A crise política e militar no Estado sionista de “Israel” atingiu um novo patamar nesta semana, com o anúncio de que o Exército da ocupação enviará, ainda este mês, 54 mil ordens de alistamento a estudantes judeus ultraortodoxos. A decisão, imposta por determinação da Suprema Corte, encerra décadas de isenção concedida a esse setor da população, tradicionalmente contrário ao serviço militar.

A medida revela o desgaste do regime sionista, pressionado por derrotas sucessivas diante da resistência palestina na Faixa de Gaza, pela escalada de ataques fracassados contra o Irã e pela intensificação dos combates no sul do Líbano e no Iêmen. Com as forças armadas sobrecarregadas, o Estado artificial busca ampliar seu efetivo, colocando em choque setores religiosos até então protegidos da política de guerra permanente.

Desde a fundação do regime sionista, estudantes de escolas religiosas (yeshivas) contavam com o privilégio da não convocação, sob o pretexto de preservação da vida religiosa. Hoje, porém, os ultraortodoxos já representam cerca de 13% da população total, o que transformou a exceção em um fator de disputa interna.

A imposição judicial ocorre em momento delicado para o primeiro-ministro Benjamin Netaniahu. Sob ameaça de colapso de sua coalizão, ele adiou em mais de três horas sua viagem a Washington no domingo (30), pressionado pelas principais lideranças do bloco ultraortodoxo. Segundo o Canal 12 de “Israel”, esses setores exigem o avanço imediato de uma nova legislação que reestabeleça a isenção do serviço militar, sob pena de derrubar o governo.

De acordo com o jornal Israel Hayom, o deputado Yuli Edelstein, do partido Likud, apresentou uma minuta de projeto de lei aos representantes do partido Shas, tentando encontrar uma “solução de compromisso” para manter a aliança com os ultraortodoxos. O texto, porém, ainda estaria em revisão e alterações devem ser apresentadas nas próximas 48 horas.

O Exército da ocupação, por sua vez, confirmou que as ordens de convocação serão enviadas ainda neste mês e anunciou que pretende criar unidades específicas para abrigar os conscritos ultraortodoxos, “respeitando suas sensibilidades religiosas”. A proposta inclui a separação entre homens e mulheres e adaptações às normas religiosas.

Apesar das promessas, as principais lideranças religiosas rechaçaram a convocação. Em declarações ao Israel Hayom, um dirigente do partido Degel HaTorah afirmou que “todas as legendas haredi [ultraortodoxas] estão coordenadas” para votar contra o governo, caso a nova lei de isenção não seja aprovada. Já Aryeh Deri, líder do Shas, declarou: “Não há mais escolha. Não gostamos disso, mas precisamos apoiar a dissolução da Knesset”. Para ele, Netaniahu “está zombando de nós” com sua inércia.

Rabino denuncia Estado sionista

Em entrevista exclusiva ao Diário Causa Operária, o rabino Yisroel Weiss, representante da organização judaica anti-sionista Neturei Karta, denunciou as medidas do governo de “Israel” para obrigar judeus ortodoxos a se alistarem no exército. Segundo ele, trata-se de uma tentativa fracassada de forçar religiosos a traírem sua fé. “Isso jamais acontecerá”, afirmou.

Para o rabino, o decreto do regime sionista tem um efeito oposto ao desejado, pois escancara o verdadeiro caráter do Estado de “Israel”: “O fato de que o Estado de ‘Israel’, essa entidade sionista falsa que se diz ‘judaica’, tenha decretado agora a tentativa de forçar os judeus fiéis à Torá a servirem no exército é, de certa maneira, uma bênção, pois revela quem eles são”.

Weiss afirmou que a decisão de impor o alistamento obrigatório mostra que o regime “é uma ditadura” que tenta obrigar fiéis a violarem princípios fundamentais da religião judaica. “Eles querem obrigar fiéis religiosos a participar de um exército que contradiz totalmente sua fé, pois essas pessoas creem — e creem com clareza — que o Estado de ‘Israel’ não tem direito de existir”, declarou.

Durante a entrevista, o rabino recordou episódios históricos de resistência judaica diante de perseguições. “Ao longo de toda a história do regime sionista, os judeus fiéis à religião sempre estiveram dispostos a morrer, mas nunca a se rebelar contra Deus. Assim como nas Cruzadas ou na Inquisição, sempre estivemos prontos a entregar a vida para permanecer fiéis a Deus”, disse.

Segundo Weiss, o Estado de “Israel” já fracassou outras vezes ao tentar forçar judeus religiosos a participarem de seu exército. “Os judeus se manifestaram, foram presos, derramaram seu sangue, mas recusaram-se. Em países que se dizem democráticos, existe a figura do objetor de consciência. Mas é claro que esse Estado não é uma democracia. É uma farsa, uma mentira”, afirmou.

Criticando o uso do termo “ultraortodoxos” pela imprensa sionista, o rabino rechaçou a tentativa de apresentar os judeus opositores como extremistas. “Esse termo é pejorativo. Somos apenas religiosos. Os que apoiam o sionismo e servem nesse exército é que abandonaram a religião. Eles não são religiosos”, apontou.

Para Weiss, a política de alistamento não terá êxito e representa apenas mais uma tentativa de intimidação por parte de um regime decadente. “Essa tentativa de alistamento forçado não terá êxito. Essa política irá fracassar. E nós rezamos todos os dias para que o fim da ocupação aconteça — sem mais derramamento de sangue. Que aconteça hoje mesmo”, concluiu.

O rabino ainda classificou o Estado sionista como “perverso, demoníaco e satânico” e expressou sua confiança de que, com a ajuda de Deus, o fim da ocupação e da opressão contra o povo palestino está próximo.

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Last Update: 08/07/2025