A burguesia está descartando Alexandre de Moraes. Isso ficou claro nos primeiros vazamentos sobre o ministro do STF em abril. Ficou escancarado com esses novos vazamentos que são divulgados pela própria Folha de São Paulo, um dos três grandes jornais da imprensa burguesa. No entanto, a estratégia do PT de ter Moraes como a sua principal arma está tornando muito difícil para um grande setor da esquerda compreender que a era Xandão acabou.
No Brasil 247 diversas colunas são escritas em sua defesa. É caso do artigo “É hora de cerrar fileiras em defesa do STF e do ministro Alexandre de Moraes” de Chico Vigilante Deputado pelo Distrito Federal do PT. Ele defende a tese de que o Inquérito das “Fake News”, justamente o processo que teve suas informações vazadas, foi o grande pilar de luta contra o bolsonarismo no País. Este é justamente o problema, por considerar que Xandão é o grande e único escudo contra Bolsonaro, esse setor da esquerda se desespera para sair em sua defesa.
O artigo começa: “uma das decisões mais acertadas do Ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi ter aberto a investigação das Fakes News, aquele que a imprensa chama de Inquérito do Fim do Mundo. Foi ali que começou o combate ao ovo da serpente. Mais ainda, o Brasil teve a sorte de ter o Ministro Alexandre de Moraes escalado para essa função”. O primeiro problema dos petistas que defendem o STF é que eles esquecem totalmente seu histórico recente. Esquecem que Moares votou a favor da prisão de Lula, que Toffoli foi presidente do STF durante a eleição farsa de 2018 quando Lula estava preso e foi impedido de participar.
Se o STF é responsável pela ascensão de Bolsonaro, como ele pode ser o grande órgão anti-fascista? Alexandre de Moraes é uma figura ligada ao golpe de Estado, ao PSDB na época que foi a principal força política na derrubada de Dilma. Foi ministro do governo Temer e depois indicado ao STF pelo presidente golpista. A tese de que ele é um aliado surge da ideia de que se alguém se choca com o bolsonarismo, então é “democrático” por isso bom. É dai também que surge a ideia de apoiar Joe Biden, responsável pelo maior genocídio do século na Faixa de Gaza, o homem que sustenta o governo mais fascista do planeta em “Israel”. A tese dos “democráticos” não se sustenta.
O artigo comenta sobre o 8 de janeiro, que seria o grande perigo para o governo Lula. Ele ignora que desde aquele momento houve gigantescas manifestações bolsonaristas que tiveram um impacto político muito grande a favor da extrema direita. Então argumenta: “a questão é que, agora, alguns setores da grande imprensa, com memória curta e interesses escusos, tentam atacar a honra e a dignidade do Ministro Alexandre de Moraes com a criação de fake news absurda sobre a forma de condução das investigações. A verdade é que o intuito dessa falsa imprensa é desmoralizar os métodos para identificar e combater os golpistas”.
Aqui aparecem dois problemas. O primeiro é a acusação de que a imprensa tem memória curta. Como dito acima, a memória curta é do PT, que acha que os seus maiores inimigos históricos podem ser confiados como grandes aliados. A imprensa burguesa segue a linha política da burguesia, que sabe muito bem o que está fazendo. Eles estão descartando Alexandre de Moraes porque seu momento de ser usado como ferramenta já passou. Isso foi feito com Joaquim Barbosa, foi feito com a Lava Jato e agora com Xandão. É uma política tradicional da direita. Acabou a etapa da perseguição política com o Moraes, agora se entra em uma nova etapa.
Segundo é que os defensores de Moraes querem fazer de tudo para afirmar que ele não cometeu ilegalidades. Qualquer um que leu os vazamentos sabe que não há defesa possível do ministro. Ficou claro que ele agiu como acusador, investigador e juiz contra indivíduos por interesses políticos. Além disso, ele próprio era a última instância, não tendo a quem recorrer. Ou seja, no século XXI, Moraes criou um tribunal medieval, uma Santa Inquisição. Esse setor da esquerda escolhe ignorar isso, pois acredita que essa inquisição estava a seu favor.
Ao tentar desenvolver seu argumento, as contradições ficam aparentes: “esse tipo de imprensa não respeita a democracia. São os mesmos que apoiaram a ditadura militar por anos a fio, enquanto estudantes estavam sendo mortos, políticos perseguidos e pessoas sendo sequestradas e exiladas. Esse setor da imprensa atacava Ulysses Guimarães, Lula e Tancredo Neves, enquanto lutavam nas ruas, defendendo o povo. São exatamente os mesmos que, agora, inventam fake news para atacar o Ministro Alexandre de Moraes”.
De fato, a imprensa não defende a democracia no sentido tradicional da palavra, de dar o máximo de poder possível ao povo. Ela defende a democracia como se utiliza o termo hoje, isto é, o Partido Democrata dos EUA. Mas ele ignora um período importante da história, justamente quando a imprensa estava a favor de Alexandre de Moraes, desde 2016, como ministro de Temer, até 2024, como inquisidor do STF. Ela apoiou Moraes contra Lula e depois apoiou Moraes contra os bolsonaristas do segundo escalão.
A imprensa burguesa não tem princípios, era a maior defensora de Moraes e agora o descarta como lixo. Isso é possível, pois ela é uma organização da classe dominante. A esquerda, pelo contrário, precisa ter princípios, é isso que lhe garante força política. Ser contra a ditadura do STF entre 2016 e 2021 e a favor da mesma ditadura entre 2021 e 2024 é uma derrota para a esquerda, confunde os trabalhadores. Essa política de conveniência funciona para quem tem poder, já para quem depende da consciência dos trabalhadores ela é um enorme entrave, pois ela gera uma enorme confusão nos trabalhadores.
Ele conclui o texto: “há que se ter a imagem real e concreta de quem são os grupos econômicos e as pessoas por trás dessa imprensa que cria e divulga fake news”. Realmente, é preciso denunciar que a imprensa é controlada pelos inimigos dos trabalhadores, pela burguesia. Mas então ele afirma “vamos todos cerrar fileiras em defesa do STF e em defesa do Ministro Alexandre de Moraes, sustentáculo da democracia nesse País”. Se para a imprensa é preciso compreender quem são os grupos econômicos isso também vale para o STF e para todos os seus ministros.
E quem é o grupo político e econômico por detrás de Moraes? O PSDB, de onde ele surgiu, os golpistas de 2016, que o colocaram do STF, as grandes empresas internacionais, os norte-americanos, os banqueiros. Isto é, todos os inimigos mortais da classe trabalhadora. O STF e Xandão podem ser um sustentáculo da democracia no País, a democracia do Partido Democrata dos EUA. O maior exemplo dessa democracia no mundo hoje é a Faixa de Gaza. Outro exemplo mais próximo foi o ano de 2016 no Brasil.