de vermes. Há, inclusive, versões específicas para crianças.

Já em relação às vacinas, criou-se nas comunidades ainda uma organização para falsificar passaportes vacinais, exigidos por escolas no ato da matrícula das crianças ou ainda por empresas no ato da contratação.

Políticas públicas

Cugler constatou ainda que os brasileiros são a maioria nas comunidades conspiracionistas e representam metade dos usuários (2,5 milhões), além de produzir 47% das mensagens publicadas em tais comunidades.

Por isso, o mestre em Administração Pública defende a criação de políticas públicas mais robustas para combater a venda de produtos ilícitos nas comunidades conspiracionistas, além de regulamentar também as plataformas digitais, a fim de rastrear quem lucra com a vulnerabilidade humana e também para que seja possível fortalecer a educação midiática e, consequentemente, desarticular a atuação dos criminosos.

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Last Update: 28/01/2025