Na última quarta-feira (26), manifestantes do Quênia saíram novamente às ruas e pediram a remoção do presidente Ruto, que pretendia sancionar projeto de lei de impostos sobre bens essenciais que atingiria negativamente a maioria da população. Todo o país está se revoltando contra o projeto, sobre o qual o governo já recuou. Entretanto, a revolta popular continua, visto que o governo continua tentando impor uma política econômica neoliberal.
O governo queniano havia dito que os aumentos eram necessários para pagar dívidas do país em cerca de 10 bilhões de xelins (R$425,4 milhões), que chega a 70% do PIB nacional. Ou seja, eram necessários para satisfazer os interesses dos banqueiros. Na capital do país, Nairóbi, a polícia disparou diversos jatos de gás lacrimogêneo e balas de borracha nas centenas de manifestantes, que continuam nas ruas.
Segundo informações da imprensa local, os manifestantes se dirigiram ao centro da cidade, numa área comercial, mas soldados bloquearam o acesso que leva ao escritório do presidente Ruto e ao Parlamento do país. O número de manifestantes na quinta-feira já foi menor do que nos dias anteriores, quando mais de 20 pessoas foram mortas, segundo relatos.
Segundo a Comissão de Direitos Humanos do Quênia, sem dar muitos detalhes, o órgão recebeu relatos confiáveis do uso de munição viva contra os “civis protestando em todo o país, resultando em algumas mortes”.
Além dos protestos em Nairóbi, manifestantes também fizeram ato em Monbasa, uma cidade portuária, bloqueando estradas e acendendo fogueiras. Em outros locais, como Kisii e Migori, também houve protestos. Em Homa Bay Town, no oeste do país, segundo a Citizen TV, houve sete pessoas feridas com bala disparada pela polícia.
Esses protestos começam na semana passada e pedem enfaticamente a saída de Ruto. Os jovens estão nas ruas em memória dos mortos assassinados nas primeiras manifestações. Um repórter da Al Jazeera, Zein Basravi, informou que “houve um fluxo e refluxo nas ruas na quinta-feira, com surto de tensão entre a polícia e os manifestantes seguidos de relativa calma”.
Os jovens continuam gritando a palavra de ordem “Ruto deve ir, Ruto deve ir”. “Eles querem uma mudança na liderança presidencial e querem que o Parlamento fique ausente do que descrevem como parlamentares corruptos que não têm os seus interesses em mente”, informou Basravi.
Um dos líderes dos protestos, Kasmuel McOure, que é pianista premiado e continuará nas ruas até que o presidente ouça o povo queniano, informou à Al Jazeera que a juventude está muito descontente.
“O Quénia foi declarado um Estado militar. E eu sei que ninguém está falando sobre isso o suficiente. Mas o exército recebeu rédea solta”, disse McOure.
Stephanie Wangari, 24 anos, desempregada, afirmou que “Ruto nunca cumpriu suas promessas […] Estamos cansados. Que ele vá embora”.
Os protestos no Quênia é mais um exemplo de um país africano escravo da receita neoliberal do Fundo Monetário Internacional (FMI), que, para liberar míseros financiamentos, exige reformas fiscais, privatização de valiosas estatais e aumento de impostos que oneram sobretudo a classe operária, que está se levantando contra esses ataques.