O recrutamento passou a ter impacto direto na reputação das empresas em um mercado cada vez mais competitivo. Levantamento da CareerArc indica que 60% dos candidatos relatam experiências ruins em processos seletivos e que 72% compartilham essas vivências negativas com outras pessoas ou em ambientes digitais. O efeito ultrapassa a vaga não preenchida e atinge a imagem da marca empregadora.
Durante anos, os processos seletivos foram organizados a partir de uma lógica assimétrica, na qual o candidato era avaliado sem que a empresa também fosse colocada sob escrutínio. Segundo o especialista em recrutamento Frederico Sieck, essa prática deixou de fazer sentido diante da disputa atual por profissionais em áreas como tecnologia, vendas, marketing e operações.
Para Sieck, que é CEO da Koud, empresa especializada em recrutamento no setor de tecnologia, a experiência do candidato se tornou parte da estratégia de negócios. Ele afirma que os processos seletivos passaram a funcionar como uma vitrine pública da organização.
Recrutamento afeta imagem além da vaga
De acordo com o especialista, muitas empresas ainda subestimam os efeitos de um recrutamento mal estruturado. Falhas de comunicação, ausência de retorno aos candidatos e desorganização das etapas geram percepções negativas que circulam rapidamente no mercado.
A avaliação, segundo Sieck, não termina com a última entrevista. Ela continua quando o candidato compartilha sua experiência em redes profissionais, grupos de mensagens ou conversas informais. Um único processo mal conduzido pode afastar profissionais que sequer participaram da seleção.
Além do impacto reputacional, experiências negativas tendem a ampliar o tempo de contratação. Candidatos deixam de indicar a empresa, recusam novas abordagens e reduzem o alcance das vagas abertas.
Dados reforçam impacto da seleção ruim
Outro dado que reforça esse cenário vem do Relatório de Experiência do Candidato da Talentegy. Segundo o estudo, 69% dos profissionais têm pouca ou nenhuma disposição para se candidatar novamente a uma empresa após uma experiência negativa de recrutamento.
Para o CEO da KOUD, o processo seletivo funciona como um indicador público da cultura organizacional. A forma como os candidatos são tratados sinaliza como a empresa se relaciona com seus funcionários no dia a dia.
Ajustes nos métodos reduzem riscos
Para reduzir danos à imagem e ampliar a atratividade, Sieck defende que o recrutamento seja tratado como parte integrada da estratégia corporativa. Entre as práticas recomendadas estão a transparência sobre etapas e prazos, critérios claros de seleção e comunicação consistente ao longo do processo.
Outro ponto é o feedback, mesmo em casos de reprovação. O respeito ao tempo do candidato, com menos burocracia e etapas objetivas, também aparece como fator relevante para melhorar a percepção sobre o recrutamento.
Segundo o especialista, cada interação deve considerar que o candidato pode se tornar, no futuro, cliente, parceiro ou até voltar a participar de outro processo seletivo. A experiência acumulada em cada seleção influencia diretamente essa decisão.
Diante de um mercado de trabalho mais atento à cultura organizacional, o recrutamento deixou de ser apenas uma etapa operacional. Ele passou a atuar como um dos principais elementos de construção ou desgaste da marca empregadora.