Entre 2022 e 2023, um jovem brasileiro associado ao grupo terrorista Estado Islâmico usou grupos online para recrutar quatro adolescentes de cidades do interior do Rio de Janeiro e São Paulo. De acordo com informações do Metrópoles, pelo menos dois desses menores de 18 anos já estavam em um estágio avançado de radicalização.
Conhecido nas redes como Mateus al-Brazili, Gabriel Silva, de 20 anos, foi preso no ano passado enquanto tentava chegar à África para se unir aos terroristas. Em maio deste ano, ele foi condenado a sete anos de prisão por terrorismo e corrupção de menores.
Mensagens no aplicativo Telegram revelaram planos de atentados terroristas no Brasil, instruções para fabricar bombas caseiras, discursos religiosos extremistas e vídeos extremamente violentos.
Investigadores da Polícia Federal descobriram essa célula do ISIS no Brasil em 2022, após receberem um alerta do serviço de inteligência do Marrocos. A embaixada brasileira no Marrocos foi informada sobre uma conversa interceptada de Mateus al-Brazili mencionando um possível ataque a uma igreja católica em Barbacena (MG), onde Gabriel Silva morava com sua avó.
A situação se agravou quando o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, entrou em contato com os investigadores brasileiros. Um vídeo no serviço de armazenamento criptografado pCloud mostrava Gabriel Silva encapuzado, respondendo a um questionário do grupo terrorista.
Na gravação, Gabriel Silva afirmava ter apoiadores e explicava por que o califado é a verdadeira justiça. Ele também mencionou que estava traduzindo documentos da organização terrorista, tendo aprendido árabe e inglês pela internet. Atualmente, o Estado Islâmico opera no norte de Moçambique, onde o português é a língua oficial.
Conversas no Telegram revelam como os adolescentes eram doutrinados e radicalizados. Gabriel Silva selecionava jovens em grupos de estudo do Alcorão e os convidava para um grupo mais restrito, disfarçado com nomes como “Clube do Xadrez” e “Estudos de Geopolítica”. Nesses grupos, discutiam-se atentados terroristas no Brasil.
Em uma mensagem de março de 2022, um dos adolescentes cooptados escreveu sobre seu sonho de explodir o consulado israelense. Gabriel Silva então enviou instruções para fabricar bombas ao adolescente e expressou interesse em se unir ao ISIS em Moçambique.
Segundo a investigação da PF, Gabriel orientou dois adolescentes, codinomes Hassan e Shams, a realizar um ataque terrorista contra uma representação dos EUA no Brasil, caso ele fosse impedido de deixar o país ou preso. Quando foi preso no Aeroporto de Guarulhos em 11 de junho do ano passado, Gabriel Silva pediu para fazer uma ligação e contatou um desses adolescentes, possivelmente para executar o plano.
O recrutamento de jovens pelo Estado Islâmico não é exclusivo do Brasil. Um estudo do sociólogo franco-iraniano Farhad Khosrokhavar estimou que 67% dos militantes que se juntaram ao ISIS na Síria e no Iraque entre 2012 e 2015 tinham entre 14 e 25 anos.