A ministra Cármen Lúcia autorizou o colega Flávio Dino a interromper a leitura de seu voto para fazer um breve comentário, conhecido no Supremo Tribunal Federal como “aparte”. O diálogo foi uma resposta indireta ao ministro Luiz Fux, que exigiu não sofrer interferências enquanto proferia, na quarta 10, um longo voto de mais 12 horas no julgamento do núcleo crucial da trama golpista.
“Ministra Cármen, vossa excelência me concede um aparte?”, pediu Dino. “Todos, ministro”, respondeu a magistrada.
Dino acrescentou, em tom de brincadeira, que seria literal na compreensão. “Todos desde que rápidos, porque nós, mulheres, ficamos dois mil anos caladas e queremos ter o direito de falar”, prosseguiu Cármen. “Mas concedo como sempre. Está no regimento do Supremo. Debate faz parte dos julgamentos e tenho o maior gosto em ouvir. Sou da prosa.”
Na sessão da terça-feira 9, Fux tensionou o clima na Primeira Turma após Dino interromper o voto de Moraes (com autorização do relator).
“Conforme combinamos naquela sala, os ministros votariam direto sem intervenções de outros colegas, muito embora foi muito própria essa intervenção do ministro Flávio Dino”, disse Fux.
“Mas esse aparte foi pedido a mim e não a vossa excelência”, devolveu Moraes. “Pode ficar tranquilo, ministro Fux, não vou pedir aparte no seu voto”, emendou Dino.