Essa semana, jovens do Rebeldia de diversas partes do Brasil estão em Pernambuco, onde acontece a Bienal e o 16º CONEB (Conselho Nacional de Entidades de Base) da UNE, um fórum que reúne integrantes de Centros e Diretórios Acadêmicos. Aqui estão as ideias que os delegados e militantes do Rebeldia defenderão no CONEB.

Escala 6×1, crise climática, aumento da violência e os bilionários com as garras na educação: o drama da juventude trabalhadora

A vida da juventude trabalhadora está cada vez mais infernal. Estudar não tem garantido emprego, o que transformou a evasão num dos principais problemas das escolas. E os empregos que existem para os jovens são os piores do mercado, como os 6×1 e informais sem direitos. Mas enquanto a luta contra a 6×1 toma o país, o governo Lula ajuda empresas como a Ifood a regulamentar jornadas de trabalho de 12h ou mais, através do Projeto de Lei dos Aplicativos.

Trabalhando desse jeito sem parar para ter uma renda mínima, fica quase impossível fazer o ensino superior. Sem falar na humilhação que são os vestibulares, e na luta para permanecer nas universidades quando se chega lá. O problema é que, além de tudo, o Arcabouço Fiscal tirou da educação para dar aos banqueiros. E além da briga na educação que travamos contra os tubarões da iniciativa privada, as megaempresas de educação, há ainda a briga contra um dos maiores bilionários da América Latina que está dentro do Ministério da Educação de Lula. É Jorge Paulo Lemann, com suas fundações educacionais, o famoso “lucro sem fins lucrativos”.

Com uma vida assim, não é difícil entender a ansiedade, depressão e questões de saúde mental entre os jovens. E quando pensamos que hoje está ruim, mas o futuro pode ser melhor, ninguém tem certeza do que será o mundo diante da crise climática. E o meioambiente se revolta diante de tantas privatizações e destruição ambiental causada pelo agro. Agro esse que em 2024 recebeu do governo a maior cifra de dinheiro da história do Plano Safra.

Para a juventude trabalhadora, viver é um desafio e estar vivo mais ainda. Principalmente se você é um jovem negro, LGBTQIAPN+, mulher, PCD ou indígena. As PCDs tiveram direitos cortados pelo governo com o corte do BPC. Lula não enfrenta a violência policial, na verdade a renova, como fez com a Lei Orgânica das PMs e como demonstram os dados de violência policial na Bahia, governada pelo PT. Também não criou políticas para combater o machismo e a LGBTQIAPN+fobia, na verdade ele próprio reproduz falas machistas grotescas e o Brasil segue sendo o país que mais mata pessoas trans do mundo todo. Para os oprimidos, sobreviver ao capitalismo dessa maneira significa contrariar as estatísticas.

Organizar o ódio de classe, contra o governo Lula que reabilita a extrema-direita e fortalece o capitalismo

A burguesia, pra esconder que esse inferno existe por causa dela, cria mentiras como a meritocracia e a ideologia empreendedora. Você não chegou lá? A culpa é sua, faltou esforço, dedicação, e mindset vencedor. Quanto mais aumentam os níveis de exploração que pioram as condições de vida da classe, mais se escondem atrás dessas mentiras. E o governo Lula, ao invés de combater essas ideologias, as reforça, na medida em que governa com e beneficia a burguesia. É por isso que há aumento do preço dos alimentos, que a reforma tributária não tocou nos super-ricos e manteve a estrutura de impostos que confiscam os salários da classe trabalhadora, e que os índices de rejeição ao governo aumentaram.

Diferente do que diz a maior parte da esquerda, esse não é um problema de “comunicação”. A melhor maneira de desmentir a fake news da extrema direita sobre o pix teria sido anunciando o prometido projeto de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil. E já que os governistas sempre dizem que os bons projetos não vão adiante por causa da correlação de forças no Congresso, esse anúncio poderia inclusive ter ajudado a criar uma correlação favorável, desmascarando e encurralando a direita nesse tema. Mas o governo não fez isso. Porque seu projeto e sua política econômica não diferem, em substância, da direita e da extrema-direita. A diferença é de ritmo da aplicação desse programa.

O problema é que, além do governo deixar impunes os golpistas, bolsonaristas e militares, a extrema direita se aproveita disso e, de forma oportunista, surfa nos efeitos dessa política contra os trabalhadores. E de forma reacionária, canaliza a insatisfação que existe por baixo. É o caso dos jovens de direita, como Nikolas Ferreira e Lucas Pavanato, que dizem que o problema da sociedade são os setores oprimidos, em especial as trans, e uma suposta ideologia woke. Enquanto isso, na pesquisa de janeiro do Datafolha, os jovens foram a faixa da população com o maior índice de insatisfação com os rumos da economia. Mas o PT e a maioria da esquerda brasileira dizem que não é possível ser oposição de esquerda à Lula, porque apenas ele tem condições de derrotar a direita. E dizem para os jovens não serem tão radicais, que radicalidade demais vai fazer a direita voltar.

Mas nos Estados Unidos, mesmo com a esquerda capitalista inteira defendendo o voto em Biden para derrotar Trump, a extrema-direita voltou com força. Esse retorno não é um acidente, mas consequência do governo Biden, que manteve o status quo a favor das elites econômicas e dos bilionários. Diante da ofensiva de Trump, do gesto naz1 de Musk e da ofensiva das Big Techs, a resposta dos ditos governos progressistas da América Latina é uma vergonha. Petro, na Colômbia, ensaiou uma reação, mas depois recuou no tema da deportação e ficou desmoralizado. Para ser consequente com suas palavras, precisaria romper a submissão da Colômbia ao imperialismo, fazendo um governo que não implementasse os planos neoliberais. No entanto, Petro busca um suposto capitalismo humano, e governa apoiado no imperialismo, ficando apenas no discurso. Já Lula nem sequer saiu das palavras e tentou usar sua habilidade em fazer aliança com os ricos e poderosos para buscar acordos com Trump.

É preciso se inspirar nas lutas da classe trabalhadora do mundo. A força da classe trabalhadora síria, que fez uma revolução e derrubou o ditador Bashar Al-Assad. A garra da classe trabalhadora ucraniana, cuja revolta popular fez com que resistissem até hoje contra a Russia, a OTAN e seu próprio governo. A coragem da classe trabalhadora palestina, que celebrou o cessar-fogo como uma etapa de sua luta contra o apartheid e o colonialismo. A afronta das LGBTQIAPN+ e mulheres da argentina, que tomaram as ruas contra as ideologias reacionárias de Milei.

No Brasil, enquanto a esquerda reformista seguir preservando as bases do capitalismo, a indignação que se gerar será capitalizada pela oposição de direita. Por isso é preciso de uma oposição de esquerda, que, ancorada nas lutas da classe trabalhadora e dos povos oprimidos do mundo, transforme a indignação existente em ódio de classe contra o sistema.

A Majoritária da UNE defende os projetos capitalistas para os jovens e a educação

Nos últimos anos, a direção Majoritária da UNE (dirigida pela UJS, junto com os coletivos do PT, Levante Popular da Juventude, PDT, PSB e Rede) cumpriu o papel de ser correia de transmissão das políticas do governo. Sobre o Arcabouço, no Congresso da UNE de 2023, os distintos setores da majoritária diziam que era um remédio amargo, mas necessário. Na greve das universidades e institutos federais, já que passava pano para esse Teto de Gastos, a Majoritária foi incapaz de canalizar e mobilizar os estudantes para que a greve fosse vitoriosa. Quando o governo federal não atendeu as reivindicações da greve e desrespeitou os sindicatos de funcionários e professores, a UNE não fez nem uma exigência a Lula para que deixasse de reduzir verba da educação por causa do Arcabouço.

Os setores da Majoritária se unificam ao redor da defesa de um projeto capitalista para o Brasil, chamado de neodesenvolvimentista. O modelo de governo desse projeto é justamente a frente ampla, e pactos de conciliação com setores burgueses considerados progressistas. É por isso que a entidade não defende mais a estatização da educação privada, se reduzindo nos últimos anos a lutar pela regulamentação e fiscalização do ensino privado. Para a UJS, o problema é o capital estrangeiro na educação, mas bilionários como Jorge Paulo Lemann e demais burgueses do Brasil podem ficar à vontade para nos explorar. A direção da UNE não fala nada sobre ter um bilionário dentro do MEC, porque encara Lemann como parte desses bilionários progressistas de esquerda com quem é necessário dialogar e governar.

O laço programático que tem com o governo faz com que tenha posicionamentos altamente hipócritas. É como no caso do Pé-de-Meia, um projeto defendido pela majoritária, em que o governo oferece bolsas no intuito de combater a evasão. Financiar a educação com bolsas é importante, mas nesse caso ainda insuficiente, porque sequer corresponde a um salário mínimo, o que não garante que o jovem possa apenas se dedicar ao estudo. Mas o mais hipócrita é que essa medida mantém intacto o que cria a evasão: uma educação cada vez mais precária, com diplomas que parecem não servir para muita coisa, e a diminuição do nível de vida que obriga os jovens a trabalhar cada vez mais cedo. Ao invés de investir na educação básica, em empregos formais e geração de renda, o governo diminuiu as verbas do Fundeb, deu as escolas para empresas com o Novo Ensino Médio e regularizou as jornadas de 12h, e a direção majoritária se cala sobre esses ataques, e comemora o Pé-de-Meia como uma grande vitória.

Enquanto estiver amarrada ao governo, a Majoritária vai defender um projeto burguês para a educação. Ontem justificavam que os problemas do país eram causados pelo Banco Central supostamente bolsonarista. Hoje, com o presidente do BC de direita, diretamente indicado por Lula, a justificativa encontrará novas distorções. A majoritária seguirá sem conseguir mobilizar os estudantes para lutar até o fim, e vai apontar como alternativa para a juventude brasileira um horizonte em que as garras da burguesia se impõem sobre os serviços públicos, sobre nossa vida e nossos direitos.

A Oposição de Esquerda diante do governo Lula e os desafios na luta contra a Majoritária

Diante do governismo da majoritária, se faz necessário um campo de Oposição de Esquerda na UNE. Mas aqui é necessário fazer um balanço: esse campo que já existiu de forma orgânica na UNE, hoje é lembrado apenas quando há conveniência para fechar acordos entre correntes e disputar cargos na entidade. Não existe um debate político que unifique os setores ao redor de pontos programáticos para construir a Oposição. Isso ficou no passado, quando, durante os primeiros governos Lula e os governos Dilma, as correntes de fato se diziam opositoras aos governos PT, e lutavam contra o governismo no movimento estudantil. Mas com as mudanças políticas nos últimos anos do país, a verdade é que a maior parte das correntes muda sua localização política, e passam a integrar cada vez mais o campo da conciliação de classes.

É o caso da Juventude Sem Medo, que nos últimos anos oscila entre a majoritária e a oposição de esquerda. Isso é resultado de uma linha política que, curiosamente, é a mesma da UJS, e que entende os projetos do governo como fruto de pressões do mercado ou de capitalistas, como se o governo Lula estivesse em disputa e nós pudéssemos ajuda-lo. O problema é que se isso fosse verdade, Lula se apoiaria na forte mobilização contra a escala 6×1 para impor melhores condições de trabalho, ou teria se apoiado na greve das federais para lutar contra a ofensiva do arcabouço. E não fez nada disso, justamente porque o projeto que implementa é o seu próprio projeto. Hoje a JSM se limita a fazer apelos para que Lula combata a extrema-direita, algo que não vimos até agora e nem acontecerá, pelas relações umbilicais com o capitalismo e a institucionalidade burguesa que o PT mantém.

Por outra parte, essa integração no campo do governismo é também o caso do Juntos e do Correnteza, que com diferenças, tem uma posição de criticar o governo no que é ruim, mas apoiá-lo no que é bom. Se os companheiros reconhecem que o governo PT está com os capitalistas, por que não podem ajudar a fortalecer um campo de oposição de esquerda ao governo?

O Correnteza hierarquiza toda sua posição pelo combate ao fascismo. O problema é que ao fazerem isso, os companheiros chamam de fascismo políticas de governos de conciliação de classes, como é o caso das privatizações, que não são medidas econômicas exclusivas do fascismo. Muito pelo contrário, tem sido um dos pilares de sustentação de todas as democracias burguesas do mundo. E mesmo a violência policial e de estado, que está cada vez mais repressiva, é parte dos mecanismos de coação da própria democracia burguesa, não sendo um traço distintivo do fascismo. A resultante dessa linha, por um lado, é desarmar os ativistas no entendimento sobre o que de fato é uma ameaça fascista. Isso é muito perigoso, sob o risco da vanguarda jovem não saber distinguir um fenômeno fascista quando ocorrer. Por outro lado, isso embeleza o que é o governo Lula, e dificulta o entendimento de qual é o real papel que cumpre o governo diante da classe trabalhadora. Essa concepção política não é nova e vem do programa stalinista sobre os governos de frente popular. Uma concepção que, ao longo da história, fez o stalinismo derrotar mobilizações populares para apoiar campos burgueses supostamente progressistas, como na China.

O Juntos, por sua vez, faz críticas corretas aos projetos neoliberais do governo e chama os jovens a lutarem e se mobilizarem contra eles. Reivindicamos esse chamado e nos colocamos na disposição de organizar toda unidade de ação possível. O problema é que, embora se reivindiquem independentes, não podem de fato ser, pelas amarras do PSOL e da própria institucionalidade burguesa. Ou se está no governo, ou não se está. Os companheiros tentam sustentar uma posição como se não fizessem parte do campo do governo. Mas se os seus parlamentares são base de apoio do governo, e o seu partido está no governo, isso significa que, ache bom ou ache ruim, você também está. Quando isso é apontado, a resposta é a de que estão batalhando dentro do PSOL. O problema é que divergem da direção majoritária do PSOL se mantendo dentro desse partido, se submetendo a tudo que nele é decidido, e se limitando a lamentar publicamente posicionamentos governistas de seus parlamentares. Fora que nem tudo são críticas, e é por isso que em Belém, por exemplo, o Juntos fez parte da frente ampla de Edmilson. Um fracasso total para a classe trabalhadora, que inclusive abriu espaço para a direita.

E por fim, em relação à UJC, que diferente das organizações citadas se posiciona como oposição de esquerda ao governo, o que é fundamental, mas que para a UNE defende a conformação de um campo de “independência”. Ora, o que isso quer dizer? A independência de classe não é uma palavra vazia, sem conteúdo político. Significa que, para defender a classe trabalhadora, será preciso lutar implacavelmente contra a burguesia. A independência significa não ter amarras, porque não pode lutar contra o inimigo aquele que está atado a ele. A pergunta que fazemos aos companheiros é: se o governo Lula é burguês e governa o capitalismo com a burguesia, tem como algum setor que faz parte do campo do governo ser independente?

Refundar a Oposição de Esquerda para enfrentar o governismo e burocratismo no movimento estudantil

Nós achamos que para superar o projeto político da majoritária para movimento estudantil, é preciso recriar a Oposição de Esquerda, com critérios programáticos bem definidos:

1- Oposição de esquerda a Lula: diante do que é o governo hoje, e da reabilitação que faz dos bilionários capitalistas, da direita e da extrema-direita, a posição política que garante que possamos defender a classe trabalhadora e a educação é a oposição de esquerda. Essa é a única posição que garante independência política e financeira para poder combater os ataques e o projeto de país que defende o PT.

2- Contra o burocratismo: chega de fraude, mentira, falsificação e intimidação. A UNE precisa cultivar a democracia de base, que chamamos de democracia operária. Se existiu uma camarilha burocrática que levou a URSS à derrocada, hoje existe uma casta burocrática na direção da UNE, que impede que a entidade se desenvolva. O método do vale-tudo é um método burguês para se perpetuar no poder. Chega de métodos stalinistas no movimento estudantil.

3- Aliança operário-estudantil: o nosso lado é o da classe trabalhadora, não o do centrão e dos bilionários. No Pará, estamos com os indígenas, ribeirinhos e quilombolas, que lutam contra o governador Helder Barbalho, integrante da Frente Ampla, e que exigem de Lula e Sônia Guajajara as suas reivindicações.

Esses 3 pontos são os elementos básicos para retomarmos um horizonte combativo e realmente capaz de enfrentar o projeto político da Majoritária. Que aponte aos estudantes uma estratégia de luta e enfrentamento a todo e qualquer projeto burguês, e que delimite bem quem são nossos aliados.

Foto: Deyvis Barros

Organize sua Rebeldia por um programa socialista na UNE e para a classe trabalhadora

O Rebeldia é uma organização comunista e revolucionária, que atua no movimento estudantil e entre os jovens da classe trabalhadora, para desde suas lutas imediatas, apontar um horizonte estratégico contra o capital. Algumas bandeiras que defendemos nesse momento são o fim da escala 6×1, as cotas trans e o fim do vestibular, e a partir dessas lutas, organizamos os estudantes e jovens para lutar pelo socialismo.

Somos marxistas, atuamos na realidade levando adiante os ensinamentos de Marx, Lenin, Rosa Luxemburgo, Trotsky e marxistas latino-americanos como Nahuel Moreno. Não temos capitalista de estimação, seja um bilionário, seja um estado inteiro, como é o caso da China, Russia, Venezuela, e demais governos burgueses e de conciliação de classes.

O nosso partido é o partido socialista da classe operária, que desde a época da ditadura militar lutava clandestinamente pelo socialismo no Brasil: o PSTU.

Queremos organizar o ódio de classe dos jovens para romper o poder e construir uma revolução comunista. Venha com a gente organizar sua Rebeldia!

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 30/01/2025