Uma menina nascida no país do fundamentalismo religioso escolhe expressar sua fé representando o Brasil nas olimpíadas e corre o risco de ser punida.
Rayssa Leal, que levou o bronze, disse em libras uma prece: “O caminho da vida é a verdade e a vida”.
O comitê olímpico internacional não foi capaz de admitir a expressão da menina, que corre o risco de levar uma advertência, embora, felizmente, não esteja sujeita a perder a medalha que conquistou.
Ainda assim, é chocante que o direito constitucional de cada cidadão e cidadã de professar sua fé seja ferido sem qualquer cerimônia.
Eis a regra: todos atletas podem sofrer punições por falarem sobre religião ou política, sob a justificativa de que, no evento, participam competidores de crenças e culturas diferentes.
Isso é ótimo e se chama diversidade cultural e religiosa. As diferenças, desde que respeitadas, não são um problema.
Viraliza o vídeo da skatista Rayssa Leal, 16 anos, medalha de bronze neste domingo (28) em Paris, expressando em libras: “O caminho da vida é a verdade e a vida”.
Com a mensagem em libras, Rayssa, que é evangélica, conseguiu driblar a proibição de mensagens religiosas nos Jogos. pic.twitter.com/yjSrYt4072
— Eliana Lima (@elianalima) July 28, 2024
Respeitar as diferenças não significa proibir as pessoas de expressarem a sua fé – no Brasil, um direito constitucional de todas e todos.
É, aliás, justamente o contrário: olimpíadas não são disputadas e vistas por robôs, mas por seres humanos, que levam para o pódio sua bagagem cultural, posicionamento político e crença religiosa.
Pra quem diz que esporte não é política, ledo engano. Onde há seres humanos, há política. E crenças. E culturas. E posicionamentos.
Para além disso, punir uma menina por fazer uma oração é, no mínimo, intransigente.
A essa altura você pode se perguntar: e se a oração fosse pra Exu?
Concordo que, caso fosse assim, a punição certamente já teria chegado, tendo em vista a intolerância religiosa que marca o Brasil.
Mas por que, afinal, este fato deve ser considerado para punir uma atleta por ter fé?
Humanizar competições é humanizar atletas. Rayssa, assim como qualquer outra competidora ou competidor, tem o direito de expressar sua fé.
O exagero do Comitê Olímpico Internacional deve ser revisto não apenas para fazer justiça à skatista, mas também por abrir precedentes para que outras atletas possam exercer seu direito de expressão.
Que possam ser gente, enfim.