Segundo a cientista, cresce o uso indevido da ciência para justificar ideias de supremacia genética. Foto: Reprodução/Geledes.org

Na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, a professora de epidemiologia Genevieve L. Wojcik fez um alerta contundente publicado na revista Nature. Em artigo divulgado recentemente, ela denuncia o ressurgimento de teses eugenistas e convoca a comunidade científica a agir com firmeza contra essas ideias, que ela classifica como pseudocientíficas e perigosas. Com informações do G1.

Segundo Wojcik, cresce em várias partes do mundo o uso indevido da ciência para justificar ideias de supremacia genética. A pesquisadora destaca que essas correntes defendem a superioridade de determinados grupos em detrimento de outros, o que ameaça o avanço científico e a construção de uma sociedade mais igualitária.

O conceito de eugenia, que surgiu no final do século XIX, voltou a ganhar espaço nos discursos públicos e políticos. O movimento defendia a “melhoria genética” da população por meio de duas estratégias: estimular a reprodução dos considerados superiores e impedir a dos avaliados como inferiores. O regime nazista levou essas práticas a extremos, com políticas de extermínio e esterilização em massa.

Wojcik cita como exemplo o Johnson-Reed Act, lei de imigração aprovada nos Estados Unidos em 1924, que visava limitar a entrada de grupos étnicos considerados menos desejáveis. Na mesma época, o país iniciou um programa de esterilização forçada de pessoas consideradas “não aptas”. Estima-se que entre 60 mil e 70 mil cidadãos foram esterilizados, com registros de procedimentos realizados até 1979 em estados como a Virgínia.

Em 1924, os Estados Unidos aprovaram o Johnson-Reed Act, para limitar a entrada de grupos. Foto: werehistory.org

A professora alerta que essa ideologia não ficou no passado. Um século depois, declarações como a do ex-presidente Donald Trump, ao afirmar que há “muitos genes ruins no país”, reacendem discursos com fundo eugenista. A intenção de incentivar a reprodução entre mulheres brancas, segundo ela, caminha na mesma direção. Para Wojcik, se a comunidade científica não se posicionar, haverá uma nova onda de nacionalismo branco que poderá afetar profundamente os rumos da ciência.

O artigo também critica declarações recentes de Robert Kennedy Jr., secretário de Saúde dos EUA. Em fevereiro, ele sugeriu que crianças negras deveriam receber vacinas diferentes das crianças brancas, com base em supostas diferenças imunológicas entre raças. Wojcik contesta essa visão, explicando que a ideia de raças biologicamente distintas é uma distorção da ciência.

Ela argumenta que, do ponto de vista genético, as diferenças entre indivíduos de características físicas semelhantes são tão grandes quanto entre pessoas de grupos distintos. Em média, dois genomas humanos são 99% idênticos, o que invalida a noção de raças com contornos definidos. A diversidade genética está espalhada de forma complexa, sem fronteiras claras entre grupos.

Wojcik exemplifica ainda com a hemoglobinopatia, uma doença genética que afeta a hemoglobina. A prevalência da condição varia significativamente de acordo com a região: em certas áreas da Índia, supera 8%, enquanto na China está abaixo de 3%. Agrupar todos esses casos sob o rótulo genérico de “asiáticos” é, segundo ela, um equívoco que compromete a eficácia da ciência médica e perpetua desigualdades.

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Last Update: 01/05/2025