
Uma quadrilha investigada pelo Ministério Público Federal (MPF) foi denunciada por organizar a travessia ilegal de mais de mil brasileiros para os Estados Unidos entre 2019 e 2024. O grupo cobrava cerca de R$ 137 mil por pessoa, valor que incluía passagens, hospedagem, transporte terrestre, propinas e orientações para burlar o controle migratório.
A organização criminosa atuava em Bugre, no interior de Minas Gerais, e era comandada por Eriberto Marcolino de Oliveira, ex-vereador e dono de construtoras, conhecido como Betim. Segundo a Polícia Federal, ele operava com o filho Gabriel Costa de Oliveira e Celimar dos Reis Silva, que cuidavam do financeiro e da logística da rota. O trio foi denunciado por associação criminosa e promoção de migração ilegal, além de envio de menores ao exterior sem autorização legal.
Esquema envolvia propina e orientação para asilo
Os brasileiros eram levados até o México por rotas que passavam por países como Panamá, El Salvador, Colômbia e Guatemala. Ao desembarcar no país, os migrantes recebiam uma senha para entregar às autoridades mexicanas — parte de um acordo de propina que custava US$ 2.500, para evitar deportações. A principal tática usada era o “cai-cai”, quando o migrante se entrega às autoridades pedindo asilo, especialmente eficaz quando há crianças envolvidas.

Durante as investigações da Operação El Paso, a PF encontrou provas do envolvimento direto do grupo, como áudios de WhatsApp detalhando os pagamentos e promessas de reembolso caso a travessia falhasse. Em alguns casos, veículos eram entregues como parte do pagamento e revendidos por meio de procurações falsas. A quadrilha chegou a lucrar R$ 62 milhões com o esquema.
Cultura da migração ilegal resiste no Leste mineiro
O caso reforça a presença histórica da migração ilegal no Leste de Minas Gerais, especialmente em cidades como Governador Valadares, conhecida como “Valadólares”. A tradição de deixar o país em busca do “sonho americano” é tão antiga que remonta aos anos 1940, com a influência de programas de intercâmbio e empresas americanas da indústria mineral. Muitos moradores não veem os coiotes como criminosos, e sim como facilitadores de uma vida melhor.
Eriberto está preso em Ipatinga. Já Celimar e Gabriel respondem em liberdade por não terem papel central na quadrilha. O advogado de defesa dos três afirma que a prisão foi injusta e que a denúncia do MPF não descreve adequadamente os crimes. A Justiça ainda vai decidir se aceita ou rejeita a acusação.