Recuo de Lula no Pix expõe riscos que corre com a pressão popular

O recuo do governo Lula em relação à medida de fiscalização do Pix ontem foi o desfecho de uma imensa derrota, mas poderia ter sido ainda pior caso o governo insistisse em manter a medida, mesmo diante da absoluta rejeição popular ao seu anúncio.

A impopularidade da medida era bastante evidente, e ela veio na esteira de uma série de outras decisões impopulares, como o teto no aumento do salário mínimo, a diminuição no teto do abono salarial, a taxação de produtos chineses e muitas outras.

Um fator com o qual o governo não estava contando foi a capacidade e o tamanho da campanha empreendida pela extrema-direita para atacar a medida. O deputado Nikolas Ferreira publicou um vídeo em seu Instagram que alcançou a impressionante marca de 300 milhões de visualizações, tornando-se o vídeo mais visto na rede social no mundo inteiro.

Diante disso, o recuo era praticamente inevitável. Uma preocupação expressa pelo próprio governo é de que a medida poderia ter gerado um novo “junho de 2013”, referindo-se à interpretação petista de que, naquele período, ocorreram manifestações em todo o país que acabaram dando uma base “popular” para o golpe de Estado de 2016.

Concordando ou não com a análise dos fatos do passado, a visão de que algo semelhante poderia acontecer hoje, desencadeado pela crise do Pix, é bastante pertinente. Ou seja, a extrema-direita poderia se utilizar da revolta popular contra essa medida do governo para organizar um gigantesco movimento nas ruas pedindo a derrubada de Lula.

A importância de compreender esse fato é muito grande. O PT e a esquerda, em geral, têm subestimado a capacidade do bolsonarismo de mobilizar uma parcela significativa da população.

É preciso, também, salientar que a campanha que a extrema-direita faz contra o governo é hipócrita, oportunista (visto que eles não são verdadeiramente contrários a medidas impopulares) e não revela a realidade total dos problemas econômicos do país.

A direita insinua que o aumento na arrecadação do governo serviria para sustentar uma suposta corrupção gigantesca do governo do PT e outras narrativas folclóricas, como os gastos de Janja e coisas do tipo. A imprensa burguesa impulsiona essa campanha, como na matéria que aponta que Janja utilizava um sapato de R$ 8,5 mil em um evento.

No entanto, os verdadeiros ladrões do orçamento público são os banqueiros. Os sapatos de Janja não chegam nem perto dos R$ 1,038 trilhões que são pagos aos bancos na forma de amortização da dívida pública. Para Janja bater essa cifra, ela teria que comprar 122,1 milhões de seus elegantes sapatos. E os banqueiros exercem uma grande pressão sobre o governo para aumentar ainda mais a sua parte do bolo.

É preciso, portanto, colocar como principal diretriz que o governo pare de dar dinheiro para os bancos e comece a investir em sua população. Faz-se necessária uma ampla campanha pelo fim do pagamento da dívida pública. Os banqueiros, no entanto, são poderosos. Para que uma campanha como essa possa ser levada adiante, é necessário impulsionar uma grande mobilização popular.

Portanto, a única forma de o governo Lula enfrentar a extrema-direita é abandonando a política de enriquecer os bancos e tomando medidas que possam favorecer a população. Essa é a diretriz política do momento.

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